O atleta português de Artes Marciais Mistas (MMA) João “Rafeiro” Carvalho morreu anteontem à noite no hospital Beaumont emDublin – como informou a sua equipa, a Nóbrega Team, no facebook – depois de estar 48 horas em estado crítico.
Nóbrega sentiu-se mal vinte minutos após perder por TKO no terceiro assalto contra Charlie “The Hospital” Ward, naquele que foi o primeiro combate internacional do português no Total Extreme Fighting (TEF). Segundo a imprensa irlandesa, o ministro do Turismo e do Desporto irlandês Michael Ring espera que seja aberta uma investigação que identifique as causas da morte do atleta de 28 anos, mas os relatórios médicos oficiais ainda não são conhecidos.
Para quem está neste desporto o risco de lesões é alto, no entanto, a morte de atletas é algo raro na MMA. Pelo menos é isso que defende o treinador e amigo de João Carvalho, Vítor Nóbrega, que o acompanhou até à Irlanda e que contou ao i todo o procedimento desde o fim do combate até ao hospital. “Ele foi atendido como é de ‘praxe’ em todos os eventos profissionais, depois foi levado para o gabinete médico e estava bem quando falou comigo. Mas passados 20 minutos sentiu-se mal e foi encaminhado para o hospital”, começa por dizer. Já no hospital, os médicos informaram o treinador de que a “situação era muito grave” – e que levou a uma intervenção cirúrgica cerebral –, algo que assustou Vítor Nóbrega. “ Assustei-me porque durante o combate não vi em nenhum momento algo que pudesse causar tal situação, mas prefiro esperar pela autópsia. Os médicos não nos deram grandes hipóteses, mas tivemos esperança até ao fim”, afirma.
Nóbrega ainda está em actividade e na sua carreira – onde leva quase 30 lutas profissionais – já assistiu a “lutas muito mais violentas e que não chegaram a este extremo”. Trata-se então de “uma fatalidade que não foi possível prever” porque as regras existentes protegem os atletas.
É portanto ainda cedo para tirar conclusões sobre a morte de João Carvalho, embora tenha apanhado de surpresa o mundo da MMA, o que faz com que as instituições da modalidade apelem à cautela. A Federação Internacional de Artes Marciais Mistas a par com a Associação Irlandesa de Lutas Amadoras preferiu – como divulgado nas redes sociais – não comentar o caso, aguardando agora pela divulgação dos relatórios médicos oficiais. Já a TEF, através do seu CEO Cesar Silva anunciou que “irá dar todo o apoio que a família do João precisar que pediu privacidade neste momento difícil”, como divulgado em comunicado no site da TEF.
As únicas reacções até agora foram do pai e também do treinador do adversário de João Carvalho. “Os socos não podem ter tido assim tanta força. Ele não foi para o combate para matar ninguém, foi sim para o vencer. O árbitro podia ter sido um pouco mais rápido”, disse ontem o pai de Charlie Ward à rádio irlandesa Liveline. Confessou ainda que o seu filho lhe disse que até “uma criança podia ter sido socada daquela forma”.
O treinador de Ward, John Kavanagh, publicou uma mensagem de pesar na sua página de facebook e partilhou igualmente uma campanha de crowdfunding da Associação Irlandesa de Lutas Amadoras de apoio financeiro à família para o funeral e custos relativos.
O i falou ainda com Jay “The Blast” Furness, um lutador profissional da Inglaterra do Norte que conta já com 30 combates da MMA e cerca de dez anos na modalidade, e que diz que esta é a “primeira vez que há uma morte ligada à MMA noReino Unido e na Irlanda”. O lutador não acredita que a morte de João Carvalho “mude o desporto em si”, mas espera que os lutadores, treinadores e patrocinadores possam “olhar seriamente para as medidas de segurança e para as lesões cerebrais” que são originadas neste desporto. “Às vezes não é possível prevenir estas situações, mas tem de se tirar uma lição deste acontecimento”, concluiu.