José Sócrates almoçou este domingo, na antiga FIL em Lisboa, com mais de 400 apoiantes, numa iniciativa promovida pelo movimento cívico “José Sócrates Sempre”. O almoço serviu para marcar um ano da detenção do ex-primeiro-ministro que lançou este domingo várias críticas e avisos ao sistema judicial, em particular aos responsáveis pelo inquérito de que foi alvo. Mas também não esqueceu o meio político: “Se o objectivo de alguns foi calar-me, ficam agora a saber que a minha voz está de volta ao debate público”.
O almoço serviu, no entender de Sócrates, para “celebrar a amizade”, mas o discurso serviu principalmente para atirar à condução do inquérito e à ausência de uma acusação no processo em que está indiciado de fraude fiscal, branqueamento de capitais e corrupção”. “Ao fim de um ano não conseguem apresentar provas”. A frase foi cortada pelos gritos na sala: “Fascismo nunca mais”. E Sócrates continuou dizendo que isso “desprestigia o Estado de Direito”, acusando o Estado português de “fariseísmo ao apontar o dedo aos outros sem resolver os problemas internos”. A frase saiu a propósito das manifestações junto de Timor-Leste por ter preso preventivamente cinco meses sem acusação.
Sócrates mantém a sua suspeita de que se ainda não foram apresentadas provas é porque “nunca as tiveram. Todas as acusações foram falsas, gratuitas e injustas”. E comparou o “espectáculo do passa-culpas” na política ao que se passa na Justiça: “Já temos espectáculo público de divergências entre os vários intervenientes no processo”.
Para o fim da sua intervenção perante os apoiantes no almoço em Alcântara, Sócrates guardou as “considerações políticas” que iniciou logo dizendo: “Se o objectivo de alguém foi calar-me, fiquem aqui a saber que a minha voz política está de volta”. Durante o discurso, o ex-PM prometeu várias vezes que vai manter-se activo, através de declarações e entrevistas: “Não vou calar-me”. Sobre o actual governo, disse que “o único golpe que existiu foi o que deram em 2011”, quando PSD e CDS se uniram à esquerda para derrubar o PEC IV, que acabou na demissão do governo então liderado por José Sócrates. Depois atirou-se ao Presidente da República que acusou de estar a tentar “desacreditar a única solução de governo que existe” e ironizou: “Seu tanto trabalho a pôr lá a direita em 2011, que está a custar-lhe tirá-la de lá”.
O restaurante da antiga FIL esteve cheio e também compareceram algumas caras socialistas. Sócrates chegou acompanhado de Mário Soares e à sua espera tinha já o presidente honorário do PS Almeida Santos, o ex-ministro da Justiça Alberto Costa, o deputado Vitalino Canas, o ex-ministro Mário Lino, António e Paulo Campos, Joaquim Raposo ou Carlos Silva da UGT. Os apoiantes vieram de várias zonas do país e até de autocarro, como foi o caso de dezenas de pessoas vindas de Vila do Conde num veículo que estacionou à porta do restaurante a poucos minutos da hora marcada para o início do almoço.