A mensagem e o mensageiro


Os proibicionistas esquecem deliberadamente a máxima atribuída a Voltaire: “Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até à morte o teu direito de dizê-lo”


“Hablo de cosas que existen,
Dios me libre de inventar
cosas cuando estoy cantando.”
                           Pablo Neruda

 

A expressão, muito conhecida, “não mate o mensageiro”, tradução do latim “ne nuntium necare”, parece ter tido origem na morte de Charidemos às mãos de Dario III, rei da Pérsia, após ter recebido a notícia da derrota do seu exército pelo de Alexandre III, da Macedónia, na batalha de Issus. 

Dario III não terá sido certamente o único soberano a matar os portadores de más notícias. 

Nos dias de hoje, os mensageiros chamam-se jornalistas e, como infelizmente sabemos, continuam a morrer por causa de “más notícias”.

Mas, como acabar com eles não é tarefa fácil e, nos regimes democráticos, algo desagradável, há que deitar sobre eles a acusação de serem mentirosos. Deste modo, as mãos não ficam sujas de sangue, mas liquida-se a principal arma destes mensageiros: a sua credibilidade.

Donald Trump é hoje o exemplo máximo desta estratégia que, no entanto, é tão antiga como o próprio jornalismo. 

O homem das “fake news” abriu uma guerra aberta ao jornalismo e teve ontem a devida resposta, quando mais de 100 jornais norte-americanos publicaram editoriais a denunciar este ataque à liberdade de imprensa.

É verdade que se torna cada vez mais difícil distinguir notícias falsas de verdadeiras e opinião de ataques pessoais. 

Mas é também verdade que a primeira tendência de muitos responsáveis das mais diferentes áreas é a de atacar os jornalistas quando as notícias não lhes são favoráveis. Veja-se, por exemplo, o recente “caso Robles” e a primeira reação de Catarina Martins.

Já agora, como falo de liberdade de expressão, não posso deixar de registar a polémica com a hipótese da vinda a Portugal de Marine Le Pen, como oradora na Web Summit, entretanto anulada pela organização.

Quando se conheceu o convite, caiu o Carmo e a Trindade para os lados do Bloco de Esquerda e associados.

“Proíba-se!”, reclamaram, em nome da “soberania nacional”, como escreveu Rui Tavares.

Bem mais inteligente me pareceu a posição do socialista João Vasconcelos, ex-secretário de Estado da Indústria, que defendeu que o debate é a melhor maneira de combater as ideias com as quais não concordamos. A base da democracia, portanto. 

Os proibicionistas esquecem deliberadamente a máxima atribuída a Voltaire: “Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até à morte o teu direito de dizê-lo”.

O problema é que a ideologia totalitária ainda por lá mora e tem mais força do que parece. Pelos vistos, prevaleceu. 

 

Jornalista
 


A mensagem e o mensageiro


Os proibicionistas esquecem deliberadamente a máxima atribuída a Voltaire: “Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até à morte o teu direito de dizê-lo”


“Hablo de cosas que existen,
Dios me libre de inventar
cosas cuando estoy cantando.”
                           Pablo Neruda

 

A expressão, muito conhecida, “não mate o mensageiro”, tradução do latim “ne nuntium necare”, parece ter tido origem na morte de Charidemos às mãos de Dario III, rei da Pérsia, após ter recebido a notícia da derrota do seu exército pelo de Alexandre III, da Macedónia, na batalha de Issus. 

Dario III não terá sido certamente o único soberano a matar os portadores de más notícias. 

Nos dias de hoje, os mensageiros chamam-se jornalistas e, como infelizmente sabemos, continuam a morrer por causa de “más notícias”.

Mas, como acabar com eles não é tarefa fácil e, nos regimes democráticos, algo desagradável, há que deitar sobre eles a acusação de serem mentirosos. Deste modo, as mãos não ficam sujas de sangue, mas liquida-se a principal arma destes mensageiros: a sua credibilidade.

Donald Trump é hoje o exemplo máximo desta estratégia que, no entanto, é tão antiga como o próprio jornalismo. 

O homem das “fake news” abriu uma guerra aberta ao jornalismo e teve ontem a devida resposta, quando mais de 100 jornais norte-americanos publicaram editoriais a denunciar este ataque à liberdade de imprensa.

É verdade que se torna cada vez mais difícil distinguir notícias falsas de verdadeiras e opinião de ataques pessoais. 

Mas é também verdade que a primeira tendência de muitos responsáveis das mais diferentes áreas é a de atacar os jornalistas quando as notícias não lhes são favoráveis. Veja-se, por exemplo, o recente “caso Robles” e a primeira reação de Catarina Martins.

Já agora, como falo de liberdade de expressão, não posso deixar de registar a polémica com a hipótese da vinda a Portugal de Marine Le Pen, como oradora na Web Summit, entretanto anulada pela organização.

Quando se conheceu o convite, caiu o Carmo e a Trindade para os lados do Bloco de Esquerda e associados.

“Proíba-se!”, reclamaram, em nome da “soberania nacional”, como escreveu Rui Tavares.

Bem mais inteligente me pareceu a posição do socialista João Vasconcelos, ex-secretário de Estado da Indústria, que defendeu que o debate é a melhor maneira de combater as ideias com as quais não concordamos. A base da democracia, portanto. 

Os proibicionistas esquecem deliberadamente a máxima atribuída a Voltaire: “Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até à morte o teu direito de dizê-lo”.

O problema é que a ideologia totalitária ainda por lá mora e tem mais força do que parece. Pelos vistos, prevaleceu. 

 

Jornalista