Da polis


 Voltemos à conformidade do dia-a-dia, muito também pela nossa igual capacidade de absorção e adaptação a novas realidades. 


É conhecida a nossa atávica tendência para o pessimismo, para a insatisfação, para a crítica mordaz das circunstâncias, ainda que, depois da espuma dos dias e da estridência dos ruídos, voltemos à conformidade do dia-a-dia, muito também pela nossa igual capacidade de absorção e adaptação a novas realidades.

Se, por um lado, o nosso secular isolamento nos deu esse lado quase trágico e, por vezes, patético da resistência à mudança, por outro, uma emigração continuada, de idas e regressos de caravelas e pessoas, foi-nos preenchendo uma mundanidade peculiar em que o pragmatismo se foi afirmando historicamente, balanceado em múltiplas e diversas proporções, entre o comodismo e o risco da inovação. 

Posto isto, e a propósito da recente intervenção no eixo central da capital, que suscitou tantas e variadas iras por parte da generalidade dos lisboetas, sobretudo os automobilistas, independentemente das questões de forma e de detalhe, parece-me ser importante, antes de tudo, relevar e saudar uma atitude temerária, incómoda e inconformada de colocar sem hesitações a questão ambiental no centro das políticas de cidade.

Pela qualidade do ar que respiramos e pelos resultados palpáveis de decisões como esta, no sentido da inversão progressiva de um ciclo suicidário à escala global, por menores que sejam enquanto contributo, elas serão sempre credoras de respeito e consideração. Mal andará quem, por nada mais e apenas porque sim, queira apoucar intervenções como esta com a chicana própria dos “treinadores de bancada”. Estamos em 2017, esse chão já não dá uvas.