O consórcio Oakvest/Portugália/Sabina foi o escolhido pela sociedade gestora para comprar a Herdade da Comporta – com uma área equivalente a um terço de Lisboa que funcionava como o retiro da família Espírito Santo e que foi colocada à venda com a falência do grupo –, deixando para trás a proposta da empresária Paula Amorim e do francês Claude Berda e uma terceira proposta apresentada pelo francês Louis-Albert de Broglie. A votação vai realizar-se no próximo dia 27 de julho em assembleia-geral que também irá analisar as outras duas propostas por uma questão de transparência pois, tendo em conta a diferença entre o preço apresentado pelos investidores para a aquisição dos ativos e as avaliações recentes, a sociedade gestora quer que a proposta aprovada passe pela assembleia em que participarão os diferentes ramos da família Espírito Santo, bem como a Rioforte, a antiga holding do clã, que está insolvente.
O consórcio Oakvest/Portugália/Sabina apresentou a proposta mais alta: 36,5 milhões, ou seja, 30% mais que o valor avançado pela empresária portuguesa (28 milhões de euros), apurou o i. Ao mesmo tempo, é a única proposta que assume a resolução integral dos atuais problemas do fundo, assim como a assunção da responsabilidade integral da dívida existente na Caixa Geral de Depósitos (CGD) e garantias bancárias que rondam os 120 milhões de euros. Feitas as contas, totaliza quase 160 milhões de euros.
O i sabe também que a experiência deste consórcio no desen-volvimento de ativos turísticos e imobiliários na Europa pesa na decisão, uma vez que há perspetivas de que o consórcio Oakvest/Portugália/Sabina poderá ter um papel importante na maximização de valor para a região e para a economia local, bem como no reconhecimento mundial da região face ao envolvimento de grandes marcas hoteleiras e de arquitetos de renome internacional.
Mas as diferenças entre as duas propostas são mais significativas. Enquanto a proposta da Oakvest prevê a aquisição dos ativos da subsidiária DCR & HDC (sociedade detida pelo fundo da Comporta que desenvolve atividade imobiliária), a proposta Berda e Amorim não inclui os créditos do fundo sobre a DCR & HDC (avaliados em 8,2 milhões) nem os lotes das Casas da Encosta (avaliados em 852 mil euros).
Além disso, a correção feita nos dossiês das propostas pôs Paula Amorim e Claude Berda num plano de desvantagem, já que o valor global da sua proposta ficará cerca de 8 milhões de euros aquém da oferta concorrente de Mark Holyoake e da Portugália. Para trás fica também a proposta apresentada pelo francês Louis-Albert de Broglie, que oferece uma contrapartida única de 115 milhões de euros, ou seja, um montante insuficiente para liquidar a dívida à Caixa.
Numa apresentação enviada aos participantes no fundo da Comporta, o consórcio argumenta que “ao contrário do que é sugerido pelo fundo, quando corretamente comparada, a proposta apresentada pelo consórcio é a que aporta mais valor”. Além disso, afirma que esta é a proposta que “melhor defende os interesses não só dos participantes do fundo (…) como dos credores e da própria região de Alcácer do Sal e Grândola, dado que dispõe dos meios económicos e financeiros e know-how para ali desenvolver um resort único em Portugal”.
Raio-X
Mas quem é este consórcio? A Oakvest, controlada pelo empresário inglês Mark Holyoake, gere ativos superiores a 100 milhões de euros e conta com uma experiência de mais de 20 anos no desenvolvimento imobiliário de luxo. Já a Portugália, das famílias Carvalho Martins e Vinhos, gere ativos na ordem dos 175 milhões de euros e tem experiência em vários negócios – cerveja, energia, restauração e imobiliário – em Portugal e Espanha. Por seu lado, a Sabina, que conta como principais acionistas a Woodford Investment Management e a Anton Bilton, possui experiência no desenvolvimento imobiliário no Reino Unido, Rússia e Espanha.
Recorde-se que a Herdade da Comporta – composta por mais de 12 500 hectares entre Alcácer do Sal e Grândola – era o retiro da família Espírito Santo, que a tinha comprado em 1987, e foi colocada à venda quando o Grupo Espírito Santo (GES) faliu.
A venda deste ativo é uma das formas de obtenção de receitas pelos curadores de insolvência, de forma a conseguirem arrecadar algum valor para os seus credores. É o caso, por exemplo, da Pharol e do BES “mau”.
A verdade é que o processo de venda da herdade tem sofrido vários avanços e recuos. A sua alienação recomeçou em setembro. Depois de uma tentativa falhada, os tribunais acabaram por autorizar o processo de venda, contornando assim a razão que anteriormente travou a operação: o arresto dos bens da família.
O empresário Pedro Almeida fez uma oferta, no verão passado, que não foi concluída porque o Ministério Público não levantou o arresto da Herdade da Comporta – à época, a avaliação era de 420 milhões de euros –, rejeitando a venda da propriedade por considerar que o processo não reunia condições de “isenção, transparência e objetividade”. Na altura, o empresário pretendia transformar a Comporta num “resort exclusivo e altamente atrativo para o mercado internacional”. O objetivo do empresário passava por comprar também a Herdade da Comporta — Atividades Agrossilvícolas e Turísticas, a empresa que gere os arrozais da zona.
O certo é que a alienação é necessária para evitar a insolvência do fundo da herdade localizada em Grândola e Alcácer do Sal. O risco de insolvência é “real” e foi já admitido pela entidade e pelos responsáveis da insolvência da Rioforte.