Tensão Washington-Teerão adensa-se com envio de porta-aviões

Tensão Washington-Teerão adensa-se com envio de porta-aviões


O conselheiro de segurança nacional dos EUA John Bolton avisou que Washington está preparada para responder a quaisquer ataques.


A tensão entre os Estados Unidos e o Irão voltou a aumentar no domingo com o envio do porta-aviões USS Abraham Lincoln e bombardeiros para o Médio Oriente. O anúncio foi feito pelo conselheiro de segurança nacional dos EUA John Bolton, que caracterizou a decisão como resposta a preocupantes “indicações e avisos” de Teerão, dando a entender estar à espera de um ataque.

“Os Estados Unidos não procuram a guerra com o regime iraniano, mas estamos totalmente preparados para responder a qualquer ataque, seja por procuração ou com o Corpo dos Guardas Revolucionários ou com forças regulares iranianas”, disse Bolton, conhecido por ser um dos principais elementos da linha dura contra o Irão da administração Trump. Bolton foi um dos grandes defensores de Washington abandonar o acordo nuclear com Teerão, assinado em 2015 sob a presidência de Barack Obama e encarado como um sucesso pelas principais potências mundiais.

Pouco depois de Bolton, foi a vez de o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, reiterar o aviso. Acusou o Irão de aumentar a tensão por meio de ações e avisou que, se “essas ações acontecerem, se o fizer por meio de procuração, um grupo de milícia, o Hezbollah, responsabilizaremos diretamente a liderança iraniana”.

Por sua vez, Teerão respondeu pela iraniana Press TV que o “destacamento parece ser um ‘agendamento regular’ da marinha norte-americana” e que Bolton apenas quis dar-lhe uma importância que não tem. Tudo indica que a administração Trump terá feito o anúncio em resposta à reivindicação iraniana de estar a “vigiar de perto navios de guerra norte-americanos em águas do golfo Pérsico, a sul do Irão”.

Desde sempre que os representantes iranianos fazem violentas declarações contra os Estados Unidos, que se tornaram comuns. Nos últimos tempos, Teerão tem optado ora por uma retórica de ameaças, ora por promessas de paz, à semelhança dos Estados Unidos. “Se os EUA tomarem medidas insanas para tentarem impedir-nos de o fazer [vender petróleo], então devem estar preparados para as consequências”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Mohammad Javad Zarif, no final do mês passado, em referência a novas sanções dos EUA contra o país produtor de petróleo. E, pouco depois, o governante garantiu à Reuters que o “Irão não está à procura de um confronto” com o seu há muito arquirrival, acrescentando temer um qualquer “acidente fabricado” para se criar uma crise.

O destacamento do porta-aviões e dos bombardeiros para o Médio Oriente é a primeira mobilização militar depois de o Parlamento iraniano ter aprovado uma lei que classifica as forças armadas dos EUA como “terroristas”. Foi a retaliação por Washington ter colocado os Guardas Revolucionários na lista de organizações terroristas estrangeiras – a primeira vez que um corpo militar de um país estrangeiro foi incluído na lista.

Além do confronto direto entre Washington e Teerão, o destacamento da frota pode ser integrado num conflito bem mais alargado. No Iémen, os sauditas, aliados dos EUA, não têm sido eficazes contra os houthis, apoiados por Teerão. Na Síria, Bashar al-Assad, também apoiado por Teerão, ganhou a guerra civil contra os rebeldes, apoiados pelos EUA, e a cada dia que passa consolida o território já conquistado. No Iraque, a presença das tropas norte-americanas é contestada e os políticos xiitas, próximos do Irão, lideram as críticas a Washington. Na Faixa de Gaza e Líbano, a Jiad Islâmica e o Hezbollah, respetivamente, mostram vitalidade. E em termos de acordo nuclear, Washington está isolada desde que decidiu abandoná-lo, com os restantes signatários – Rússia, China, Reino Unido, França e Alemanha – a arranjarem novas formas de evitar as sanções norte-americanas.