A questão da redundância em redes de comunicações móveis

A questão da redundância em redes de comunicações móveis


Uma rede de telecomunicações possui nós que comunicam entre si através de ligações que podem ser feitas por várias tecnologias.


O SIRESP continua na ordem do dia, envolvendo aspetos económicos (políticos) e técnicos, entre outros. Um dos aspetos que têm sido abordados é o da redundância das ligações, que algumas vezes o tem sido de uma maneira confusa e incorreta. Proponho-me então esclarecê-lo.

Uma rede de telecomunicações possui nós que comunicam entre si através de ligações que podem ser feitas por várias tecnologias. Qualquer rede de telecomunicações deve ter algum grau de redundância, ou seja, possuir várias ligações distintas, paralelas, entre pares de nós da rede, de modo a que estes nós possam ainda comunicar entre si quando uma dessas ligações se perde, sendo então a comunicação assegurada por uma das outras ligações. No caso das redes de comunicações móveis, os nós fundamentais são as estações base (vulgarmente designadas por antenas), espalhadas por todo o território, que asseguram a comunicação com os telemóveis, e os comutadores, localizados em certos pontos do território, que efetuam todo o processamento da informação e das comunicações.

As tecnologias para fazer a ligação entre um par de nós podem ser essencialmente três: fibra ótica, que pode ser enterrada no solo ou sustentada por postes ao longo do percurso; feixe rádio, com antenas apropriadas para fazer a ligação direta entre si; satélite, em que os nós comunicam entre si através de ligação a um satélite, com antenas específicas. Estas três tecnologias apresentam–se muito diferentes entre si dos pontos de vista técnico e económico.

Relativamente ao primeiro, a cobertura (distância máxima entre nós) varia substancialmente entre elas, desde as dezenas de quilómetros para os feixes rádio até aos milhares de quilómetros para os satélites; também a capacidade (quantidade de comunicações simultâneas na ligação) apresenta diferenças significativas, com um valor baixo nos satélites e muito elevado nas fibras óticas. Quanto ao segundo, as diferenças essenciais são entre os custos de investimento e operacionais: os primeiros têm em comum a todas as tecnologias a aquisição dos equipamentos terminais (que, não sendo iguais entre tecnologias, não diferem substancialmente), mas diferem bastante entre as fibras óticas, por um lado, e os feixes rádio ou os satélites, por outro lado, por as primeiras terem um custo de instalação por quilómetro de milhares de euros que os segundos não possuem; os segundos também se diferenciam bastante entre os satélites, por um lado (muito elevado, devido ao aluguer de canais aos detentores do sistema), e as fibras óticas e os feixes rádio, por outro lado (razoavelmente baixo, basicamente apenas para a manutenção). Resulta, assim, que a escolha da tecnologia para fazer a redundância depende de um misto de parâmetros técnicos e económicos.

Nas redes de comunicações móveis comerciais (as que usamos com os nossos telemóveis), normalmente, só existe redundância entre os comutadores. A ligação entre uma estação base e um comutador é estabelecida através de uma única ligação, por não ser necessário usar redundância para respeitar os parâmetros de qualidade da rede; usa-se fibra ótica ou feixe rádio, por estes serem suficientes para assegurar o tráfego na rede e por os satélites serem demasiado caros e desnecessários.

Nas redes de comunicações móveis de emergência e segurança (o SIRESP é uma delas), além da redundância entre os comutadores deverá existir também redundância nas ligações entre estações base e comutadores, para permitir as comunicações dos terminais com a rede em situações extremas, como as que se verificaram nos incêndios de há dois anos. À partida, as tecnologias a usar para estas redundâncias devem ser as mesmas que as das redes comerciais, por motivos idênticos, acrescidos de estas últimas transportarem um tráfego de dados incomparavelmente superior ao que é suportado pelo SIRESP.

Espero ter contribuído com este artigo para que o leitor possa perceber melhor algumas das notícias que têm sido dadas sobre o SIRESP.

 

Professor de Comunicações Móveis, Instituto Superior Técnico