O dia 8 do Mundial da Rússia começou morno, viu um menino de 19 anos entrar na história do seu país na prova (e ao mesmo tempo atirar outro país para fora desta) e acabou com uma derrota de proporções trágicas para um antigo campeão. Dia preenchido, portanto.
Os dois primeiros jogos foram referentes ao grupo C e deixaram as contas semi-definidas. Para já, a França ainda vai sendo a única com reais razões para sorrir: os gauleses só precisaram de um golo para bater o Peru e garantir assim desde já a qualificação para os oitavos-de-final. O 1-0, tão magro quanto saboroso, foi assinado por Mbappé, o diamante descoberto e trabalhado por Leonardo Jardim no Monaco e vendido depois a peso de (muito) ouro ao PSG. Aos 19 anos, o menino nascido em Bondy tornou-se o mais jovem de sempre a marcar por uma seleção francesa num Mundial – e também o mais jovem goleador desta edição da prova. E nem teve de se esforçar muito para o fazer: bastou encostar, à boca da baliza, após uma primeira defesa do guardião peruano a remate de Giroud.
De fora ficam já os peruanos, naquela que é a sua primeira participação na competição em 36 anos. O conjunto onde alinha o ex-Sporting e Benfica Carrillo fez dois bons jogos – em particular o primeiro, frente à Dinamarca -, mas perdeu ambos por 1-0 e está já sem hipóteses matemáticas de seguir em frente.
E isto porque os dinamarqueses, em mais uma partida onde não passaram da mediania, empataram com a Austrália (1-1) e somaram assim quatro pontos, depois da tal vitória magra na estreia com o Peru. Salvou-se, desta feita, o grande golo de Eriksen, criativo que alinha no Tottenham e que é o grande diferencial desta seleção – para os cangurus marcou novamente Jedinak, e novamente de penálti, como havia acontecido já no primeiro jogo, contra a França (1-2).
O conjunto nórdico, porém, ainda não pode cantar vitória: é que a Austrália, por agora com um ponto, tem ainda aberta a possibilidade de se apurar. Terá, para tal, de bater o Peru (de preferência por um resultado expressivo) e esperar que a Dinamarca perca com a França. Perfeitamente exequível. Ainda assim, há um registo estatístico que joga a favor dos dinamarqueses: sempre que chegou à segunda jornada com quatro pontos, apurou-se para a fase seguinte (1986, 1998 e 2002).
A cruz de Messi O jogo grande do dia, porém, estava marcado para as 19 horas (portuguesas, claro está). E não desiludiu – ao contrário da Argentina. Essa prossegue a sua via sacra, com Messi a carregar uma cruz claramente demasiado pesada. Ainda na noite anterior, respondendo a críticas de Diego Maradona, Sergio Ramos havia dito – de forma surpreendente – que El Pibe está a “anos-luz do melhor jogador argentino da história, que é Messi”, sendo esta há muito uma discussão alimentada por amantes da modalidade, mas acima de tudo pelos próprios argentinos. Geralmente, uma ideia acaba por se sobrepor a todas as outras: Maradona levou “sozinho” a Argentina a um título mundial, naquele inesquecível torneio de 1986; Messi já foi uma vez à final, há quatro anos, mas com performances gerais bastante abaixo do nível que se lhe reconhece. E perdeu.
Agora, não está muito melhor. Bem pelo contrário. Se, no jogo com a Islândia – já de si com um desfecho surpreendente (1-1) -, La Pulga até terá sido o melhor argentino em campo (o que nessa partida nem é particularmente elogioso), apesar de ter desperdiçado uma grande penalidade, ontem foi uma enorme sombra de si mesmo. Tal como todos os companheiros: desta vez não se salvou um.
A primeira parte até foi equilibrada, com Argentina e Croácia a repartirem oportunidades de perigo, mas na segunda a exibição argentina descambou por completo. O primeiro vilão foi o guarda-redes: aos 53’, e apertado por Rebic, Caballero tentou fazer um passe picado sobre o avançado croata mas acabou por lhe entregar a bola de bandeja. O jogador do Eintracht Frankfurt, que nem estava a ter um jogo particularmente bem conseguido até esse momento, disparou de primeira e direitinho às redes argentinas.
A partir daqui, foi o descalabro. A seleção albiceleste, com o benfiquista Salvio e o sportinguista Acuña no onze, entrou num descontrolo emocional incompreensível, perdeu-se em quezílias absolutamente desnecessárias e partiu-se por completo, abrindo espaço aos venenosos contra-ataques croatas. Num deles, aos 80’, Modric aproveitou para fazer um remate indefensável e fechar o jogo; noutro, já nos descontos, Rakitic só teve de encostar para a baliza deserta e fazer o 3-0 final. A Croácia está nos oitavos-de-final pela primeira vez desde 1998 e a Argentina, vice-campeã em título, fica a depender de terceiros para continuar em prova.
Antes desta partida, Maradona dizia isto de Jorge Sampaoli: “A jogar assim, não pode voltar à Argentina.” Agora, provavelmente o cenário ficará muito pior para o selecionador argentino…