Os primeiros modelos T-Roc já começaram a ser exportados pela Autoeuropa. Ainda esta semana foram enviados 1800 carros através do Porto de Setúbal com destino a Emden, Alemanha, apurou o SOL. Mas a ideia é atingir brevemente os dois milhões de veículos VW movimentados através deste terminal.
E os números são claros: o T-Roc deverá representar 40% das vendas da marca até 2027. Trata-se de uma das apostas da Volkswagen, com a empresa a destacar a importância económica do segmento dos veículos utilitários desportivos (SUV). Segundo Herbert Deiss, presidente da Volkswagen, está previsto um grande crescimento deste segmento nos próximos anos. Por cá, este SUV produzido a 100% na fábrica de Palmela só começa a ser comercializado a partir de novembro.
Arrancam conversações
As conversações entre a nova Comissão de Trabalhadores (CT) e a administração da Autoeuropa vão arrancar na próxima semana, depois de Fernando Gonçalves ter sido nomeado o novo coordenador da CT. O responsável sucede assim a Fernando Sequeira como representante máximo dos operários da fábrica de Palmela do grupo Volkswagen e a comissão de trabalhadores é o único órgão que vai negociar com a administração os novos horários de trabalho a aplicar a partir de fevereiro de 2018. «A nova estrutura já tomou posse, temos estado a tratar de assuntos pendentes e agora está tudo encaminhado para iniciar conversações», revela ao SOL, Fernando Gonçalves.
Para já, o responsável aguarda uma proposta por parte da administração diferente da que foi apresentada e que foi aceite pela anterior CT. «O pré-acordo foi chumbado e levou à greve no final de agosto. Esperamos por parte da direção uma proposta diferente, caso contrário voltamos ao mesmo impasse», salienta.
A criação de um novo turno ao fim de semana é uma das possibilidades admitidas pelo novo coordenador para ultrapassar o diferendo com a administração da fábrica de Palmela. Para este, o investimento foi mal planeado e não foram criadas condições humanas nem técnicas para que o lançamento do T-Roc e a construção do mesmo não tivessem estes problemas. «Deu no que deu, deu na greve», acrescentou.
O certo é que o trabalho ao sábado, que deverá arrancar na primeira semana de fevereiro, continua a ser encarado com um entrave para resolver os problemas que culminaram na paralisação histórica da fábrica, impedindo o fabrico de 400 veículos.
Para Fernando Gonçalves, o trabalho ao sábado deve continuar a ser pago como trabalho extraordinário, mesmo que os operários só estejam na fábrica cinco dias por semana. E do lado da empresa espera que haja recetividade em relação a esta proposta. «Nunca nos negámos a trabalhar em dia nenhum. Não podemos é trabalhar de forma contínua sem ser pagos devidamente», diz ao SOL. O responsável aproveita ainda para chamar a atenção para o facto do trabalho que desempenham ser «demasiado» desgastante e rotineiro. «Estamos horas a fio a fazer o mesmo trabalho, precisamos de descanso para garantir a produtividade», refere.
Totalmente afastada está a solução proposta pela Autoeuropa há vários meses para que a fábrica funcione seis dias por semana, com os funcionários a laborarem cinco dias por semana e direito a uma folga fixa ao domingo e uma outra rotativa a meio da semana. Só de três em três semanas teriam direito a dois dias de descanso consecutivos, segundo a proposta então apresentada. Em compensação, os trabalhadores teriam um pagamento adicional de 175 euros brutos para produzirem ao sábado – que conta como quinto dia de trabalho -, mais um dia de férias e ainda mais 25% do subsídio de turno.
Estas exigências por parte dos trabalhadores surgem numa altura em que as ameaças de deslocalização já estão ultrapassadas. «As declarações do presidente executivo da Volkswagen revelam exatamente o contrário do que chegou a ser dito pelo administrador da Autoeuropa e que abria portas para a possibilidade de a produção do T-Roc ser, pelo menos, parcialmente deslocalizada».
Recorde-se que Herbert Diess afastou a hipótese de transferir para outro local a produção do novo modelo T-Roc, ao garantir que a marca alemã «não está a considerar outras opções» para assegurar a produção do modelo, apresentado no final de agosto. O presidente executivo disse ainda que a alteração do local de fabrico seria «muito dispendiosa», acrescentando que é possível «vender tantos carros (do novo modelo) quantos Portugal puder produzir».
Mais trabalhadores
Mas enquanto não surge uma solução que agrade a trabalhadores e administração, a fábrica de Palmela continua a fazer contratações. A ideia é empregar mais dois mil trabalhadores até ao final do ano, dos quais 750 são para implementar um sexto dia semanal de produção. No final deste processo, o total de trabalhadores irá atingir os 4735 – um número que, até aqui, nunca tinha sido atingido. Só em 2000 é que a fábrica de Palmela atingiu os quatro mil colaboradores.