«Uma punhalada em pleno coração», escreve Vincent Duluc no «L’Équipe». Se alguém esperava por muitas laudas aos portugueses após a sua vitória no Campeonato da Europa, a imprensa francesa tratou de os desenganar rapidamente. Todos os principais jornais franceses debruçam-se sobre a derrota da França e quase nada sobre a vitória de Portugal.
«O golo de Éder aos 109 minutos privou cruelmente a equipa francesa do título de campeã da Europa que lhe estendia os braços. Mesmo apesar da lesão de Ronaldo (24m), os azuis não conseguiram estar totalmente à altura dos acontecimentos», destaca o mesmo jornal.
É preciso chegar à página 14 para que se comece a falar de Portugal e o motivo é a lesão de Ronaldo, muito embrulhada em paninhos quentes, benza-a Deus, como se a entrada de Payet não fosse completamente assassina, com dolo ou sem ele. Depois, sim, duas pagininhas, 17 e 18, dedicadas a Ronaldo, «lenda do seu desporto», e às quatro últimas presenças de Portugal nos Europeus, nas quais somou duas finais (uma vitória e uma derrota), uma meia-final e uns quartos-de-final.
O «Libération» escreve «La France KO» logo na sua página três, destacando as lágrimas de Ronaldo no momento em que se viu obrigado a sair de campo. «As borboletas voavam na noite, demasiadas e demasiadamente rápidas para que um acontecimento trágico não se abatesse sobre o Estádio de França», assim se começa a descrever a lesão do «capitão» português considera mais «impressionante do que maldosa». Algo de muito subjectivo, como se vê. Depois, generalidades sobre se se deve continuar a ter 24 equipas no Campeonato da Europa e mais uma página dedicada a Portugal mas na figura de… Durão Barroso.
Finalmente, o «Le Parisien» cumpre o seu serviço de fazer uma primeira página em tons de vermelho – Ronaldo levanta a taça no meio dos seus companheiros numa foto a corpo inteiro. «Não era o nosso dia», diz a manchete. Lá dentro, «A mais amarga das derrotas!» E a recordação das três meias-finais ganhas pela França a Portugal (Euro 1984; Euro 2000; Mundial 2006), afinando-se pela via das contas saldadas, tal a crueldade desta derrota caseira gaulesa. Veremos se ainda não haverá mais vitórias portuguesas a raiar o horizonte…
