Banca. Novos líderes dão a volta e puxam por lucros no setor

Banca. Novos líderes dão a volta e puxam por lucros no setor


Só no primeiro trimestre, os quatro maiores bancos lucraram 466,3 milhões. Para trás ficam as ajudas financeiras de quase 24 mil milhões.


O sistema financeiro parece agora suspirar de alívio. E os números falam por si: os quatro maiores bancos a operarem no mercado português – BCP, BPI, Santander Totta e Caixa Geral de Depósitos – lucraram 466,3 milhões nos três primeiros meses do ano. Dividindo este resultado pelos 90 dias dá um lucro diário de quase 5,2 milhões de euros por dia. A contribuir para estes resultados estiveram, mais uma vez, os aumentos das comissões e as reduções de estruturas, tanto em termos de balcões como de trabalhadores. A contrariar esta tendência continua o Novo Banco depois de ter apresentado prejuízos de 1.412 milhões de euros no ano passado, ainda assim, representa uma melhoria de 38,5% face ao prejuízo de 2.298 milhões de euros no ano anterior.

Mas as alterações não ficam por aqui. A maioria dos bancos também apresenta lideranças novas e com ela estratégias distintas (ver pág. 5). O objetivo é simples: engordar os resultados.

No entanto, a fatura que os portugueses pagaram para salvar a banca foi elevada. Nos últimos dez anos as operações de capitalização dos bancos pesaram 23,7 mil milhões de euros. “Para termos a noção deste número, foram 23 pontes Vasco da Gama”, chegou a referir ao i Pedro Amorim, analista da XTB.

A própria estratégia da banca para alcançar estes resultados é criticada pelo economista. “Quando os bancos têm lucros distribuem dividendos, quando têm prejuízos é o Estado que resolve”.

Ajudas recorde Foi em 2017 que se assistiu a uma das maiores sobrecargas de ajudas ao setor com a operação de recapitalização da Caixa Geral de Depósitos (CGD). A necessidade de financiamento “extraordinária” do banco público fixou-se nos 5709,4 milhões de euros, o que conduziu a uma subida do défice de 0,92% para 3%.

Este montante tinha sido apenas superado quando se deu a falência do Banco Espírito Santo (BES) em 2014, considerado, até aí, o pior ano no que diz respeito às ajudas dos contribuintes para o sistema financeiro. Nessa altura, as ajudas superaram 5,1 mil milhões de euros e o défice orçamental do ano disparou para 7,2% do PIB.

O terceiro ano em que os portugueses foram chamados para pagar mais à banca foi em 2010, quando o Estado decidiu intervir no Banco Português de Negócios (BPN) com 1,8 mil milhões de euros.

Consolidação A verdade é que após as ajudas ao sistema financeiro, o setor caminhou a passos largos para movimentos de consolidação financeira. Mas também aí surgem vozes críticas que apontam para o risco dos bancos que operam no mercado nacional estarem, na sua maioria, detidos por mãos espanholas. Um cenário que tem ganho maior revelo com as recentes aquisições do Banif, do BPI e do Barclays que pesam mais 40% do sistema financeiro.

Aliás, estes riscos de concentração do sistema financeiro por parte do país vizinho mereceram uma chamada de atenção de várias personalidades portuguesas. Em 2016 surgiu um manifesto contra o domínio espanhol da banca portuguesa organizado por um grupo de 50 personalidades, entre empresários, banqueiros e economistas, liderado por Alexandre Patrício Gouveia.

Velhos rostos

Carlos Costa, Governador do Banco de Portugal​ Carlos Costa foi nomeado governador do Banco de Portugal (BdP) em 2010 e reconduzido em 2015.  À frente do regulador lidou com os efeitos da nacionalização do BPN, esteve na tomada de medidas de resolução do BES e do Banif. Já em fevereiro deste ano, a Assembleia da República travou o projeto de resolução do BE que propunha a sua exoneração. A iniciativa dos bloquistas surgiu depois de Carlos Costa ter pedido escusa nas decisões sobre a auditoria da EY a 15 anos de gestão da Caixa Geral de Depósitos, onde foi administrador entre 2004 e 2006.

Ricardo Salgado, Ex-presidente do BES Ricardo Salgado esteve à frente do Banco Espírito Santo (BES) desde 1991 e saiu da liderança da instituição financeira em julho de 2014 por exigência de Banco de Portugal (BdP), abandonando mais cedo o seu mandato que terminava no ano seguinte. Após a sua saída, a instituição financeira foi alvo de um projeto de resolução depois de ter apresentado prejuízos de 1412 milhões de euros. Nasceu em agosto de 2014 o Novo Banco, que mais tarde foi vendido à Lone Star que passou a deter 75% do banco. Os restantes 25% continuam a estar nas mãos do Estado.     

Santos Ferreira, Ex-presidente da CGD e do BCP Carlos Santos Ferreira assumiu a liderança do BCP em 2008 e manteve-se até 2012. O responsável vai para o banco privado depois de se ter assistido a uma verdadeira guerra de poder, vindo diretamente da Caixa Geral de Depósitos, onde foi presidente entre 2005 e 2008. A sua carreira teve também uma vertente política. Integrou a secretaria de Estado da Segurança Social e foi deputado do PS à AR entre 1976 e 79. Chegou a ser conselheiro pessoal do primeiro-ministro, na altura em que António Guterres estava à frente dos destinos do país.

Faria de Oliveira, Ex-presidente da CGD O atual presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB) presidiu ao destinos da Caixa Geral de Depósitos entre 2008 e 2010. Antes disso, tinha sido presidente da instituição financeira em Espanha e enquanto militante do PSD, ocupou diversos cargos de topo no partido, no Conselho Nacional. O ponto alto da sua carreira política deu-se entre 1990 e 1995, enquanto ministro do Comércio e do Turismo dos XI e XII governos, de Cavaco Silva.

 

Novos rostos

Elisa Ferreira, Vice-presidente do Banco de Portugal Elisa Ferreira ocupa atualmente o cargo de vice-presidente do Banco de Portugal. A sua nomeação ocorreu em setembro de 2017, mas no ano anterior tinha sido nomeada administradora do órgão de supervisão. Ligada ao PS, passou ainda  pelo Parlamento Europeu (2004-2016) integrando ao longo de todo o período a Comissão dos Assuntos Económicos e Monetários – na qual foi, na maior parte do tempo, a coordenadora (porta-voz) do grupo parlamentar dos Socialistas e Democratas. Foi também deputada durante vários mandatos. 

António Ramalho, Presidente do Novo Banco Desde 2016 que António Ramalho assumiu a liderança do Novo Banco e é com ele à frente da instituição financeira que se assiste a novas injeções de capital, depois de ter apresentado um prejuízo de 1412 milhões de euros em 2018. Ainda assim, uma melhoria de 38,5% face ao prejuízo de 2.298 milhões de euros no ano anterior. A sua missão é ir recuperando aos poucos a confiança do mercado e manter a estratégia do antigo BES: ser um banco de referência do tecido empresarial. Apesar do seu percurso estar relacionado com a banca sem dúvida que a sua passagem pela CP marcou fortemente a sua carreira profissional.

Paulo Macedo, Presidente da CGD Paulo Macedo foi liderar a Caixa Geral de Depósitos em fevereiro de 2017, depois de António Domingues ter batido com a porta por causa da polémica em torno da entrega de declaração de rendimentos. A sua liderança ficou marcada pelo regresso aos lucros por parte do banco público. A par dos cargos públicos que o ocupou – o mais mediático foi o cargo de ministro da Saúde durante o Governo de Passos Coelho – foi também vice-presidente do conselho de administração executivo do BCP, tendo, entre abril e junho de 2011, chegando a assumir o cargo de vice-presidente (não executivo) de diversas empresas do grupo BCP. 

Miguel Maya, Presidente do BCP Miguel Maya passou a presidente do BCP no ano passado com a saída de Nuno Amado para charmain, mas assumiu vários cargos na instituição financeira durante mais de 20 anos. Maya chegou a ser chefe de gabinete do presidente do conselho de administração executivo do BCP, então liderado por Filipe Pinhal, mas quando Carlos Santos Ferreira entra no BCP é convidado para se manter em funções, cargo esse que aceitou. O gestor assumiu, mais tarde, o cargo de administrador do BCP, substituindo Armando Vara depois de este ter sido afastado por causa do processo Face Oculta.