A geringonça anda a levar o país para uma nova bancarrota, mais cedo do que tarde. As execuções orçamentais marteladas, os orçamentos de ficção, os brutais aumentos de impostos, como os que vão acontecer já em 2017 – confirmados pelo ministro das Finanças esta semana, no debate parlamentar, com a estúpida frase “leiam os meus lábios”, isto é, vejam como eu minto quando digo que os impostos não vão aumentar –, não duram para sempre e mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo.
Mas numa matéria este governo merece nota positiva, mais do que isso, merece um louvor de quem gosta do mercado, da livre iniciativa, e odeia tudo o que cheire a Estado na economia e no sistema financeiro. A atuação do executivo na banca tem sido notável.
Em primeiro lugar, evitou uma nova e monumental trapalhada no Banif e vendeu rapidamente e em força o banco ao Santander. É verdade que a medida custa para cima dos três mil milhões aos contribuintes – no fundo, uma ninharia comparados com os quatro mil milhões do BES, os seis mil milhões do BPN nacionalizado pelo PS de Sócrates e, agora, os cinco mil milhões da Caixa Geral de Depósitos.
Mais do que evitar trapalhadas, afastou de vez a possibilidade, tão querida ao BE e PCP, parceiros na geringonça do PS, de meter o Banif na CGD, agravando ainda mais o buraco do banco público com a nacionalização da instituição criada por Horácio Roque.
Mais notável ainda é o processo em curso na Caixa Geral de Depósitos. Por momentos, importa esquecer a enorme quantidade de cadáveres escondidos nos armários do banco público, fruto da gestão danosa de vários governos, que usaram a Caixa como um balcão privilegiado para os negócios das suas clientelas e como uma agência de ricos empregos para boys e girls sem lugar em cargos políticos, no Estado ou no vasto universo das empresas públicas.
Por momentos, importa esquecer o miserável papel dos partidos políticos, sem exceção, que estão a transformar a comissão de inquérito à CGD e aos seus negócios ruinosos nos últimos 15 anos numa monumental palhaçada.
Importa, sim, nesta fase do campeonato, em que a classe política anda entretida no tiro ao alvo aos novos administradores da Caixa, realçar os pontos positivos do processo de recapitalização do banco público impostos pelo Banco Central Europeu e Comissão Europeia, e aceites pelo executivo de Costa. As instituições europeias aceitaram que o Estado ficasse como único acionista se a administração fosse profissional, sem políticos, apresentasse um plano de negócios credível, com lucros a curto prazo, e um plano de reestruturação com reduções de pessoal e de balcões.
Basicamente, o que as instituições europeias exigiram foi que o banco político do Estado funcione a partir de agora como um banco privado, respeitando as regras e a livre concorrência. Costa e Centeno aceitaram as condições e tiveram o mérito de as pôr em prática.
Veremos se agora não cedem à demagogia do BE, PCP, PSD e CDS no que toca aos vencimentos dos gestores e à bizarra questão da entrega das declarações de rendimentos no Tribunal Constitucional.
Uma novela triste em nome de uma falsa transparência, com um coro de vozes muito indignadas, dirigido pelo inefável Presidente da República, na qual os próprios juízes do Palácio Ratton não se querem meter. O presidente do Tribunal Constitucional, numa tirada humorística, entrou brevemente na discussão apenas para dizer que o tribunal tem de ser estimulado e, até agora, ninguém o estimulou para mexer no assunto. Mas é natural que o estimulem. Por uma razão. A esquerda que está no poder, neste caso BE e PCP, e a esquerda que está na oposição, leia-se PSD e CDS, odeiam a solução encontrada para a CGD. Odeiam pensar que, quando voltarem ao poder, vão deixar de nomear amigos para a gestão e impor créditos ruinosos a amigos que financiam as suas campanhas eleitorais.
A Caixa Geral de Depósitos de negócios políticos e agência de emprego de políticos desocupados morreu em boa hora. Está a nascer a Caixa Geral de Depósitos dos empréstimos às famílias e às empresas, do apoio real à economia, dos lucros, da boa gestão e da entrega de dividendos ao acionista. Por ironia do destino e graças à divina intervenção europeia, é bem possível que seja este governo da geringonça, apoiado pela extrema-esquerda estatista e coletivista, a acabar de uma vez por todas com o monstro político financeiro e a vender a nova Caixa Geral de Depósitos aos privados. Apesar de todos os crimes que andam a cometer na economia e nas finanças públicas, só por isso Costa e Centeno merecem uma estátua à entrada da pavorosa sede cavaquista da CGD. O banco político morreu. Viva o novo banco privado.
Jornalista