Soares, Sampaio, Eanes e tutti quanti: a avaliação impiedosa que António Barreto faz dos políticos que conheceu

Soares, Sampaio, Eanes e tutti quanti: a avaliação impiedosa que António Barreto faz dos políticos que conheceu


Veja aqui alguns excertos


Lançado no início deste mês, “António Barreto – Política e Pensamento”, de Maria de Fátima Bonifácio (ed. D. Quixote), passa em revista a ação e o pensamento político do sociólogo que aos 34 anos já era ministro. Para o efeito, a autora realizou 17 entrevistas a Barreto, nas quais o entrevistado faz comentários impiedosos sobre os protagonistas políticos com quem privou.

Seguem-se alguns excertos do livro.

Sobre Jorge Sampaio:

«A ideia com que fiquei do Sampaio não era, nem é, muito lisonjeira. Achei-o das pessoas mais oportunistas do mundo. Só está interessado em estar no sítio certo, e as coisas vêm ter com ele».

Sobre a relação entre Soares e Vítor Constâncio:

Constâncio é «linchado» por Mário Soares, já Presidente, que «detesta Constâncio», dizendo dele, com supino desdém, que «‘ninguém pode pedir a uma galinha para voar’». Em Belém, «Soares intriga de manhã à noite para dar cabo de Constâncio»

Comparação entre Mário Soares e Salgado Zenha:

«Tenho mais apreço por quem tem [como Soares] alguma alegria sensorial, gosta de vinho, gosta de comer, e gosta de ovos estrelados, de mulheres… O outro [Zenha] estava mais próximo dos Savonarolas, dos Torquemadas, dos protestantes luteranos, ele sofria por estar apaixonado».

Sobre Ramalho Eanes:

«Nunca morri de amores por ele, […] não me entusiasmava, não me chamava».

Comparação entre Ramalho Eanes e Salgado Zenha:

«Eu aprecio no Eanes a integridade moral dele, a integridade de carácter, gosto de uma pessoa honesta. Mas no resto o Eanes é um tropeço, tudo aquilo é rústico e canhestro, rude, ele não tem a elegância no pensamento e na estética… O Zenha tinha a mesma integridade pessoal, mas era fino, tinha trato do mundo e tinha bibliotecas».

Sobre Mário Soares:

«Sempre achei que o Soares era uma pessoa excecionalmente inteligente, rapidíssimo, com uma enorme intuição política, [mas] sempre o achei um trafulha de ideias e de valores. O critério número um da vida dele é o lugar dele, a posição dele no mundo, e este é o critério de tudo o resto. Depois vêm as coisas de que ele gosta, ele gosta de liberdade com certeza, gosta de comprar gravatas de seda no Free Shop, gosta de comprar livros, mas nunca tive com ele uma coisa de verdadeiro afeto»

Um telefonema de Vítor Constâncio, quando este era secretário-geral do PS:

‘Quero-te dizer que já não tenho confiança em ti, que te vou demitir imediatamente do secretariado […]’. «Respondi-lhe com o maior palavrão que conheço». No dia seguinte, Barreto […] tinha no gravador uma chamada de Constâncio a repetir o recado da véspera. Numa segunda gravação, o mesmo Constâncio pedia desculpa: ‘Fui precipitado, já não te demito, afinal tenho confiança em ti.’ Barreto liga para Constâncio e diz-lhe: «Vai à merda, eu é que não tenho confiança em ti.»

Sobre Guterres:

À saída do congresso [no Pavilhão Carlos Lopes], Barreto declarou a Medina Carreira: «Eu nunca mais ajudo este gajo em nada. […] É um aldrabão, politicamente aldrabão»