Um dos jogos mais aguardados do ano era um jogo de pré-temporada… disputado na China. Isso mesmo. E é assim todos os anos, mas neste 2016 a coisa era ainda mais aliciante. Não era um simples derby entre Manchesteres, era muito mais do que um United-City. Era também um Mourinho-Guardiola, ou uma reedição do que tinha sido em Espanha no tempo em que os dois treinadores se cruzaram na Liga espanhola (2010-2012) quando o português treinava o Real Madrid e o espanhol liderava o Barcelona.
As turras, bocas e ameaças entre os dois rivais passaram agora para Inglaterra e, como um-mais-um-são-dois joga-se primeiro na China. Só a chuva impediu que os adeptos (alguns viajaram mais de 8 mil quilómetros) visse o duelo em primeiríssima mão.
Mas o que faz os clubes mais ricos atravessarem o globo para participarem em torneios de pré-época, sem alguns dos melhores jogadores, a jogarem mal e ainda semi-perros? Vão à procura de dinheiro e adeptos.
O Real Madrid receberá 18 milhões de euros (ver quadro) só pela participação em torneio como a International Champions Cup, uma tour que começou em Montreal, passou pelo Ohio e Michigan e, claro, termina em Nova Iorque. Como se fossem uma banda rock. É já um costume. O Real Madrid desde 2009 que levanta voo em Madrid e aterra do outro lado do Atlântico para fazer as pré-temporadas. Dá dinheiro, prestígio e amplia a base de adeptos: além de tempo quente e excelentes instalações. E, repito, muito e muito dinheiro.
É uma mistura de adeptos com a participação dos principais patrocinadores, que envolve milhões de euros em parcerias. A Audi assinou uma lucrativa extensão do seu contrato para permanecer como o principal patrocinador do torneio enquanto a Fox pagou bastante para assegurar os direitos televisivos.
Muitos dos jogos realizam-se em estádios de grande capacidade e isso também origina lucros para os investidores. As marcas lutaram para aparecerem nas camisolas nos clubes de topo na Europa o que transforma estas tournés de pré-época mais negócio do que desporto.
Às vezes há azares, como este último que impediu que em Pequim Mourinho e Guardiola se defrontassem. A chuva impediu a realização do jogo no Estádio Ninho de Pássaro, arrasado pelo temporal. Os dois clubes chegaram a acordo pelo menos numa coisa: na devolução do dinheiro aos adeptos – os bilhetes custavam entre 70 e 355 euros. Agora, só em setembro (dia 10), data do derby no calendário da Premiere League. E aí sim, será (outra) vez a primeira vez que os dois se enfrentarão.
Antes, podem contentar-se com um vídeo de desculpas, que irá ser feito para compensar o tempo e o dinheiro perdidos. Back in the USA (de volta aos EUA). O jogo entre o Real Madrid e o Chelsea levou mais de 100 mil pessoas ao estádio de Michigan (105,826 mil para sermos mais precisos). Surpreendido? Só se for do Chelsea. Foi o jogo com maior assistência num jogo com o Chelsea e o segundo com mais gente na história dos Estados Unidos, só atrás de outro particular: Manchester United-Real Madrid no mesmo estádio em 2014, que levou 109,318 espetadores.
Os blancos venceram os blues por 3-2 mas o que fica são os impressionantes números, o que prova outra coisa: a paixão dos americanos pelo soccer está a crescer e o favoritismo para a organização do Mundial de 2026 também. Alguém deu pela falta de Ronaldo, Bale, Benzema ou Toni Kroos? Esses estão a descansar depois do Campeonato da Europa e deixaram muitos corações destroçados – e, quem sabe, o recorde de assistência teria sido batido. “As pré-épocas são agora para fazer tours e viagens”, explica Fernando Torres ao LA Times, ele que está cansadinho de as fazer nos outros anos com o Liverpool, Chelsea, Milan e Atlético de Madrid. “Fomos à Ásia, agora aos Estados Unidos. Mal a época acaba ponho na minha cabeça que não podemos descansar, temos mais tours, mais jogos, vamos jogar a vários continentes. Isso faz parte do futebol dos dias de hoje”, conta o avançado.
É a vida de um futebolista de topo, cuja média num ano é de um jogo por semana com campeonato, torneios, qualificações a Europeus, Mundiais ou Taça Libertadores e jogos de exibição.