Relação entre socialistas e liberais divide PS

Relação entre socialistas e liberais divide PS


No mesmo dia em que Costa visita Macron e fala em coligação, Pedro Nuno Santos defende um plano europeu com separação clara entre socialistas e liberais.  


A visita de António Costa ao Presidente francês, Emmanuel Macron, marcou ontem o nono dia das europeias, revelando que há dois discursos distintos no PS sobre as relações entre o liberalismo e o socialismo e levou o cabeça-de-lista socialista, Pedro Marques, a tecer as primeiras críticas, desde o arranque da campanha, aos partidos da geringonça.  

Por um lado, o dirigente do partido Pedro Nuno Santos – potencial candidato à sucessão de António Costa aos comandos do PS – defende que, no plano Europeu, os socialistas devem assumir com clareza uma separação com os liberais. As críticas do ministro e ex-líder da JS, conotado à ala esquerda do partido, foram feitas em jeito de recado a António Costa que a menos de uma semana da ida às urnas foi a Paris para visitar o Presidente francês, Emmanuel Macron, liberal. Durante a visita Costa e Macron salientaram uma “coligação de progresso e futuro” para combater as forças políticas de extrema-direita. 

Mas, numa iniciativa da campanha de Pedro Marques, em Aveiro, Pedro Nuno Santos, defendeu o afastamento e de coligações e de acordos entre socialistas e conservadores, frisando que em democracia é necessária uma “tensão permanente” entre as forças políticas. “Temos de nos bater contra quem quer impor uma resposta liberal, que não diminuirá o populismo, mas, pelo contrário, aumentará a insegurança, a incerteza e o medo, dos quais se alimenta o extremismo de direita”, frisou Pedro Nuno Santos. O ex-líder da JS apelou ainda ao PS que faça uma reflexão sobre o “que ganhou o movimento socialista europeu com uma aproximação ao centro, com uma adesão ao liberalismo, com uma indiferenciação face ao centro direita”. 

Mas Pedro Marques defendeum plano europeu com um futuro e um caminho diferente do de Pedro Nuno Santos. O discurso do cabeça-de-lista dos socialistas está alinhado com o de António Costa ao defender que para combater as forças políticas de extrema-direita deve ser criada uma coligação onde devem estar incluídos socialistas, conservadores e liberais. “Temos de construir uma coligação de europeístas contra a extrema-direita, contra nacionalistas, contra a xenofobia. essa coligação pode incluir gente da minha família política, gente da família conservadora, gente da família liberal”, disse ontem Pedro Marques durante uma ação de campanha no Montijo, sua cidade natal. Para o candidato socialista, esta é, aliás, uma coligação que iria trazer “progresso” para a Europa sendo este o caminho a seguir enaltecendo a ação do primeiro-ministro grego Alexis Tsipras ao mesmo tempo que elogia o liberal Emmanuel Macron. 

BE quer clarificação

Perante a divisão no discurso dos socialistas, a cabeça-de-lista do Bloco de Esquerda, Marisa Matias, desafiou o líder do PS, António Costa a “clarificar qual o caminho que quer seguir”, sendo que os bloquistas concordam com a posição de Pedro Nuno Santos, defendendo também uma divisão entre socialistas e liberais.

Também o candidato social-democrata, Paulo Rangel, aproveitou para acusar o secretário-geral do PS de ter “dois amores  que em nada são iguais”, lembrando que em Portugal António Costa faz alianças com os partidos da esquerda, BE e PCP, e que em Bruxelas procura coligações com partidos liberais.

Em resposta às críticas, pela primeira vez desde que arrancou a campanha, Pedro Marques apontou o dedo diretamente ao BE e ao PCP para frisar que  a sua coligação “é sempre com a Europa” que “não se pode fechar e o euro tem de avançar”. Pedro Marques lembrou que tanto os bloquistas como os comunistas defendem que se “rasguem os compromissos” com Bruxelas e que Portugal saia do euro, o que iria resultar na “desvalorização das pensões, dos salários e dos depósitos bancários”, critiou o cabeça-de-lista socialista.