Venezuela. Secretas cercaram Assembleia Nacional

Venezuela. Secretas cercaram Assembleia Nacional


A SEBIN cercou o edifício depois de um alegado alerta de engenho explosivo. Deputados da oposição acusam Maduro de “perseguição”


A SEBIN, os serviços secretos venezuelanos, cercaram ontem a Assembleia Nacional venezuelana, em Caracas, após um alerta de engenho explosivo no edifício – narrativa contestada pelos deputados da oposição, liderada por Juan Guaidó, que acusam o Governo de Nicolás Maduro de os perseguir. “Funcionários do SEBIN, com a desculpa de que há um artefacto explosivo dentro das instalações, tomaram o Palácio Federal”, denunciou a deputada Manuela Bolívar à AFP.

Os deputados foram proibidos de entrar nas instalações do Parlamento e a polícia implementou um cordão de segurança à volta do edifício. Uma das divisões que terão sido alvo de buscas pelos agentes da SEBIN foi o gabinete do presidente da Assembleia Nacional e autoproclamado Presidente, Juan Guaidó, bem como o da vice-presidência. “Tentam sequestrar o Poder Legislativo enquanto o ditador [Nicolás Maduro] se entrincheira sozinho num palácio no qual não deve estar, suspeitando de todos à sua volta”, escreveu Guaidó no Twitter, referindo-se às alegações de que Maduro estava a preparar-se para fugir do país há umas semanas, sendo apenas dissuadido pela Rússia. “Acha que o poder está nos edifícios, nas gavetas, num molho de chaves”, criticou.

Recorde-se que a Assembleia Nacional e a Assembleia Nacional Constituinte vivem uma realidade de dualidade de poderes. Democraticamente eleita em 2015, a Assembleia Nacional passou a ser dominada pela oposição, com o Supremo Tribunal venezuelano a retirar-lhe o poder legislativo em 2017. Em alternativa, uma Assembleia Nacional Constituinte foi criada, responsável pela elaboração de uma nova Constituição. Os deputados da oposição recusaram-se a participar nas eleições para o órgão legislativo, passando este a ser controlado por partidários de Maduro.

Os deputados defendem tratar-se de “perseguição política” por a Assembleia Nacional ter ontem agendado um debate sobre a alegada perseguição a dez deputados, que viram a imunidade parlamentar ser-lhes retirada pelo regime por terem participado na mais recente tentativa de golpe de Estado. Além disso, e no mesmo dia, Guaidó enviou uma carta aos ministros dos Negócios Estrangeiros europeus e à chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, pedindo-lhes ajuda para afastar Maduro do poder. É um ato que, segundo a lei fundamental venezuelana, constitui traição.

Há poucos dias, o autoproclamado Presidente pediu, através de um representante em Washington, EUA, uma reunião aos militares norte-americanos para se debater “planeamento estratégico e operacional” na luta contra o regime fundado por Hugo Chávez.

Nos últimos meses, principalmente depois do falhanço da ajuda humanitária e da mais recente tentativa de golpe de Estado, a oposição ficou sem estratégia e rumo a seguir, dependendo do apoio externo.