Ioga. Basta um tapete, roupa prática e tempo para começar a melhorar a sua saúde

Ioga. Basta um tapete, roupa prática e tempo para começar a melhorar a sua saúde


Assinala-se hoje o Dia Internacional do Ioga, uma efeméride proposta por um português. Esta prática traz benefícios tanto para o corpo como para a mente


Sabia que o ioga pode ajudar a regular as doenças mentais ou até mesmo a reduzir as dores menstruais? No Dia Internacional do Ioga, que se assinala hoje, o i dá a conhecer alguns dos benefícios desta prática e algumas curiosidades associadas a esta modalidade ancestral.

Um desses benefícios surge precisamente numa investigação realizada por uma especialista portuguesa. A médica Sara Ponte realizou um estudo experimental sobre o ioga em Portugal e concluiu que esta prática melhora a saúde e a qualidade de vida.

Em entrevista à TSF, a médica revelou que, com a ajuda de 86 utentes, foi desen-volvido um estudo que colocava o ioga como terapia de uma medicina integrativa. Assim, a especialista avança que ao fim de seis meses de prática regular de ioga há uma melhoria de qualidade de vida a nível geral, social, físico, psicológico e até ambiental, havendo inclusive utentes a abandonar a medicação.

Outro benefício foi comprovado através de um estudo, publicado em maio pelo “International Journal of Yoga” e citado pela “Psychology Today”, que diz que esta prática pode ser uma forma de reduzir os sintomas de transtorno alimentar. Para se chegar a esta conclusão foram avaliadas mulheres com diagnóstico de bulimia nervosa ou distúrbio alimentar não especificado, após um programa de ioga que durou 11 semanas.

Os especialistas perceberam que os níveis de preocupação com a alimentação, que eram medidos antes e depois de cada sessão de ioga, decaíam significativamente após todas as sessões. Os grupos mantiveram os mesmos níveis de índice de massa corporal, mas a ansiedade e a depressão diminuíam com o passar do tempo.

Um corpo fit Em 2010, um grupo de investigadores norte-americanos quis mostrar o impacto de dez semanas de ioga no equilíbrio e na flexibilidade dos atletas universitários, e não só acabaram por detetar esse impacto como também concluíram que os corpos ficavam mais tonificados após as sessões de ioga, uma característica que os poderia ajudar no desenvolvimento dos desportos que praticavam, como se pode ler no estudo publicado pelo “International Journal of Yoga”.

A melhoria da força muscular e o aumento da resistência também não ficam de fora do ioga: é isso que diz o estudo publicado pelo “Asian Journal of Sports Medicine” e que se baseou apenas na “saudação do sol”, um conjunto de posturas de ioga.

O estudo mostra que estas posições podem ajudar a mantermo-nos em forma, já que ocorre aumento da força e resistência na parte superior do corpo. Estas posturas ajudam também as mulheres a perder peso.

Também as dores menstruais podem ser tratadas através do ioga. Segundo o estudo publicado no “Journal of Alternative and Complementary Medicine”, um grupo de mulheres que fizeram uma sessão de uma hora, uma vez por semana, durante três meses, tiveram dores menstruais menos intensas, comparativamente com o grupo que não fez ioga.

Uma mente sã Mas se o seu problema não é nenhum destes e está relacionado com o sono, fique a saber que a solução também pode estar no ioga. Um estudo publicado pelo PubMed refere que os praticantes de ioga adormecem mais rapidamente, dormem mais e sentem- -se mais descansados quando acordam.

O mesmo site publicou ainda uma outra investigação que indica que o ioga é mais eficaz do que outros exercícios e pode mesmo ser usado no tratamento da dor lombar crónica.

Em 2014 foi feita uma análise a mulheres com cancro da mama ou sobreviventes que concluiu que o ioga reduz os marcadores tumorais encontrados no sangue, resultantes de inflamações crónicas.

A Universidade de Harvard também realizou um estudo dedicado ao ioga no qual conclui que doenças mentais podem ser controladas com o ioga, já que há uma redução de stresse, ansiedade, stresse pós-traumático e depressão.

Ainda assim, além de todos estes benefícios, o mais recente estudo sobre o ioga, publicado pela Universidade de Southampton e citado pelo “Guardian”, concluiu que os praticantes de ioga tendem a avaliar-se muito e a comparar-se com os outros – há uma necessidade de “autoaperfeiçoamento” e de “autocentralização”, o que pode mesmo levar a que se use a palavra “presunçosos” para os definir.

Dia com sabor português O Dia Internacional do Ioga foi proposto pela primeira vez em 2001 por um português. Segundo a Confederação Portuguesa do Yoga, o seu presidente HH Jagat Guru Amrta Súryánanda Mahá Rája, que foi registado como Jorge Veiga e Castro, orientou, a 21 de junho de 2002, a primeira comemoração do Dia do Ioga em Portugal, na cidade de Setúbal. Mas foi em 2014, após vários anos e com o apoio do governo da Índia, que as Nações Unidas oficializaram um dia internacional para o ioga, mantendo-se a mesma data.

Em 2016, esta prática ancestral com mais de 9 mil anos, e proveniente da Índia, foi declarada Património Imaterial e Cultural da Humanidade.

Segundo a Confederação Portuguesa de Yoga, as celebrações neste dia acontecem para que exista “um dia sem derramamento de sangue em todo o Planeta, e [para] promover a sustentabilidade, a diversidade étnica e cultural e a tolerância inter-religiosa, entre outros, num total de 30 princípios”.

Este ano, numa iniciativa organizada pela embaixada da Índia em Portugal e com o apoio da Confederação Portuguesa de Yoga e da Câmara Municipal de Lisboa, no Dia Internacional do Ioga irá haver, a partir das 18h00, nos Jardins da Torre de Belém, uma aula gratuita e de participação livre.

No Porto, as celebrações ocorrem a 24 de junho, pelas 10h00, no Parque Desportivo de Ramalde, e serão as celebrações oficiais com o lema “Aumento da Consciência – Sustentabilidade e PAZ”.

Uma história com milhares (e milhares) de anos

Pouco se sabe sobre a origem do ioga. Não existe consenso quanto à data em que surgiu, sabendo-se apenas que foi desenvolvido na Índia entre 3300 e 1900 a.C. No entanto, os primeiros textos que fazem referência à filosofia associada a esta atividade datam do período entre 500 e 200 a.C.

Mais tarde, entre 200 a.C. e 500 d.C., o hinduísmo, o budismo e o jainismo começam a ganhar forma e poder enquanto correntes filosóficas importantes no mundo oriental – com este crescimento, o ioga, que é “adotado” por estas correntes de pensamento, começa também a ter maior expressão.

Na Idade Média surgem vários satélites do ioga – ou seja, começam a aparecer diferentes tradições ligadas a esta atividade, como o movimento Bhakti, Tantra e Hatha.

Tudo isto se passava a oriente. A este lado do mundo, o ioga só chega no séc. xix. Em 1851, o cientista indiano residente em Londres N. C. Paul publica “Treatise on Yoga Philosophy”, um dos primeiros livros sobre o assunto a ser divulgado no Ocidente. Em 1890, o mestre de ioga Swami Vivekananda tentou captar a atenção de todos e fez uma digressão pela Europa e Estados Unidos da América, com o objetivo de promover os ensinamentos relacionados com esta prática, uma viagem que chamou a atenção de milhares de pessoas de todas as camadas sociais, económicas e intelectuais.

No entanto, a parte “física” do ioga só começou a chegar em força à Europa e aos Estados Unidos da América a meio do séc. xx. O grande boom do ioga dá-se já no início do séc. xxi, quando milhões de pessoas aderiram a esta atividade – de acordo com estatísticas do site Yoga Journal, em 2016, 36,7 milhões de pessoas praticavam ioga. Não são conhecidos dados quanto ao número de praticantes na União Europeia. Os vários benefícios para a saúde (ver texto principal) e o relaxamento são dois dos motivos que levam milhões a aderir a esta prática.

*Editado por Joana Marques Alves