Conjuntura. Demografia e endividamento são principais desafios

Conjuntura. Demografia e endividamento são principais desafios


Ministro da Economia defende que crescimento tem sido sustentável devido ao equilíbrio entre o investimento e a diversificação das exportações


Juntamente com a falta de produtividade na economia, a demografia e o endividamento são os grandes desafios para o futuro de Portugal. Para lhes dar resposta, o país precisa de apostar nas qualificações, na inovação e nos recursos naturais.

A receita é do ministro da Economia, que ontem esteve no almoço-debate do International Club of Portugal (ICPT) para falar sobre economia portuguesa e crescimento sustentável. “Nos desafios negativos da economia portuguesa está a demografia – que temos de olhar com medidas de natalidade mas também com abertura à imigração – e o endividamento, e os dois em conjunto criam uma situação muito desafiante e temos de trabalhar para os resolver, não este governo, mas este governo e os vários que vêm a seguir”, resumiu Caldeira Cabral, realçando que nos desafios positivos “há a qualificações, a inovação e o dos recursos naturais”.

A economia portuguesa, disse, tem tido nos últimos anos “um crescimento equilibrado em termos de procura externa e procura interna”. Esta última tem como “componente mais forte o investimento e isso dá uma noção de sustentabilidade”. Isto porque, quando se faz despesa de investimento, esta cria “mais capacidade produtiva para o futuro” e a economia estar a “ser puxada pelo investimento dá uma noção de sustentabilidade”.

Segundo o ministro, outra “ideia forte de sustentabilidade” é o aumento das exportações “numa altura em que as empresas” crescem “no mercado interno” e também porque é baseado num conjunto diversificado de setores.

Além do equilíbrio entre investimento e procura externa, Caldeira Cabral destacou que este é um crescimento com “consolidação das contas públicas”, constituindo estas, por sua vez, um dos desafios estruturais da sociedade portuguesa. “Estes estão cá, e vão continuar a estar cá, nos próximos 20 anos, mesmo que façamos todas as políticas certas”, afirmou.

“O primeiro deles é sem dúvida o endividamento (…) que vai ter de continuar a descer na próxima década se não queremos lançar o país numa instabilidade financeira”, ressalvou, acrescentando que há sinais positivos de redução do endividamento privado numa “altura em que as empresas estão a investir”.

Caldeira Cabral revelou que as empresas estão a investir mais “com capitais próprios e a recorrer menos ao crédito bancário”, o que segundo o governante é “muito importante”, porque é aqui que está uma grande diferença entre Portugal e a UE. “A maior diferença em termos de produtividade vem de duas coisas muito simples: o capital por trabalhador em Portugal é metade do capital por trabalhador da média da União Europeia (…) a outra está nas qualificações”, disse.

O ministro considera que substituir uma geração muito pouco qualificada por uma geração muito mais qualificada é um “desafio que pode trazer um fortíssimo aumento de produtividade”. Isto porque “Portugal nos próximos 20 anos não vai ter a população a crescer, mas vai ter o capital humano a crescer se souber cá reter esta geração mais qualificada de sempre”.

O desafio da inovação, continuou o ministro, “é de todos os países europeus”, e consiste no seguinte: “Como transformar inovação em valor para as empresas?” Segundo o governante, os “EUA fazem isto muito bem, a Alemanha faz muito bem em algumas áreas da inovação industrial”. No caso de Portugal “há potencial que é preciso transformar em valor nas empresas”, garante, acrescentando o desafio dos recursos naturais.

Energia

“A ideia de que Portugal não tem fontes de energia é hoje muito questionada” e o que mudou não foi o país”, mas sim a “situação do mundo e a tecnologia”, apontou. Segundo Caldeira Cabral a situação mudou no sentido “em que a tecnologia baixou muito os custos de produção de energia a partir de fontes de energia renováveis” e o mundo está mais consciente das questões ambientais. Assim, Portugal poderá vir a ser “considerado um país de energia relativamente abundante do tipo certo”: sem impactos de carbono, limpa mas barata. “Poderá produzir mais energia de fontes renováveis do que a que consome”, sentenciou.