No momento em que, à escala global, assistimos a mudanças radicais no sentido e na forma de interpretar a evolução das sociedades, em que o próprio conceito de “vanguarda” parece constituir um anacronismo inconsequente, e no quadro de uma massa crítica tendencialmente “descomprometida” de referências e pressupostos ideológicos, interessa mais do que nunca refletir com alguma profundidade sobre a história destes últimos 100 anos. A História, que apesar de tudo ainda será (ou seria…) o suporte natural de qualquer pensamento minimamente estruturado, tem privilegiado, com especial relevância na última década, a produção de uma historiografia acentuadamente biográfica, personalista, talvez até como reação aos estruturalismos do pós-guerra. Coisas da pós-verdade?
Sem qualquer compromisso, mas para que se abra o livro, cito o historiador Rui Tavares, em recente e sagaz artigo: “Por isso, quando muitos historiadores nacionais e estrangeiros alertam para as semelhanças entre o que se está a passar hoje e o que se passou na época de entre guerras, não se perguntem só se eles e elas estão errados. Ou seja, perguntem-se isso, mas perguntem-se também se o mero facto de haver tantos historiadores a ‘quebrar o vidro em caso de alarme’ não é, por si só, merecedor de devida nota. Se há historiadores que dão o alarme, deem ouvidos. Não para acreditar acriticamente, mas também não para desdenhar.”E… haverá ainda espaço?