PJ aperta o cerco a hacker suspeito de roubar emails do Benfica

PJ aperta o cerco a hacker suspeito de roubar emails do Benfica


Depois de peritagens informáticas para identificar origem do roubo, investigadores tentam agora perceber se o FC Porto comprou os dados privados. Há negócios que estão a ser passados a pente fino


A Polícia Judiciária está a apertar o cerco ao hacker português suspeito do roubo de correspondência privada do Benfica, tendo inclusivamente sido tentado o contacto com o génio informático, que se encontrará em Budapeste, na Hungria. Depois de várias perícias informáticas, como a deteção do IP, o ‘track’ das máquinas por onde passaram os documentos e mesmo a verificação dos metadados, os inspetores da Polícia Judiciária fizeram diversas diligências que terão permitido traçar o esquema montado para que as informações fossem passadas a responsáveis do FC Porto, bem como se houve ou não pagamentos e de que forma aconteceram.

Desde que nas últimas semanas começaram a ser divulgadas algumas notícias a dar conta do rumo desta investigação – que está já na reta final – que os investigadores têm indicações claras para apertar ainda mais o controlo às fugas de informação, tudo para não comprometer próximas diligências.

Neste caso, as autoridades nacionais estão confrontadas com a impossibilidade de extradição do suspeito, o que obriga a que a investigação seja mais complexa, recorrendo a mecanismos nem sempre utilizados. A todas as dificuldades, acresce o facto de Rui Pinto, que ainda não fez 30 anos, ter profundos conhecimentos informáticos – com 23 anos conseguiu desviar 270 mil euros do Caledonian Bank, com sede nas ilhas Caimão. Segundo a “Sábado”, tudo foi feito a partir do seu quarto na casa dos pais, em Gaia.

Desde aí que Rui Pinto ganhou projeção e deixou de ser apenas um pirata português. As suas ligações a Budapeste, Hungria – onde fez Erasmus quando tirava o curso de História -, e outras que fez desde que iniciou este tipo de ações de pirataria, ligações essas que se estendem a muitos outros países, tornam-no ainda mais esquivo.

Rui Pinto foi investigado por crimes informáticos em muitos outros casos, como o FootballLeaks. Em 2015 divulgou diversos documentos de clubes, como o FC Porto (onde se punha em causa Alexandre Pinto da Costa pelo suposto recebimento de comissões) e o Sporting e ainda de intermediários do mundo do futebol. E chegou mesmo a chantagear a Doyen Sports Investments, fundada pelo português Nélio Lucas, pedindo entre 500 mil euros e um milhão de euros. Mais tarde acabaria por ser investigado em Espanha por revelar informação privada do Real Madrid. Mas nem deste lado da fronteira nem do outro se conseguiu que o suspeito fosse extraditado. E as informações que este revelou acabaram mesmo por ser importantes para as autoridades: com base no FootballLeaks, as autoridades espanholas, por exemplo, conseguiram perceber alegadas fugas ao fisco, como foi o caso de Ronaldo e de José Mourinho.

O rasto do dinheiro Agora, na investigação aos emails do Benfica, e dado que estes não foram divulgados pelo próprio, mas sim pelo Porto Canal, a Polícia Judiciária seguiu todo o rasto das informações roubadas ao Benfica, tentando igualmente dissecar se as mesmas tinham sido compradas. Este é um ponto sensível de todo o trabalho levado a cabo nos últimos meses – a investigação ao caso dos emails não é recente, tendo começado logo após a divulgação dos mesmos por Francisco J. Marques, que entretanto foi constituído arguido na sequência de uma queixa apresentada pelo Benfica.

É que se por um lado os responsáveis do FC Porto, incluindo Francisco J. Marques, garantiram sempre que nunca foi pago qualquer montante pelas informações, para a investigação existem suspeitas de que os emails do Benfica tenham sido comprados, havendo até ideias dos valores – na ordem dos milhares de euros – envolvidos.

Para a investigação é ainda relevante que o coautor do livro de Francisco J. Marques “Polvo Encarnado” seja Diogo Faria, que foi colega do hacker na faculdade, embora este tenha negado qualquer relação de amizade. Além de coautor do livro, Diogo Faria também passou a ser comentador do Porto Canal.

Benfica e Porto também foram abordados Além da abordagem aos responsáveis do FC Porto, também responsáveis do Benfica e do Sporting terão sido contactados, tendo-lhes sido proposto que pagassem para ter acesso a informação privada. Ao que o i apurou, no caso do Benfica o valor solicitado seria de cerca de 250 mil euros. O Benfica e o Sporting dizem não ter aceitado.

Apesar de o Sporting ter essa posição, a PJ quer esclarecer todas as dúvidas, até porque um mês após o início da divulgação dos emails do Benfica e quando o assunto marcava a agenda mediática, a estrutura de comunicação do Sporting reuniu-se com a do Porto no Hotel Altis. Não sendo conhecido o teor de tal reunião, o episódio levantou dúvidas sobre a possibilidade de ambos terem firmado um acordo para atacar o rival.

Também por essa altura foi feito um negócio que os investigadores acreditam poder estar relacionado ou mesmo explicar muito sobre os fluxos de dinheiro: a transferência do jogador Lumor do Portimonense para o Sporting por 2,5 milhões de euros – ficando o clube de Alvalade apenas com 50% dos direitos económicos do craque algarvio que praticamente nunca jogou de verde e branco. 

O i sabe que as autoridades estão particularmente atentas a este negócio devido às alegadas ligações entre a SAD do Portimonense e a do FC Porto. Segundo noticiado em julho, deu entrada no Departamento Central de Investigação e Ação Penal uma denúncia que dava conta de relações suspeitas e de negócios pouco claros de transferências de jogadores.