É o tema do momento no futebol internacional. Aconteceu no domingo, mas não pára de conhecer repercussões desde então. O mal-estar entre Cavani e Neymar no PSG-Lyon foi por demais evidente e várias foram as justificações entretanto aventadas e apresentadas pela imprensa internacional. A maioria, obviamente, gira à volta… de dinheiro.
Os momentos de tensão aconteceram invariavelmente na marcação de lances de bola parada. Primeiro num livre direto, depois numa grande penalidade. Em ambos os casos, Cavani avançou decidido para assumir a cobrança e Neymar interveio, pedindo a bola ao uruguaio. No penálti, Cavani não cedeu… e permitiu a defesa do português Anthony Lopes; no livre, foi Daniel Alves que resolveu a situação, tirando a bola das mãos do goleador uruguaio e entregando-a a Neymar. O jogador mais caro da história do futebol mundial bateu a falta, mas também não conseguiu marcar.
No fim do jogo, Cavani considerou ambas as situações como “coisas normais do futebol”. Soa a justificação apressada e esfarrapada, até porque, de acordo com o prestigiado jornal francês “L’Équipe”, a discussão entre os dois jogadores ter-se-á agudizado no balneário após o apito final, com Cavani a seguir para o seu carro 20 minutos depois de o jogo terminar – além de Neymar ter deixado de seguir o uruguaio nas redes sociais… O próprio Mbappé, outro dos nomes grandes do atual PSG, assumiu que não teria a mesma atitude de Neymar. “Não, isso é uma fonte de problemas.”
A culpa é do treinador Neymar não é um novato neste tipo de situações. Em 2010, com apenas 18 anos, teve uma atitude semelhante no Santos, discutindo com o treinador Dorival Júnior quando este lhe negou a marcação de um penálti. O resultado? O técnico acabou demitido.
A reação de Unai Emery, responsável técnico do PSG, foi a mais diplomática possível: “Disse-lhes para resolverem isso entre eles.” Atitude correta? De acordo com os experts, não. Christophe Dugarry, antigo campeão europeu e mundial pela França, considera esta situação “um escândalo”, arrasando a atitude de Neymar. “Parece o dono de um PSG que já ganhou Liga, Champions e tudo mais. O Cavani está há quatro anos no PSG e já não vai ficar lá durante muito mais tempo, mas há que ter respeito pelos veteranos. No futuro o Neymar será o líder, sim, mas o Emery tem de intervir ou o Neymar vai acabar até a planear os treinos e a decidir o onze”, atirou. Já o técnico brasileiro Muricy Ramalho foi mais longe e não poupou nas críticas a Emery: “Essa equipa e esse treinador são muito desorganizados. A culpa é dele pelo que aconteceu. Defendo sempre os treinadores, mas esse é culpado. É uma bagunça. Tudo tem de ficar definido na preleção: quem vai bater os cantos, as faltas. Não sou contra os treinadores europeus, mas isso não acontece nem na várzea (formação). Esse treinador é um banana, não tem moral. Tem de voltar para o Sevilha, não serve para o PSG!”.
Segundo o “L’Équipe”, esta embrulhada pode estar relacionada… com dinheiro, pois claro. De acordo com aquela publicação, Cavani tem no seu contrato uma cláusula que lhe garante um milhão de euros extra caso termine no topo da lista de goleadores da Ligue 1. Não é público que Neymar tenha semelhante artigo no seu vínculo contratual, mas é uma situação plausível e que pode, de facto, pesar nestas contas.
Balotelli e Sporting Este tipo de episódios está longe de ser virgem no futebol. Se recuarmos ao ano de 2000, por exemplo, temos o caso entre Di Canio, polémico mas muito talentoso futebolista italiano, e um imberbe Lampard. Ganhou o veterano, pois então. Mas também uma disputa entre Robben e Muller, no Bayern, em 2013 – Pep Guardiola teve mesmo de intervir e ordenar que fosse o alemão a bater o penálti, para fúria do virtuoso extremo holandês. Ou no ano seguinte, quando Mirallas tirou a bola a Baines, o cobrador oficial do Everton… e falhou. O prémio? Foi substituído logo depois.
Há ainda o exemplo de Balotelli, que se pegou com colegas em três clubes diferentes: Inter de Milão, Manchester City e Liverpool. O episódio mais lembrado ocorreu em Itália, quando o então adolescente Mario implorou a Eto’o que lhe deixasse bater um penálti. Javier Zanetti, o capitão, foi à área e puxou Balotelli pelo braço, lembrando que era o camaronês o marcador oficial. Eto’o bateu… e foi golo. Curiosamente, o polémico avançado italiano reagiu ontem ao episódio Cavani/Neymar da seguinte forma: “Neymar, não devias sequer pedir para os marcar.” Sem comentários…
Em Portugal, há dois exemplos bem presentes ainda na memória dos adeptos, e ambos entre jogadores do Sporting. A 13 de fevereiro de 2005, numa receção ao Rio Ave em Alvalade, os leões golearam por 5-0. Ainda com o resultado em 1-0, Sá Pinto sofreu falta para penálti e tirou a bola a Liedson, que era o marcador oficial. O Coração de Leão fez golo, mas o 31 virou as costas ao lance e nem o festejou, sendo substituído por José Peseiro ao intervalo – anos mais tarde, já com Sá Pinto como diretor-desportivo, os dois acabariam por chegar mesmo a vias de facto, num incidente que causou a demissão do antigo internacional português.
Já em 2012, incidente semelhante ocorreu outra vez em Alvalade, agora com Matías Fernández e Bojinov como protagonistas. Com o jogo para a Taça da Liga com o Moreirense empatado (1-1), o Sporting beneficiou de uma grande penalidade aos 90’+3’; o chileno era o marcador oficial, mas o búlgaro roubou a bola ao colega e ainda o empurrou… antes de falhar o penálti, permitindo a defesa de Ricardo Ribeiro. Ato contínuo, o Sporting aplicou um processo disciplinar ao avançado, que ficou impedido de aceder às instalações do clube que não voltou a representar.