Vários cientistas portugueses a viver fora do país lançaram ontem a primeira sessão de ciência dedicada a crianças luso-descendentes na Alemanha, numa aula “muito dinâmica, em que se estabelece o diálogo, permitindo mostrar a diversidade da ciência”. Em declarações à agência Lusa em Berlim, Joana Moscoso, bióloga de formação, disse que a ciência incentiva à aprendizagem do português entre as crianças descendentes de emigrantes lusos, que nem sempre dão valor à língua portuguesa.
“As crianças adoram porque não se dão conta de que estão a aprender português. Aprendem vocabulário novo e criam uma memória positiva e interessante em português, destruindo a ideia de que a língua que se fala em casa é obsoleta. Fazemos com que tenham orgulho em falar aquela língua”, referiu a cientista.
As sessões contam com cerca de 20 crianças e cinco cientistas de diversas áreas, que, durante 90 minutos, vão rodando entre pequenos grupos e mostrando “objectos de laboratório, maquetes, modelos de cérebro, modelos do olho, fazendo miniexperiências como a extracção do ADN, e vêem coisas à lupa ou ao microscópio”, enunciou a co-fundadora da Native Scientist. A Native Scientist é uma empresa fundada em 2013 por duas cientistas portuguesas sediadas em Londres com o objectivo de fortalecer as comunidades de emigrantes portugueses através da ciência.
Joana Moscoso e Tatiana Correia iniciaram o projecto quando se aperceberam de que “os meninos portugueses em algumas escolas inglesas eram as crianças com pior aproveitamento escolar e com pouca ambição profissional”. A cientista acrescentou que escolheram os filhos de emigrantes portugueses porque “para se ter um bom aproveitamento escolar é preciso haver um bom acompanhamento em casa e os emigrantes portugueses são normalmente pessoas que trabalham imenso e acabam por ter menos tempo para os filhos”.
A cientista acrescentou que “é muito comum as crianças bilingues terem um aproveitamento escolar um bocadinho abaixo da média nos primeiros dois anos de escola”, mas garantiu que, uma vez ultrapassada a barreira da língua, acabam por ter melhores resultados que os ingleses monolingues.
Joana Moscoso afirmou que existe “algum preconceito” relativamente aos falantes da língua portuguesa em Inglaterra e o projecto acaba por trabalhar “a imagem de Portugal na sociedade inglesa porque os directores das escolas começam a perceber que o português é uma língua útil”.
Depois da primeira sessão em Berlim, que decorre na embaixada de Portugal, as cientistas querem levar o projecto a outras cidades alemãs, como Estugarda, num total de três sessões durante o ano escolar de 2015-2016. A Native Scientist, uma empresa premiada internacionalmente, já levou mais de 50 cientistas portugueses a 800 crianças luso-descendentes na Inglaterra, no País de Gales, na Escócia, em França e agora na Alemanha.
Com Lusa