A causa que juntou Ulrich ao Bloco de Esquerda


Se o objetivo é atingir o governo de esquerda, o tiro pode sair pela culatra aos tecnocratas de Bruxelas: há limites para a humilhação.


O Europeu de futebol uniu o país em torno de Cristiano Ronaldo. Pouco falta para que as anunciadas sanções de Bruxelas venham a unir o país em torno de António Costa. Se o objetivo é atingir o governo de esquerda, o tiro pode sair pela culatra aos tecnocratas de Bruxelas: há limites para a humilhação. E se é verdade que esta “mão pesada” se destina antes do mais a travar o euroceticismo no norte da Europa, que acabou de assistir ao Brexit, a ameaça conseguiu juntar Fernando Ulrich e o Bloco de Esquerda.

O banqueiro Fernando Ulrich, do BPI, conseguiu tornar-se um dos símbolos dos anos punitivos da troika quando, interrogado sobre se o povo português conseguiria aguentar um programa de austeridade tão duro, respondeu: “Ai aguenta, aguenta.” Foi o meme mais repetido entre os opositores ao programa da troika e às políticas do governo anterior.  Hoje, o discurso de Ulrich está igual aos dos seus antípodas, os bloquistas. “Não quero que haja sanções ao meu país. Tendo Portugal e os portugueses feito um enorme esforço seria uma injustiça”, disse ontem Ulrich, afirmando que o que a União Europeia devia fazer era “estimular os portugueses” em vez de avançar com medidas deste género, que tornam “mais difícil que as pessoas percebam a Europa”.

Fernando Ulrich toca aqui num ponto–chave. Portugal sempre foi um dos países mais europeístas (evidentemente que a entrada na União Europeia transformou o país de Terceiro Mundo que era Portugal antes dos anos 90 num país “europeu). Mas nos últimos tempos, o euroceticismo, devagarinho, está em crescendo. É impossível, com a Europa a funcionar desta maneira – sancionar Portugal por não terem funcionado as medidas que ela própria impôs -, que o euroceticismo não cresça. Claro que uma das questões é tentar evitar o aumento do euroceticismo a norte, para quem os países do sul são uns “gastadores irresponsáveis”, numa versão muito especial de racismo. As coisas, assim, não vão longe. O Muro de Berlim também caiu.

 

 

A causa que juntou Ulrich ao Bloco de Esquerda


Se o objetivo é atingir o governo de esquerda, o tiro pode sair pela culatra aos tecnocratas de Bruxelas: há limites para a humilhação.


O Europeu de futebol uniu o país em torno de Cristiano Ronaldo. Pouco falta para que as anunciadas sanções de Bruxelas venham a unir o país em torno de António Costa. Se o objetivo é atingir o governo de esquerda, o tiro pode sair pela culatra aos tecnocratas de Bruxelas: há limites para a humilhação. E se é verdade que esta “mão pesada” se destina antes do mais a travar o euroceticismo no norte da Europa, que acabou de assistir ao Brexit, a ameaça conseguiu juntar Fernando Ulrich e o Bloco de Esquerda.

O banqueiro Fernando Ulrich, do BPI, conseguiu tornar-se um dos símbolos dos anos punitivos da troika quando, interrogado sobre se o povo português conseguiria aguentar um programa de austeridade tão duro, respondeu: “Ai aguenta, aguenta.” Foi o meme mais repetido entre os opositores ao programa da troika e às políticas do governo anterior.  Hoje, o discurso de Ulrich está igual aos dos seus antípodas, os bloquistas. “Não quero que haja sanções ao meu país. Tendo Portugal e os portugueses feito um enorme esforço seria uma injustiça”, disse ontem Ulrich, afirmando que o que a União Europeia devia fazer era “estimular os portugueses” em vez de avançar com medidas deste género, que tornam “mais difícil que as pessoas percebam a Europa”.

Fernando Ulrich toca aqui num ponto–chave. Portugal sempre foi um dos países mais europeístas (evidentemente que a entrada na União Europeia transformou o país de Terceiro Mundo que era Portugal antes dos anos 90 num país “europeu). Mas nos últimos tempos, o euroceticismo, devagarinho, está em crescendo. É impossível, com a Europa a funcionar desta maneira – sancionar Portugal por não terem funcionado as medidas que ela própria impôs -, que o euroceticismo não cresça. Claro que uma das questões é tentar evitar o aumento do euroceticismo a norte, para quem os países do sul são uns “gastadores irresponsáveis”, numa versão muito especial de racismo. As coisas, assim, não vão longe. O Muro de Berlim também caiu.