Incêndios. Movimento de apoio a lesados de outubro responde a Capoulas Santos

Incêndios. Movimento de apoio a lesados de outubro responde a Capoulas Santos


O ministro da Agricultura garante que já foram pagos 82% dos 82 milhões de euros, mas há quem continue sem receber nada


Luís Miguel Brito, produtor e agricultor do concelho de Oliveira do Hospital, perdeu mais de 30 hectares de olival e 70 de floresta, além de casas e pequenos armazéns agrícolas, que arderam. “Sou agricultor, estava tudo limpo, tudo gerido, tudo ordenado”, garantiu ao i. Mesmo assim, viu o seu projeto reprovado com um corte de 66%. “Fui obrigado a pedir reformulação do projeto, porque não podia avançar com um corte dessa ordem. Nove meses depois, ainda não tenho nada. Perdi tudo.” Só em floresta e olival, Luís Miguel Brito teve um prejuízo de cerca de um milhão de euros. E este não é o único caso: existem muitos produtores e agricultores que ou viram os seus projetos recusados, ou ainda não receberam qualquer apoio financeiro.

A última visita de Capoulas Santos, ministro da Agricultura, à cidade de Oliveira do Hospital não foi tranquila. Na passada sexta-feira, no centro de recria da Associação Nacional de Criadores de Ovinos Serra da Estrela, o Movimento Associativo de Apoio às Vítimas dos Incêndios de Midões (MAAVIM), os produtores e os agricultores lesados nos incêndios de outubro de 2017 receberam o ministro com faixas negras, em forma de protesto pela falta de apoios. Um ano depois, a maioria dos afetados ainda não receberam o dinheiro daquilo que lhes foi tirado pelas chamas. Mas Capoulas Santos dedicou o início do seu discurso aos protestos: “Gostaria de manifestar a mais profunda repulsa por quem não tem o mínimo pejo em utilizar a tragédia que vivemos para fins políticos.”

Ontem, numa conferência de imprensa motivada pelas últimas declarações do ministro, Fernando Tavares Pereira, presidente do MAAVIM, acusou o responsável pela pasta da Agricultura de falta de flexibilidade na reabertura das candidaturas para obtenção de apoios. Em causa estão os curtos prazos para submissão dos projetos. “Foram dados oito dias úteis à região para que fizessem os seus projetos, o que é inadmissível”, acrescentando que, “se diz que está tudo pago, têm medo de abrir ou reabrir porquê?” Além dos prazos apertados, é também necessário ter em conta que alguns dos agricultores precisavam de ajuda para preencher os formulários e que outros nem chegaram a ser avisados de tal processo. “Os projetos não estão feitos porque não houve tempo de os fazer, às vezes tem de se fazer alterações. É por isso que nós pedimos a reabertura dos projetos”, diz o presidente do MAAVIM.

No entanto, a dimensão das dificuldades não fica pela falta de tempo. Por exemplo, cada ovelha bordaleira, no início da produção do queijo da serra da Estrela, vale 120 euros e, neste momento, o Estado devolve 65. Se um produtor perdeu 120 mil euros, só lhe são devolvidos 40 mil. A mesma desvalorização acontece com as oliveiras, os castanheiros e o metro quadrado, em relação às casas. Aqui, o porta-voz do MAAVIM, Nuno Tavares Pereira, acrescenta que “o Orçamento do Estado devia ter contemplado mais 100 milhões de euros a fim de fazer face a estas pessoas que tudo perderam”.

Capoulas Santos, em comunicado emitido ontem, garantiu que “estão integralmente pagos” cerca de 82% dos 82 milhões de euros de apoios do Estado aos 25 mil agricultores afetados pelos incêndios. No entanto, o produtor Luís Miguel, que também esteve presente em Coimbra, na conferência de imprensa referiu que ”o sr. ministro diz que estamos a mentir, que já gastou em Oliveira do Hospital oito milhões de euros, mas eu ainda não recebi um único cêntimo. E o meu caso não é o único”