Nas últimas semanas, muitas linhas se escreveram sobre a política nacional. Em concreto, sobre o porquê da decadência eleitoral da nossa direita. Fizeram-se conjeturas, apontaram-se dedos aos dirigentes, traçaram-se estratégias, discutiram-se linhas ideológicas, contaram-se sondagens e transposições eleitorais das europeias para as legislativas. Com tanta gente boa a pensar o tema, é incrível que as pessoas continuem a preferir os partidos de esquerda.
Ou não.
Eu próprio dei comigo a traçar conjeturas, a tentar perceber como será o day after nos partidos de direita a seguir às legislativas caso venha, como esperado, a confirmar-se o mais que anunciado desaire eleitoral. Há rostos que se posicionam no PSD e no CDS, há boatos de que Costa poderá fugir para a Europa, suposições de que o PAN poderá substituir o PCP e o BE na geringonça e espingardas a ser contadas um pouco por todo o lado. Até no PS já se discute quem estará mais bem posicionado para substituir António Costa, caso opte mesmo por sair para a Europa, ou caso a próxima legislatura caia em desgraça.
Todos estas movimentações, especulações e suposições têm uma única consequência, e é bom que os jornalistas e comentadores políticos estejam bem cientes desse facto: tudo isto leva a um ainda maior afastamento dos cidadãos da vida política nacional.
O cidadão não quer saber da Assunção Cristas, dos conservadores e dos liberais do CDS. O cidadão não está interessado se Rio é mais à esquerda do que Passos, se este último irá voltar e se há três ou quatro ou cinco nomes que se posicionam para disputar a liderança do PSD. O cidadão está pouco ou nada interessado em saber se existirão um ou dois novos partidos de direita na Assembleia da República. Na verdade, o cidadão não quer mesmo saber o que é a direita ou a esquerda.
Os cidadãos são pessoas e as pessoas o que querem saber é se a sua vida ficará melhor ou se, pelo menos, não irá piorar nos próximos tempos. Querem saber se poderão fazer férias, andar na rua em segurança, jantar uma ou duas vezes fora de casa por semana, se terão escolas de qualidade para os filhos, hospitais decentes, transportes e vias públicas que funcionem e um salário que lhes permita dar uma qualidade de vida, a si e aos seus filhos, melhor do que aquela que tiveram quando eram crianças.
Houve um momento, não sei bem quando, que a direita caiu na maior armadilha da sua história: fechar-se sobre si própria a debater política e deixar a esquerda ficar com o monopólio do discurso em torno das preocupações das pessoas. Foi isso e nenhum protagonista, direção partidária ou comité que criou o desaire eleitoral da direita. Por isso mesmo, urge que a mesma volte às ideias e às propostas – peça desculpa aos eleitores, esqueça o acessório e se foque no essencial: as pessoas.
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