Desigualdade 2018. Ricos ficam mais ricos a 2500 milhões de dólares por dia

Desigualdade 2018. Ricos ficam mais ricos a 2500 milhões de dólares por dia


A desigualdade no planeta aumentou a olhos vistos o ano passado, como mostra o relatório da Oxfam, divulgado na véspera de abertura do Fórum Económico Mundial. Os 26 mais ricos do planeta têm tanto dinheiro como os 50% mais pobres


O mundo está cada ano mais desigual e 2018 trouxe números assustadores nesse sentido, como mostram os 900 mil milhões de dólares de fortuna que os mais ricos entre os ricos deste planeta acumularam durante esses 365 dias. De acordo com o relatório da Oxfam International, divulgado ontem, na véspera da abertura do Fórum Económico Mundial, em Davos, na Suíça, as 26 pessoas mais ricas têm hoje tanta riqueza quanto 50% dos mais pobres deste planeta. Isto é, os 26 homens e mulheres cujos rostos ilustram estas páginas possuem o mesmo que 3,8 mil milhões de miseráveis, pobres e remediados.

Uma década depois da crise económica e financeira que afetou o mundo, a ideia de que os ricos é que deviam pagar a crise é uma anedota, ninguém mais do que eles lucrou com as consequências. A ponto de hoje terem mais riqueza do que alguma vez tiveram, ao mesmo tempo que quase metade da população mundial vive com menos de 5,5 dólares por dia ou 4,83 euros.

“O fosso que alargou entre os ricos e os pobres penaliza a luta contra a pobreza, prejudica a economia e alimenta a raiva no mundo”, alerta, em comunicado, a diretora executiva internacional da Oxfam, Winnie Byanyima.
Já se sabe que o dinheiro gera dinheiro, mas o relato de 2018 é quase como se lhes tivesse saído um jackpot regularmente durante o ano. Ou, como explica a Oxfam, todos os dias de 2018, de segunda a domingo, sem descanso nem no dia do senhor (e toda a gente sabe que Jesus Cristo expulsou os vendilhões do templo) a fortuna dos mais ricos acumulou 2500 milhões de dólares por dia.

Também não admira tendo em conta que se acumulam proveitos pagando pouco em matéria fiscal. Os ricos parecem ser bons a livrarem-se de encargos fiscais, pagando muito menos impostos do que realmente deveriam tendo em conta os seus ganhos. De acordo com o estudo agora divulgado, apenas 4% dos impostos recolhidos em 2018 foram pagos pelos ricos. Em alguns países, a situação é tão grave que os 10% mais pobres pagam uma percentagem maior de impostos dos seus rendimentos que os 10% mais ricos.

Uma solução para reverter essa tendência, de acordo com Winnie Byanyima, passaria por taxar os super-ricos para arranjar dinheiro para financiar os serviços públicos e permitir assim o acesso de mais pessoas a uma vida decente.
A consequência dessa falta de contribuição fiscal reflete-se no mau estado dos serviços públicos e na oferta que os Estados podem proporcionar aos seus cidadãos. Sem dinheiro para financiar a saúde e a educação, a vida e a morte, a ignorância e o saber ficam dependentes de se ter ou não dinheiro.

Por exemplo, 262 milhões de crianças no mundo não poderão ir à escola – no Quénia, uma rapariga pobre tem apenas uma hipótese em 250 de estudar para além da escola secundária.

Em matéria de saúde, a situação da desigualdade é tão grande que, muitas vezes, nem sequer é preciso sair da mesma cidade para perceber que existe um planeta para ricos e um planeta para pobres, que funcionam em galáxias completamente diferentes. Na cidade brasileira de São Paulo, a esperança de vida nas zonas mais ricas é de 79 anos, enquanto nas áreas mais pobres não supera  os 54 anos. Viajar na grande metrópole do Brasil é também, pelos vistos, uma viagem no tempo e no espaço, do futuro primeiro mundo para o passado terceiro mundo.

Nos países em desenvolvimento, o filho de um pobre tem 50% mais de probabilidades de morrer antes dos cinco anos, explica o relatório da Oxfam, confederação de 20 organizações e mais de 3000 parceiros que trabalha em mais de 90 países para encontrar soluções para os problemas da pobreza, desigualdade e da injustiça.

 “A nossa economia está avariada. Centenas de milhões de pessoas vivem na pobreza extrema, ao mesmo tempo que grandes recompensas vão para os que estão no topo. Há mais multimilionários do que alguma vez houve e as suas fortunas cresceram a níveis recordes. Ao mesmo tempo, os mais pobres do mundo ficaram ainda mais pobres”, explica a organização. Que dá o exemplo trágico de Pratima, que perdeu os seus filhos gémeos por causa do tempo de espera e dos maus cuidados de saúde que recebeu na clínica pública indiana onde deu à luz. Cuidados médicos de qualidade na Índia estão reservados aos mais abastados; aos outros resta o ditado “o que não te mata torna-te mais forte”.
Pratima, ainda por cima, é mulher, o que se junta à falta de rendimentos, para tornar ainda mais difícil o acesso aos cuidados de saúde. Como explica o relatório da Oxfam, a desigualdade nos cuidados de saúde e na educação é sexista: as raparigas são retiradas da escola antes dos rapazes quando os rendimentos não chegam e são as mulheres quem tem de largar o trabalho para cuidar de familiares doentes quando os serviços de saúde falham.

Anos luz Questões que não afetam as horas de sono dos mais ricos dos ricos, mesmo que alguns deles sejam beneméritos e ajudem a combater as desigualdades no mundo. Homens como Bill Gates ou Warren Buffet estão habituados a contribuir para fazer do mundo um melhor lugar. São americanos como a maioria dos multimilionários desta lista: 15 entre 26.

O número de chineses no topo de montanhas de ouro também tem subido paulatinamente nos últimos anos, fruto do crescimento acelerado da economia chinesa – ainda não acumularam o suficiente para entrar nos dez mais, mas já são seis (dois deles de Hong Kong), sendo o mais rico de todos Ma Huateng, (17), o fundador da Tencent, gigante da internet que tem uma aplicação de mensagens género WhatsApp chamada WeChat com mais de mil milhões de utilizadores. Além de americanos e chineses, entre os 26 afortunados há dois franceses, um espanhol, um indiano e outro mexicano.