Passos quer PSD mais ao centro para aproveitar “mutação em curso do PS”

Passos quer PSD mais ao centro para aproveitar “mutação em curso do PS”


Ex-PM apresenta recandidatura à liderança na quinta-feira com o slogan: “Social-democracia, sempre!”.


Pedro Passos Coelho apresenta na quinta-feira à noite a recandidatura à liderança do PSD e até Abril – o congresso está marcado para os dias 1, 2 e 3 em Espinho – vai dar a volta ao país em contacto com os militantes do partido. Com o slogan “Social-democracia, sempre!”, o ex-primeiro-ministro quer passar a mensagem de que a troika o obrigou a virar à direita, mas que neste novo contexto, em que o PS está encostado à esquerda radical, o PSD é o verdadeiro partido de centro.

“Criaremos uma oportunidade para mostrar que o PSD continua a ser um partido social-democrata com a capacidade de fazer, transformar o país, mobilizar os portugueses e oferecer do país uma visão ambiciosa que todos precisamos de concretizar”, diz Passos, num vídeo divulgado ontem nas redes sociais.

A intenção não é dar uma guinada ideológica, mas aproveitar o novo cenário político para colocar o PSD ao centro. “Nunca ouviremos Passos Coelho admitir que abandonou a matriz social-democrata”, garante um social-democrata. O que não o impede de apresentar “uma agenda mais carregada do ponto de vista da social-democracia” e de “recentrar o partido num novo quadro, sem troika”.

Passos conta ainda com outro trunfo para se apresentar ao eleitorado com um PSD mais ao centro: o acordo entre o PS e os partidos à sua esquerda. Numa entrevista que deu recentemente ao “Diário de Aveiro”, o presidente do partido diz que o PSD é “claramente uma força que se coloca mais ao centro”, enquanto “o PS tem conhecido uma deriva radical”.

Passos Coelho garante que há “uma mutação” em curso no interior do PS, que impede a existência de acordos de regime. “Há uma nova geração do PS que se identifica mais com a linha do Bloco de Esquerda e até do PCP do que era expectável encontrar há uns anos (…) O que me parece é que a nova geração que tem mais predominância na liderança do PS se identifica mais com esses movimentos radicais do que com o passado do Partido Socialista”.

Sem nenhum adversário interno de peso nas eleições diretas do próximo dia 5 de março, Passos recandidata-se a um quarto mandato – foi eleito pela primeira vez em 2010 – com uma agenda focada na reforma do Estado, nas políticas sociais, nas políticas de natalidade ou na necessidade de reduzir assimetrias regionais. O ex-primeiro-ministro, que terá José Cesário como diretor de campanha, garante que não ficará apenas “à espera que o executivo falhe” e vai começar a preparar “um programa que, num futuro próximo, possa constituir um motivo de confiança e de esperança”.

Direção renovada A mudança vai passar também pela direção do partido.”É inevitável que haja mudanças”, diz um dirigente próximo de Passos. O vice-presidente do PSD, Carlos Carreiras, já tinha defendido, em entrevista ao i no final de janeiro, uma “profunda renovação na direção do partido”, porque há “uma diferença substancial” entre estar no governo ou na oposição. A nova geração do PSD vai ter peso na nova equipa de Passos.

A caminhada de Passos até ao congresso de Espinho vai ser pacífica. Mesmo os críticos desta direção consideram que este ainda não é o momento para disputar a liderança, perante o domínio do ex-primeiro-ministro no aparelho do partido. “Não acredito que apareça alguém. Vai ser um congresso para discutir propostas e ideias e de aclamação da liderança”, diz um apoiante de Passos. A sobrevivência do ex-primeiro-ministro estará, porém, sempre dependente do sucesso ou insucesso da estratégia de António Costa.

Rui Rio já deu um sinal de que não está fora do jogo político. Na Quadratura do Círculo, em Dezembro, Rio defendeu que “é evidente que Passos Coelho vai ter dificuldades em ganhar a próxima eleição. Se for ele o líder do PSD, vai ter uma dificuldade muito maior do que teve há quatro ou cinco anos, porque era uma novidade”. O social-democrata, que esteve para avançar nas presidenciais, mas desistiu da candidatura, argumentou ainda que outra liderança teria mais facilidade em conseguir acordos de regime com o PS. O que ainda não disse foi se está disponível para a liderança do partido.

luis.claro@ionline.pt