O lado bom (das efemérides)


Numa época em que a crista da onda, a visibilidade e o protagonismo são desideratos que parecem dominar as múltiplas agendas comunicacionais que tudo e todos condicionam, evocar e celebrar os 150 anos de Camilo Pessanha (1867- 1926), só poderá ganhar sentido no contexto e no obrigatório exercício de um mergulho intenso num lugar claramente…


Numa época em que a crista da onda, a visibilidade e o protagonismo são desideratos que parecem dominar as múltiplas agendas comunicacionais que tudo e todos condicionam, evocar e celebrar os 150 anos de Camilo Pessanha (1867- 1926), só poderá ganhar sentido no contexto e no obrigatório exercício de um mergulho intenso num lugar claramente oposto ao do “eu, eu, eu” contemporâneo. E sempre, acima de tudo, pela leitura e pela eterna sedução de uma obra única que sempre foi imune aos ares do tempo. O exílio voluntário de Pessanha no Oriente, como funcionário colonial em Macau, e a sua continuada busca de uma luz qualquer, “de um oriente a oriente do oriente”, como bem acentuou Pessoa, foram determinantes numa obra significativamente curta de cerca de 50 poemas que só viriam a ser publicados em 1920 sem a sua participação (“Clepsydra”) e que só chegaram a sê-lo graças à persistência de Ana de Castro Osório, sua cúmplice de sempre.

Camilo Pessanha é um poeta maior da língua portuguesa e foi naturalmente evocado no passado domingo, no Centro Cultural de Belém. Mas os muitos que ali estiveram felizes eram tão poucos afinal, se para o poeta houvesse uma justa medida para a importância do seu legado. Sim, falta-lhe o tributo maior que Portugal lhe deve, mas certamente que o maior de todos os tributos será lê-lo, ainda que nem disso ele fizesse questão. Mas tão-só… “Floriram por engano as rosas bravas/ No Inverno: veio o vento desfolhá-las…”. E porque é tão bom ler Camilo Pessanha.