Mikheil Saakashvili foi presidente da Geórgia, a pequena república do Cáucaso, durante nove anos, entre 2004 e 2013. Quando foi eleito tinha 37 anos e era o líder mais jovem eleito na Europa. Chegou ao poder depois da chamada “revolução rosa”, que correu da presidência Eduard Shevardnadze, o último ministro dos Negócios Estrangeiros da União Soviética.
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Depois de perder o poder no seu país natal, acusado de corrupção, Saakashvili reiniciou a sua carreira política na província ucraniana de Odessa, em Maio deste ano. Ironicamente, a sua primeira promessa foi acabar com a corrupção.
Saakashvili foi nomeado governador da região estratégica de Odessa pelo presidente Petro Poroshenko. Em Odessa, cidade com um milhão de habitantes, Poroshenko apresentou Saakashvili, a quem concedeu nacionalidade ucraniana, como “um grande amigo da Ucrânia”. As palavras do presidente Poroshenko, multimilionário e antigo magnata das fábricas de chocolate , foram claras: “Há um grande número de problemas em Odessa. É importante preservar a soberania, a integridade territorial, a independência e a tranquilidade”, mas também fazer “outra guerra, talvez ainda mais importante, à corrupção”, concluiu.
Saakashvili já desempenhava funções como conselheiro de Poroshenko. Os dois são conhecidos de longa data, uma vez que estudaram juntos na Universidade Nacional de Shevchenko, em Kiev.
O poder de Kiev tem confiança no georgiano por ele ser ferozmente anti-Rússia. O antigo presidente da Geórgia já esteve em guerra com Moscovo por causa da região separatista da Ossétia [ver texto secundário].
Para a função foi-lhe atribuída nacionalidade ucraniana, um requisito obrigatório para exercer o cargo de governador, que evita qualquer processo de extradição para a Geórgia ou a Rússia.
O mundo pós-soviético ficou surpreendido com a nomeação. Não há nenhum precedente, depois do desmantelamento da URSS, de um ex-presidente se mudar para outro país e assumir um cargo político de topo.
Depois de ter terminado o seu mandato na Geórgia, as autoridades locais iniciaram uma investigação sobre um golpe de Estado. Saakashvili é acusado de estar por trás dessa tentativa de derrubar o novo governo e de ter praticado uma série de crimes: violações de direitos humanos, abuso de poder, corrupção e um desfalque de mais de 5 milhões de dólares. O escândalo fez com que o antigo presidente se refugiasse nos Estados Unidos da América, onde viveu dois anos até se mudar para a Ucrânia.
Se se provar o seu envolvimento nestes casos, a situação não deixa de ser irónica, uma vez que prometeu acabar com a corrupção em Odessa. Saakashvili rejeita as acusações, que considera “infundadas e feitas por motivos políticos”.
Saakashvili espera um dia poder voltar ao seu país, mas prevê que tal viagem não acontecerá tão cedo, devido à importância das suas funções actuais em Odessa. “Estou aqui para evitar uma provocação da Rússia”, garante.
Primeiro-ministro da Ucrânia? Mas a sua importância não acaba aqui. A imprensa local e internacional, como a revista “The Economist” e o jornal “Wall Street Journal”, garantem que o georgiano é um sério candidato a tornar-se chefe do governo da Ucrânia.
Em entrevista à EuroNews há cerca de meio ano, Saakashvili não punha essa hipótese de parte, afirmando estar muito empenhado na luta pelas reformas políticas no seu novo país. “Quero trabalhar com o governo em Kiev, mas tenho consciência de que, sem verdadeiras reformas, não é possível mudar as coisas.”
Ontem, o antigo presidente da Geórgia e actual governador de Odessa confessou já estar preparado para assumir o papel de primeiro-ministro. “Gostaria de participar em grandes mudanças e reformas, e sei que tenho capacidade para o fazer”, avançou ao influente site norte--americano Politico.
A seu favor parece ter a opinião pública: as sondagens mais recentes mostram que Mikheil Saakashvili é o político mais popular da Ucrânia. No leste do país, os políticos pró-Rússia ganharam as eleições, mas a maioria dos ucranianos teme a Rússia, e o georgiano parece homem para impedir o abraço do poderoso vizinho de Kiev.
“Se a Ucrânia não contém a Rússia, acho que a Rússia conseguirá facilmente limpar a Geórgia e outros países bálticos do mapa. Uma Ucrânia forte significa um maior controlo sobre a Rússia”, acrescentou o possível candidato ao governo do país, defendendo uma Ucrânia “forte e estável”.