“Houve uma preparação do crime ‘à CSI’” do homicídio de triatleta.

“Houve uma preparação do crime ‘à CSI’” do homicídio de triatleta.


Rosa Grilo é a principal suspeita da morte do marido, Luís. A sua postura perante as câmaras terá sido uma das razões que levou a PJ a seguir esta linha de investigação. Mas o que leva um alegado criminoso a expor-se desta forma? Em muitos casos, trata-se de uma simples ‘tática’ – uma tentativa de…


“Não tenho nada a ver com isso. O Luís faz-me muita falta, faz parte da minha vida desde sempre […] Honestamente, não acredito que alguém lhe tenha feito mal propositadamente ou que tenha sido uma coisa premeditada e não acredito que queiram incriminar-me”. Esta foi uma das frases mais marcantes de Rosa Grilo, mulher do triatleta encontrado morto a 24 de agosto, durante uma entrevista à TVI. Na passada quarta-feira, depois de várias aparições públicas e declarações à imprensa, reforçando o sentimento de perda e a sensação de desespero, Rosa Grilo foi detida por suspeitas de estar envolvida na morte do marido. E o que leva um alegado assassino a confrontar as câmaras? Muitas vezes, a vontade de passar uma sensação de normalidade.

“Este comportamento é recorrente quando o homicida é muito próximo da vítima. A comunicação social quer saber como as pessoas próximas da vítima estão a lidar com a perda. Nesta altura, por norma, a pessoa que cometeu o crime também não pode ficar calada. Ela entende que ficar calada seria uma forma de suspeita – o que tenta fazer é dar o máximo de normalidade ao cenário que se apresenta, fazendo o papel de  vítima secundária”, explicou ao i Carlos Anjos, antigo inspetor da PJ e presidente da Comissão Vitimas de Crimes Violentos.

A Internet também tem um papel importante: “O desaparecimento é exposto primeiro nas redes sociais por amigos. Isto obriga a que, com os amigos a mexerem-se, a própria família se mexa e se exponha. O problema está na articulação do discurso: se uma pessoa não tiver nada a ver com o crime, fala de uma determinada maneira diferente da linguagem utilizada [quando está envolvido no crime] . Para a polícia é importante que o autor do crime  se exponha, isso tem ajudado nas investigações”, acrescenta Carlos Anjos.

O antigo inspetor da PJ explica que a forma como o alegado autor do crime fala pode ajudar  a criar linhas de investigação, mas não dita um veredicto em relação à sua inocência: “Não sou capaz de dizer, observando apenas a linguagem gestual ou verbal de uma pessoa, se ela é culpada ou inocente. Da linguagem tirei elementos que levantaram suspeitas e eu abri mais uma linha de investigação. Depois, esta tem de ser concretizada com outros elementos. No caso da esposa do Luís Grilo, da primeira vez que ela falou ficámos com dúvidas, mas achámos que [o seu discurso] não era normal. As vítimas têm por norma um discurso pouco estruturado. Quando apanhamos uma que tem um discurso completamente estruturado, levanta-nos algumas suspeitas… Mas isso quer dizer que é culpada? Não, quer dizer que nos levantou suspeitas e que temos de investigar”.

“Estamos a viver o tempo do CSI. No caso do Luís Grilo é mais que evidente que houve uma preparação do crime ‘à CSI’. As pessoas acreditam que tudo aquilo que fazem [na série] é verdade e acreditam que não serão apanhadas, pensam que cometeram o crime perfeito e que vão conseguir iludir uma série de pessoas. Quanto maior a confiança do  autor do crime, melhor para a polícia – quanto mais confiantes estamos, mais  erros cometemos”, acrescenta. 

Também Francisco Moita Flores garante que a “pressão da comunicação é incomparavelmente maior do que há uns anos e isso faz toda a diferença”. Ao i, o ex-inspetor da Polícia Judiciária, explica que “há uma enorme pressão para arranjar notícias juntos dos mais próximos e isso faz com que se tenham de criar histórias que justifiquem algumas coisas e que afastem suspeitas”. Ainda assim, para Francisco Moita Flores, este comportamento vê-se mais no caso das mulheres. “Os casos que mais se conhecem têm mulheres como protagonistas, até porque são elas que matam com mais premeditação. Não têm um comportamento tão impulsivo como vemos nos homens. São homicídios organizados e há um impulso para justificar. Pode ser muito arriscado, claro, mas também pode resultar. No caso do Montijo [ver página ao lado], por exemplo, só não resultou porque houve um incêndio e foram medir a área afetada”. Foi nessa altura que foram descobertos os restos mortais da professora. “Se não fosse isso, mais um mês e não haveria provas. Seguia-se a tese de desaparecimento”.

E desengane-se quem possa pensar que as declarações são prestadas por uma questão de adrenalina. “Não é isso. É calculismo. Há uma história para contar e estas pessoas acham mesmo que todos vão acreditar. Não é como nos incêndios, em que o criminoso tem necessidade de estar próximo porque tem prazer em ver o espetáculo que criou. Aqui, não é uma questão de ter prazer com o que se fez. Quer-se é esconder a verdadeira história”, explica Moita Flores.

Já sobre a a possibilidade de estarmos perante pessoas com claros sinais de algum problema, como a psicopatia, o ex-inspetor garante que “não podemos estar sempre a justificar tudo. Não podemos continuar a dizer que as crianças reprovam porque têm problemas. Por que motivo não se diz que algumas reprovam porque são burras? Neste caso, estamos perante assassinos. Ponto. E é preciso não esquecer que está na nossa natureza. Ninguém pode jurar que nunca matará alguém”.

 

Morto com um tiro na cabeça

Luís Grilo, de 50 anos, tinha sido dado como desaparecido no dia 16 de julho. Mais de um mês depois, foi encontrado morto a 140 quilómetros de casa, nu, com um saco de plástico na cabeça, apresentando “sinais extremos de violência”. Os contornos do crime levaram as autoridades a desconfiar da existência de um crime passional. A PJ continua a investigar o caso, mas todos os indícios apontam para o envolvimento de Rosa Grilo e de um oficial de justiça com quem mantinha um caso extraconjugal, que foi também detido na passada quarta-feira.

O i sabe que Luís Grilo foi morto em casa, na noite antes de ter sido dado como desaparecido. O cadáver foi transportado para o local onde foi encontrado ainda antes do amanhecer. Fonte ligada ao processo revelou ao i que o amante de Rosa Grilo não quis prestar declarações e que a viúva do triatleta mostrou ter grandes conhecimentos de informática e eletrónica – as autoridades vão agora apurar se estes conhecimentos poderão ter tido um papel importante na forma como o crime foi perpetrado.

Ontem, em conferência de imprensa, a PJ confirmou que o homicídio de Luís Grilo foi premeditado e terá como motivo “questões financeiras e emocionais”.

O relatório da autópsia revelou que Luís Grilo foi atingido por um disparo de arma de fogo, tendo a bala ficado alojada na cabeça. A arma do crime, uma pistola de 75 mm, está registada em nome do oficial de justiça.

Sobre a possibilidade dos dois detidos terem uma relação extra conjugal, a PJ não confirmou. “É uma relação próxima” que “existe há vários anos”, reforçam.

“Tentámos não nos precipitar” nas conclusões, garantiu a PJ depois de “um processo de mais de dois meses de recolha dos indícios”, reforçando que queriam “avançar com a certeza absoluta” de que iam pelo “caminho certo”.

Rosa Grilo está detida no estabelecimento prisional de Tires, enquanto o oficial de justiça está no estabelecimento anexo à Polícia Judiciária. Ambos “serão presentes amanhã [hoje] ao tribunal de Vila Franca de Xira”, acrescenta a PJ.

Como Rosa Grilo e António Joaquim terão matado o triatleta

Triatleta estaria deitado na cama quando foi baleado na cabeça

Os principais suspeitos do homicídio de Luís Grilo, atualmente em prisão preventiva, terão matado o triatleta no quarto da casa de família depois de o agrediderm.

Rosa Grilo e António Joaquim, que manteriam uma relação extraconjugal, terão tentado limpar as marcas do crime, mas a Polícia Judiciária, avança o Jornal de Notícias, encontrou vestígios de sangue numa parede do quarto de Luís Grilo quando procedeu às buscas à casa do casal, na quarta-feira passada, antes de os suspeitos terem sido detidos.

O engenheiro informático, de 50 anos, estaria deitado na cama quando foi baleado, a sangue-frio, depois de ter sido agredido, segundo o mesmo jornal.

A ligação a António Joaquim foi estabelecida com recurso a perícias balísticas, a autópsia revelou uma bala alojada no crânio da vítima, bala essa que tinha sido disparada por uma arma registada no nome do alegado amante de Rosa Grilo, um funcionário do Campus de Justiça em Lisboa.

Já a mulher de Luís Grilo terá deixado vestígios de ADN no saco que tapava a cabeça da vítima, quando esta foi encontrada, mais de um mês depois do seu desaparecimento a dezenas de quilómetros de casa.

As autoridades acreditam que o homicídio foi premeditado e que terá como móbil um seguro de vida em nome de Luís Grilo, cuja apólice foi alterada pela mulher dias antes do crime.

Sublinhe-se que os dois suspeitos vão aguardar pelo julgamento na prisão, tendo sido aplicada a medida de coação mais gravosa, neste sábado.