É há muito pedida pelos coletes amarelos e finalmente vai acontecer. A central sindical CGT, considerada a mais à esquerda entre as suas grandes congéneres FO e CFDT, convocou uma greve geral de 24 horas para esta terça-feira, dia 5 de fevereiro, em apoio aos coletes amarelos. Será a primeira grande ação de união entre uma grande central sindical e o movimento responsável pela maior crise política em França desde que o presidente francês, Emmanuel Macron, chegou ao Palácio do Eliseu, há 19 meses.
“Desde finais de 2018 que o movimento chamado coletes amarelos mobiliza a atenção e revela uma confiança renovada na ação coletiva. A multiplicação de mobilizações opõe-se à profunda injustiça social e exige uma distribuição diferente da riqueza criada pelo trabalho”, pode ler-se no comunicado de imprensa da central sindical que convoca a greve. “Quanto mais o tempo passa, mais os patrões e o governo desprezam as exigências, ignorando-as e destruindo as solidariedades, mais elas se avolumam”, continua o documento.
Por sua vez, os coletes amarelos juntaram-se à CGT e, também em comunicado, apelaram “a todos os coletes amarelos no país e a quem se queira juntar que espalhe este apelo em todas as redes sociais e no terreno: barricadas, empresas, universidades, escolas secundárias, instituições públicas. (…) Todos nos perguntamos, no nosso íntimo, se pretendemos continuar a ser cúmplices das medidas de um líder [Macron] que se tornou ilegítimo ao ignorar os interesses do povo e ao ter perdido a visão da essência do seu mandato ou se é tempo de tomarmos finalmente o controlo do nosso destino comum”, lê-se no documento.
Entre as reivindicações da central sindical encontram-se o aumento do salário mínimo em 20%, salário igual para homens e mulheres, impostos mais progressivos e a redução do IVA nos bens essenciais. E ainda o regresso do imposto sobre as grandes fortunas que Macron eliminou e investimento nos serviços públicos. Reivindicações partilhadas pelos coletes amarelos.
A história da aproximação Não é a primeira vez que a CGT sai em apoio dos coletes amarelos, mas nunca o fez de forma tão explícita. Em meados de dezembro do ano passado, a central sindical convocou uma greve de 48 horas nas empresas de fornecimento de energia, bloqueando seis centrais elétricas. Pouco depois, convocou uma greve nacional para os transportes públicos, mas teve pouco impacto. Em Paris, por exemplo, apenas uma parte do metro ficou paralisada.
Em várias partes do país, esta união entre coletes amarelos e vermelhos há muito que acontecia em manifestações. A liderança da CGT viu-se cada vez mais pressionada pelas suas fileiras, decidindo aderir a uma grande ação de protesto. Caso contrário, poderia, eventualmente, sofrer brechas entre a sua organização.
Neste sentido, a convocação da greve geral para esta terça-feira é uma demonstração da mudança de posicionamento de uma das centrais sindicais face aos coletes amarelos, movimento inorgânico e apartidário. Nas primeiras semanas de protestos, as forças de esquerda mantiveram um certo distanciamento por desconfiança. Surgiram acusações de que a extrema-direita, nomeadamente a União Nacional de Marine Le Pen, se tinha conseguido infiltrar no movimento, mas os próprios coletes amarelos foram afastando os elementos desse campo político nas manifestações, registando-se mesmo alguns combates de rua.
“Começou de forma algo confusa. Claro que houve e ainda há algumas pessoas de extrema-direita no movimento, mas acho que são uma pequena minoria”, diz ao i Leonel, engenheiro de 36 anos, que este sábado participou na manifestação.
Nas últimas semanas, a França Insubmissa, de Jean-Luc Mélenchon, e o Noveau Parti Anticapitalist (NPA) aproximaram-se no movimento, juntando-se à convocatória dos coletes amarelos e, agora, ao da CGT. Outra central sindical, mais pequena, a Federação Sindical Unitária da França (FSU, sigla em francês) também se juntou à recente convocatória. Todavia, nem todos os sindicatos aderiram: as duas outras grandes centrais sindicais, a Força Operária e a Confederação Francesa Democrática do Trabalho, mantêm-se à distância. Em parte, por desconfiança para com os coletes amarelos, mas também pelo legado de sectarismo entre as centrais sindicais. Quando uma convoca uma greve geral, as restantes raramente aderem.
“A greve geral não terá efeitos no imediato. Não falhará catastroficamente, algo acontecerá. Macron não vai parar e as pessoas que aqui estão [na marcha dos coletes amarelos de sábado] também não vão parar”, disse Leonel. Sobre a união dos coletes amarelos e vermelhos, o engenheiro considera que é “o passo natural quando há um movimento social de base a fazer pressão” nas ruas.
Espera-se que a união entre coletes amarelos e vermelhos desta terça-feira se faça sentir principalmente fora da capital parisiense, onde a força do movimento mais se tem feito sentir. Haverá uma manifestação em Paris, mas é difícil prever a intensidade da adesão.
Em Paris, os coletes amarelos marcham apenas aos sábados, envolvendo-se em confrontos com a polícia, enquanto no resto do país bloqueiam estradas e realizam assembleias e reuniões durante a semana e aos fins de semana.