Democratas. O partido foi de Michelle e ela fez o que quis

Democratas. O partido foi de Michelle e ela fez o que quis


A convenção era de Hillary Clinton e a noite pertencia a Bernie Sanders, mas a estrela foi Michelle Obama. A mãe, esposa e mulher Michelle uniu o partido .


A ainda primeira dama dos EUA (FLOTUS) subiu ao palco da Convenção Nacional Democrática para fazer um discurso sem falhas e com os alvos bem definidos – e só utilizou um nome durante os 14 minutos que durou a sua intervenção: Hillary. Nem Trump ou a sua mulher Melania (que lhe plagiou o discurso de 2008) nem Bernie e os seus fervorosos apoiantes tiveram direito a essa honra, mas saíram marcados. Oito anos depois de falar pela primeira vez numa convenção, a apoiar o marido, Barack, como candidato à Casa Branca, mostrou na noite de segunda-feira que tem carisma suficiente para ser ela própria uma verdadeira força política (caminho esse que sempre rejeitou). Filadélfia rendeu-se a Michelle e o partido uniu-se quando antes parecia fraturar–se com os insatisfeitos e frustrados partidários de Bernie Sanders.

Poucos dias antes do arranque da convenção que oficializará, quinta-feira, Hillary como a candidata às presidenciais de 8 de novembro, tinha ficado a saber–se, através dos 20 mil emails tornados públicos pelo WikiLeaks, que o aparelho tinha beneficiado Hillary em detrimento de Sanders. Assobios e vaias aos oradores eram uma constante durante a noite, mas tudo mudou quando Michelle apareceu. Palavras certas e frases poderosas calaram o Wells Fargo Center e deixaram a assistência em êxtase.

Foi a vez da mãe Michelle (mãe de Sasha e Malia) se dirigir à mãe Hillary (mãe de Chelsea) e lembrar que esta eleição é sobre o futuro das crianças e da próxima geração – e da esperança que tem no próximo presidente para confortar esse desejo. “Como em cada eleição, trata-se de quem terá o poder de formar os nossos filhos pelos quatro ou oito anos seguintes”. E recordou: “Há uma única pessoa em quem confio para essa responsabilidade, a única que creio que está preparada para ser presidente dos Estados Unidos nesta eleição, e é a nossa amiga Hillary Clinton”, exaltou.

E não esqueceu a importância histórica da eleição de Barack há oito anos, fazendo a ligação à possibilidade de uma mulher chegar ao mais alto cargo da nação. “Acordo todas as manhãs numa casa que foi construída por escravos e vejo as minhas filhas, duas belas e inteligentes meninas negras, a brincar com os seus cães no jardim da Casa Branca”, parou, interrompida por mais uma ovação. “Por isso, as minhas filhas e as filhas e os filhos de todos podem agora considerar natural que uma mulher possa ser presidente dos Estados Unidos”.

Sem nunca dizer o nome de Trump, o candidato republicano não foi esquecido. “Os desafios que um presidente enfrenta não são preto ou branco e não podem ser reduzidos a 140 carateres”, atirou, referindo-se à avidez de Trump no Twitter. Quase pedagógica, lembrou que quem suceder ao seu marido na Casa Branca irá comandar as Forças Armadas e os botões do arsenal nuclear, lembrando o caráter impulsivo e inexperiente do adversário de Hillary nas eleições de novembro.

Até atingir o soundbite mais tonitruante da noite numa referência ao caráter agressivo e trauliteiro do republicano, condenando o “discurso de ódio de figuras públicas na televisão”. “O nosso lema é ‘quando eles descem o [nível], nós elevamos’ (”Our motto is, when they go low, we go high”). Terminou em grande estilo: “Vamos ao trabalho” para eleger Hillary Clinton. Sai como entrou, como um furacão. Em 2014, 69% dos americanos diziam bem do seu desempenho acerca dos primeiros cinco anos como primeira dama, segundo a última sondagem do Centro de Pesquisa Pew, melhor que as antecessoras Laura Bush (65%) e Hillary Clinton (55%), que também passaram oito anos na casa mais conhecida de Washington. No final do discurso, o Twitter foi inundado com 40 comentários por segundo sobre Michelle e o mais partilhado de todos foi o de Barack: “Discurso incrível de uma mulher incrível. Não podia estar mais orgulhoso e o nosso país é abençoado por tê-la como FLOTUS. I love you, Michelle”.