Turquia. Ataque terrorista leva a pressão sobre Washington

Turquia. Ataque terrorista leva a pressão sobre Washington


Os líderes turcos estão a tentar aproveitar o atentado de ontem para pressionar os EUA a deixarem de apoiar as milícias curdas na Síria.


O ataque terrorista de ontem em Ancara está a contribuir para azedar ainda mais as relações entre a Turquia e os EUA. Os responsáveis máximos do país, o presidente Recep Erdogan e o primeiro-ministro Ahmet Davutoglu, acusaram os curdos de responsabilidade pelo atentado com um carro-bomba que causou 28 mortos e mais de 60 feridos. Em concreto, apontaram o dedo ao ilegalizado partido curdo da Turquia, o PKK, e ao seu homólogo na Síria, o PYD, e o seu braço armado, o YPG.

“Foi determinado com um grau de certeza que o ataque foi levado a cabo por membros da organização terrorista separatista em conjunto com um membro do YPG que se infiltrou a partir da Síria”, disse Davutoglu aos jornalistas. O homem foi identificado como Salih Neccar, sírio de origem curda, de 24 anos. “Apesar de os líderes do PYD e do PKK dizerem que nada têm a ver com o assunto, a informação recolhida pelo ministro do Interior e pelos serviços de informações determinou que o ataque foi da sua autoria”, continuou Erdogan.

O PYD recusou liminarmente qualquer ligação ao ataque. Segundo os media turcos, um dos responsáveis do PKK, Cemil Bayik, terá também rejeitado a autoria à agência de notícias Fırat, próxima do PKK. Mas com nuances: “Não sabemos quem foi, mas poderá ter sido um ato de retaliação”, terá dito Bayik, segundo o jornal turco “Dayly Sabah”. “É óbvio que é compreensível que, num ambiente de uma cruel guerra contra os curdos, algumas pessoas retaliem.” E acrescentou uma ameaça: “Aproxima-se uma nova época em que a guerrilha [curda] será mais ativa nas cidades.”

Ancara, por seu lado, está a tentar pressionar ainda mais os EUA, a quem tem pedido para avançar com uma ofensiva terrestre na Síria, que Washington tem negado. Neste momento, a Turquia está a bombardear posições curdas na Síria e no norte do Iraque (bombardeamentos transfronteiriços no primeiro caso e aéreos no Iraque), onde os curdos têm tido sucesso militar, sendo os mais eficazes aliados de Washington contra o Estado Islâmico.

Erdogan, num recado para os EUA, afirma que o ataque revela à comunidade internacional os laços existentes entre o PKK (considerado terrorista pelos EUA e a UE) e as forças curdas na Síria. O primeiro-ministro foi ainda mais longe: “Os que direta ou indiretamente apoiam uma organização que é inimiga da Turquia arriscam-se a perder o título de amigos da Turquia.”

Washington ainda não respondeu. Hoje é o prazo acertado para o início do cessar-fogo na Síria. A concretizar-se, servirá também para acalmar esta tensão diplomática.

teresa.oliveira@ionline.pt