Que o mundo do futebol estava a precisar de uma vassourada das grandes, já se sabia há muito tempo. Mesmo muito tempo.
E, pelos vistos, chegou a hora.
Ou não estivessem os chamados três grandes a braços com inquéritos, investigações, acusações judiciais como nunca se viu.
Agora, se ninguém ficou muito surpreendido com a evolução dos acontecimentos nos últimos dias – por serem mais ou menos expetáveis -, a verdade é que há coisas que, passados vários dias, continuam por explicar e perceber.
A primeira delas tem a ver com a detenção de Bruno de Carvalho e do líder da Juve Leo a um domingo ao final da tarde e horas antes do início de um jogo do Sporting em Alvalade.
Se é evidente que o timing escolhido estará diretamente relacionado com a necessidade de efetuar buscas à sede da Juve Leo (a “Casinha”) momentos antes de um jogo (por nela presumivelmente se passar algo diferente do que ocorre num dia sem jogo), já não se percebe por que razão foi a GNR, e não a PJ, a efetuar essas buscas (uma vez que o Ministério Público entende que o ataque à academia de Alcochete configura uma ação ou crime de terrorismo e, assim sendo, a competência seria da Judiciária) e por que motivo Bruno de Carvalho foi detido em simultâneo com o líder da Juve Leo. A explicação, que deve ser simples e facilmente explanável, devia ter sido logo dada pela Procuradoria-Geral da República no momento em que confirmou a existência de “duas detenções” no âmbito do inquérito aos acontecimentos de Alcochete. Para evitar especulações inúteis e defender os próprios agentes da justiça.
Assim, sem qualquer explicação oficial e por quem de direito, persistem as dúvidas e questões que afetam em primeira instância a própria justiça.
A detenção de Bruno de Carvalho e de Mustafá ao final da tarde de domingo para serem ouvidos, efetivamente, apenas três dias depois, com todo o espetáculo mediático montado e horas e horas a fio de emissões televisivas às portas dos postos da GNR e do tribunal, com interrupções das emissões para assistirmos em direto à entrada de advogados, familiares, amigos e pessoas que nada têm a ver com o assunto… não beneficia ninguém.
Nem os visados, nem familiares e amigos – sobretudo aqueles que gostariam de manter a reserva, mas também aqueles que até parecem gostar de sujeitar-se a um protagonismo despropositado. Nem, igualmente, a justiça e seus agentes, que assim se põem a jeito… e sem necessidade alguma.