Coreia do Sul. Sexo, drogas e… K-pop

Coreia do Sul. Sexo, drogas e… K-pop


É o fenómeno musical na Coreia do Sul e até além-fronteiras. Mas a par deste sucesso existe um mundo bem mais negro e que foi entretanto descoberto.


As músicas têm milhões de visualizações e os artistas são os ídolos de milhares de pessoas. O K-pop teve origem na década de 90, mas em 2012 começou a ganhar fãs um pouco por todo o mundo. Quem não se recorda do famoso Gangnam Style, o primeiro hit a superar um bilião de visualizações no YouTube? A partir daqui, o estilo musical ganhou cada vez mais poder, principalmente no mercado sul-coreano, mas o sucesso, que chegou ao pico máximo, está a cair e os motivos não são os melhores.

Vejamos o seguinte exemplo e o caso principal de toda esta queda: Lee Seung-hyun – cujo nome artístico é Seungri – é um cantor e produtor musical sul-coreano que é o alvo principal de uma petição que pede a um juiz que lhe negue o benefício da liberdade condicional. Porquê? Tudo remonta ao início deste ano, quando um homem fez uma denúncia por ter sido agredido na discoteca Burning Sun, da qual o ex-líder da banda Big Bang era sócio. A polícia investigou e chegou a uma conclusão bem mais negra do que uma simples agressão, e o local foi encerrado por narcotráfico.

Um mês depois foi divulgada publicamente uma conversa entre Seungri e o sócio onde era explícito que os dois contratavam prostitutas. O problema é ainda maior uma vez que a prostituição é proibida por lei na Coreia do Sul.

A investigação continua com a jornalista local Kang Kyung Yoon a descobrir a existência de um grupo online onde estavam presentes vários nomes conhecidos da cultura K-pop como Jung Joon-young, vocalista do Drug Restaurant, e Choi Jong-hoon, da banda FT Island. Seungri fazia também parte do grupo. Nele partilhavam vários vídeos de conteúdo sexual gravados sem autorização. Muitos deles mostravam violações.

O caso, que foi o pontapé de partida para todo este escândalo que abalou o mundo da música sul-coreana, ficou conhecido como “Great Gatsby” pelo estilo de vida luxuoso que levam os artistas que fazem parte dele.

No meio de todo este escândalo, que ainda está a ser investigado, Seungri viu-se obrigado a anunciar nas redes sociais o cancelamento dos concertos agendados, bem como a sua saída desta indústria musical. “Decidi aposentar-me da indústria do entretenimento, já que os problemas com os quais causei distúrbio social são muito grandes”, refere.

O caso foi ainda mais longe na passada sexta-feira com Yang Hyun-suk, fundador da sul-coreana YG Entertainment, que agencia alguns dos maiores nomes do K-pop, a renunciar ao cargo de produtor-chefe no âmbito dos escândalos de drogas e sexo que envolvem os seus artistas.

“Escândalo não é um incidente isolado” O caso chocou os sul-coreanos e, para Seungsook Moon, professora de Sociologia no Vassar College, não é único. “É importante perceber que este escândalo não é composto apenas por um incidente isolado. É a pequena parte visível de um grande iceberg que envolve a indústria do entretenimento, com a participação de líderes políticos e empresariais”, disse, citada pelo El País.

“O facto de um caso como este ter vindo à tona e se ter transformado num assunto tão polémico e visível tem muito a ver com as mudanças sociais em curso na Coreia do Sul”, destacou ainda a professora, que refere também que “a Coreia esteve sob um regime militar oficialmente até 1988 e, na prática, até 1992. O movimento feminista aqui sempre esteve vinculado ao impulso democratizante, motivo pelo qual os movimentos e as organizações feministas têm muito mais visibilidade e influência social e política que noutros países asiáticos”.

Confissão Em março deste ano, Jung Joon-young, um dos mais bem-sucedidos músicos do K-pop associados a este escândalo, assumiu a culpa numa carta pública sobre os vídeos de cariz sexual. “Em relação ao que está a ser dito sobre mim, admito todos os meus crimes. Eu filmava mulheres sem o consentimento delas e partilhava num chat, e enquanto fazia isso não senti culpa. Como figura pública, era um ato antiético digno de crítica e uma atitude muito imatura”, disse, pedindo ainda desculpas tanto aos fãs como às mulheres visadas. E anunciou o seu desaparecimento da indústria: “Retiro-me de todos os programas em que aparecia e suspendo todas as atividades na indústria do entretenimento”.

Entretanto, uma mulher, identificada pela imprensa internacional como “A”, foi a tribunal testemunhar a violação de que foi alvo, acusando Jung Joon-young, Choi Jong Hoon e outros três membros do grupo que trocava mensagens de cariz sexual. Afirma ter sido drogada, uma vez que, quando acordou no dia seguinte, estava nua, na presença dos alegados agressores, e diz não se lembrar de nada.

Entretanto, já várias mulheres e movimentos feministas se fizeram ouvir recentemente para evitar este tipo de casos. As manifestações, que também se estenderam às redes sociais, vão muito ao encontro do movimento #MeToo, criado nos Estados Unidos para dar voz às mulheres vítimas de abusos ou agressões sexuais.

O corpo perfeito? Neste mundo, as mulheres são vistas com bonecas. De acordo com a Rolling Stone, são exigidos certos traços físicos a quem quer singrar como cantora na indústria K-pop. É obrigatório que sejam magras, que tenham narizes finos, olhos amendoados e pernas longas – tudo características que nada têm a ver com a maioria da população sul-coreana.

Mas também existem regras para os homens: têm de ter abdominais definidos, cabelo sedoso e um corpo bem trabalhado, mas sem exageros.

Para tentarem a sua sorte neste mundo, muitos jovens submetem-se a cirurgias plásticas. Aliás, de acordo com a mesma publicação, 2% da população da Coreia do Sul já recorreu a este tipo de operações.