A chuva bate na janela, o assobio do vento ecoa lá fora e a última coisa que quer fazer é sair de casa para ir comprar jantar. Deitado no sofá, com a manta a cobrir–lhe as pernas, alcança o telemóvel que está pousado na mesa de centro da sala. Abre uma aplicação e, em cerca de meia hora, o jantar bate-lhe à porta. Se num passado não muito distante a oferta era limitada a pizzas, nos últimos anos, o cenário mudou. Agora, a partir dos serviços da Uber Eats e da Glovo é possível pedir, para casa ou para o trabalho, comida de qualquer tipo. E mais, a Glovo permite não só encomendar comida como outros objetos de que o cliente precise.
Através da opção “qualquer coisa”, o utilizador consegue especificar o pedido – que pode ser mesmo tudo o que quiser, desde que seja legal, que a zona geográfica seja coberta pela aplicação e que respeite as medidas e o horário indicado pela aplicação. Contudo, mesmo que o seu pedido não preencha todos os requisitos, Alberto Barsanti, diretor de marketing Ibéria da Glovo, explicou ao i que tentam “sempre dar resposta ao pedido para não deixar o utilizador sem alternativa, por mais excêntricos que possam parecer os pedidos”.
E se pensa que há embaraços na hora de fazer o pedido, engana-se. Ao i, o responsável confessou que a “Glovo já recebeu todo o género de pedidos, desde refeições a preservativos ou fraldas”. E dá vários exemplos: “Glovo, por favor traz-me lubrificante, preservativos e um teste de gravidez”; “Hoje é o aniversário da minha namorada e preciso que lhe comprem um ramo de flores. Quando lhe entregarem preciso que lhe transmitam que gosto muito dela e que o meu coração faz ‘bam bam’. Obrigada, Glovo. Somos uma equipa!”; “Por favor comprem-me 1 quilo de Nutella”; ou “Por favor comprem-me um guia de viagem ao Sri Lanka superurgente. Partimos de viagem esta tarde”.
Segundo o responsável, este tipo de pedidos não cria constrangimentos nos glovers – estafetas da aplicação -, uma vez que “estão preparados para responder às solicitações mais inusitadas”. O objetivo da aplicação não é criar esse tipo de sentimento, mas sim que os utilizadores sintam que a Glovo é “como um aliado” que os ajuda “a desbloquear muitas situações e a facilitar a vida”.
A empresa foi lançada em Lisboa em outubro de 2017 e, no Porto, em março de 2018. Desde então tem conquistado os portugueses e muitos já são utilizadores habituais: “Muitos utilizadores são fãs e recorrem à Glovo com frequência”. A preferência, aos olhos de Alberto Barsanti, deve-se ao facto de a aplicação estar focada em prestar um bom serviço. E isso leva os utilizadores a terem confiança, defende.
“Não só aumentámos o número de pessoas que aderem à aplicação como também conseguimos, felizmente, fidelizar utilizadores que recorrem à Glovo para dar um apoio nas tarefas do dia-a-dia”, revela.
Apesar de a Glovo disponibilizar todo o tipo de serviços, os pedidos de comida continuam a liderar as escolhas dos portugueses. “‘Restaurantes’ é, entre as categorias que disponibilizamos, a de maior êxito, provavelmente porque é uma área com alguma tradição de take-away (…), mas também porque existe uma forte cultura da mesa em Portugal”, explica ao i o responsável. Entre os mais procurados estão também os bens de primeira necessidade, mas a variedade de pedidos é infinita, admite.
Quanto ao fluxo de pedidos, o responsável diz que geralmente é regular, mas existem dias em que os pedidos inundam a aplicação. É o caso das efemérides – como o Dia dos Namorados ou o Dia da Mãe – ou em dias de jogos de futebol. Já as alturas do dia mais agitadas acontecem nos horários das refeições, “sobretudo ao jantar, entre as 20h e as 21h”.
Mais de 100 itens diferentes num só pedido Ao contrário da Glovo, a Uber Eats só faz entregas de comida, mas também já registou alguns pedidos que ficaram na lista dos mais bizarros. Contactada pelo i, fonte oficial da empresa revelou que, o ano passado, a maior encomenda que fizeram “continha 105 itens diferentes”.
Mas as curiosidades não se ficam por aqui. O dia 18 de novembro foi o dia “com mais pedidos de sempre do Uber Eats” em Portugal; “o recorde para o valor mais elevado de uma única encomenda situa-se nos 463 euros, tendo sido feita na capital”; e, imagine-se, a “distância mais curta foi [um pedido feito] a apenas 2,6 metros do restaurante”. Segundo a empresa, “o tempo médio de [entrega de] uma refeição foi de 23 minutos” e o dia mais popular de entrega é o domingo, entre as 20h e 21h.
Se na Glovo há clientes habituais, na Uber Eats também não faltam utilizadores leais. Ainda no ano passado, “o cliente mais leal em Lisboa fez 38 pedidos em apenas uma semana, numa média de cinco pedidos por dia”, revela a mesma fonte ao i, adiantando que, na Invicta, o cliente mais leal “fez 21 pedidos numa semana, uma média de 3 por dia”.
“O que temos aprendido com a nossa experiência internacional e nacional é que existe um público-alvo muito amplo que está interessado na conveniência e rapidez das entregas de comida”, explica fonte oficial da Uber Eats. E a preferência manifesta-se através dos pequenos pormenores, defende. “Os utilizadores valorizam pequenos detalhes, como ter opção de conhecer restaurantes, personalização das suas preferências e não ter um pedido mínimo”, explica.
Em novembro de 2017, a Uber decidiu trazer a Uber Eats para Portugal. Está atualmente presente em 14 cidades portuguesas, entre elas Lisboa e Porto, e tem parceria com mais de mil restaurantes. Contudo, fonte da empresa, quando questionada sobre os restaurantes preferidos dos portugueses, afirmou que “por questões de sensibilidade de negócio” não poderia partilhar esses dados. “Os nossos utilizadores fazem diversos tipos de pedidos: desde pizza numa noite de quinta-feira até brunches numa sexta-feira de manhã ou menus saudáveis para jantares durante a semana, em família”, completou.
Ao i, fonte da Uber Eats confirmou que o crescimento da aplicação tem sido notório: “O serviço de entrega de refeições em Portugal encontra-se mesmo em rápido crescimento – mais de 20% ao ano”. Nas ruas da capital é visível o aumento do movimento de motas e bicicletas com os símbolos verdes e amarelos – um vaivém que chegou para revolucionar o mercado do take-away.