Um calendário para 2019 com várias imagens de Benito Mussolini está a ser um sucesso em Itália. Porquê? O crescimento do populismo e da extrema-direita poderá estar por detrás deste fenómeno.
De janeiro a dezembro, o antigo ditador surge em várias poses: de peito à mostra, a dar um murro no ar depois de assinar um pacto de aliança com a Alemanha em 1939 ou a andar por Roma com a indumentária militar, descreve o Guardian.
O jornal britânico afirma que os calendários de Mussolini para o próximo ano – produzidos pela gráfica Gama 3000 e outras três empresas – ‘voam’ das prateleiras num instante. Renato Circi, dono da Gama 3000, revela que são feitos pelo menos 10 calendários destes num ano e que a procura aumentou com o crescimento do populismo.
“O populismo recorda personagens históricas. Já percebemos que há fãs do Mussolini cada vez mais novos”, contou ao Guardian este empresário, que diz não ter vergonha de imprimir um calendário com fotos do ditador italiano: “Nós produzimos calendários que vão desde o Papa Francisco e o Papa Pio à Barbie, porque é isso que o mercado pede. Acontece o mesmo com Mussolini – nós somos uma gráfica que responde às necessidades dos clientes”.
Certo é que este crescimento ganhou força com a subida da extrema-direita ao poder. O vice-primeiro-ministro italiana Matteo Salvini é conhecido por defender ideais nacionalistas, antiglobalização e populistas, principalmente no que diz respeito a temas como a imigração ilegal e o protecionismo económico. Salvini já citou Mussolini várias vezes nos seus discursos oficiais.
E a verdade é que a imagem de Mussolini tem vindo a ser reabilitada ao longo das últimas décadas. O ditador italiano foi responsável por implementar o fascismo, que incide em conceitos como o nacionalismo, o anticomunismo e o corporativismo. Graças a Mussolini, a Itália entrou na Segunda Grande Guerra ao lado da Alemanha e, com a invasão dos aliados, acabou por ser deposto pelo Grande Conselho do Fascismo. Foi detido, mas acabou por ser libertado por forças especiais alemãs. Foi capturado e executado em 1945 por guerrilheiros italianos. Não existem números concretos, mas muitos acreditam que o regime de opressão e censura matou centenas de milhares de italianos.
No início dos anos 90, Silvio Berlusconi tentou reabilitar a imagem do ditador italiano, elogiando os feitos de Mussolini e aliando-se à Aliança Nacional, que surgiu a partir Movimento Social Italiano-Direita Nacional.
Salvini tenta agora fazer a mesma coisa: “Os apoiantes de Salvini não são obrigatoriamente fascistas, mas não aceitam a rejeição do fascismo só por si. Por isso, não acham escandaloso que o seu líder cite Mussolini – para eles, o que interessa é rejeitas a superioridade moral da esquerda que condena o fascismo”, explicou ao Guardian Antonio Scurati, autor do livro M, que conta a ascensão de Mussolini.