“O Senhor Manglehorn” não é excepção e, não fosse o facto de a produção ser também desse ano, a história realizada por David Gordon Green poderia sugerir um cruzamento entre a busca por resgatar o tempo perdido do primeiro e a decadência trazida pela idade do segundo. No filme que agora se estreia, o actor é A. J. Manglehorn, um antigo treinador de basebol, homem solitário, obcecado pela perda do grande amor da sua vida, que dedica os dias à actividade de serralheiro e à velha gata. Ao mesmo tempo, tenta evitar o relacionamento com outros seres humanos, limitando-o a uns escassos contactos com o filho Gary e com Dawn, a empregada do banco do qual é cliente. Grande parte do filme mostra um homem aparentemente sem vontade de mudar, preso a uma obsessão do passado e relutante em assumir a sua quota-parte de responsabilidade nos acontecimentos, fugindo às oportunidades que a vida lhe oferece. Mas Al Pacino nem sempre nos convence a seguir a história, sobretudo porque a narrativa se arrasta e arrasta o protagonista com ela, dando por vezes a sensação de que o actor está desejoso que tudo acabe depressa. Pelo meio, deixam-se muitas pontas soltas e umas escassas pistas sobre a personalidade do protagonista, insuficientes para revelar mais sobre a sua apregoada complexidade. O desfecho escolhido tenta dar um sentido à história, mas afigura-se pouco esforçado. No final, o que sobra, mesmo assim, é ainda o prazer de ver Al Pacino.
“O Senhor Manglehorn”
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De David Gordon Green
Com Al Pacino, Holly Hunter, Harmony Korine e Chris Messina