Sporting. Ganhar em consistência o que se perdeu em magia

Sporting. Ganhar em consistência o que se perdeu em magia


Saída de Carrillo e entrada de William no onze de Jesus mudaram filosofia dos leões em campo.


O Sporting é o líder isolado do campeonato português pela primeira vez desde Dezembro de 2013. Jorge Jesus chegou como bicampeão pelo Benfica e com a responsabilidade de dar um novo cérebro ao futebol dos leões. A era de um 4x3x3 com esta geração de jogadores implementado por Leonardo Jardim e actualizado por Marco Silva sofreu alterações e passou para 4x4x2.

Apesar de tudo, Jesus sempre manifestou a filosofia de que mais importante do que a táctica era o modelo do jogo. Podem ser quatro defesas, quatro médios e dois avançados, mas o que faz verdadeiramente diferença é a dinâmica colectiva em campo. 

Os exemplos dados na Luz aumentavam a pressão. Nani foi a principal saída e sobrou Carrillo como desequilibrador de topo, apontando para uma necessidade de mercado de chegar a um flanqueador que pudesse fazer a diferença. A contratação de Bryan Ruiz, costa–riquenho negociado ainda antes do anúncio do treinador, não chegaria para resolver a situação, mas foi o primeiro passo para uma adaptação ao modelo actual, em que os extremos perderam importância e o critério no meio-campo passou a ser a grande prioridade.

Dilema inaugural

A passagem do 4x3x3 para o 4x4x2 obrigava Jorge Jesus a encontrar uma solução para o habitual triângulo intermédio, composto por William Carvalho, AdrienSilva e João Mário. A lesão do primeiro noEuropeu sub-21 adiou o problema para Outubro, ficando os outros dois com a responsabilidade dividida.

Sporting tem mais golos marcados nos últimos quatro jogos oficiais (17) do que nos primeiros 11 da época (15)

A base dos leões foi essa até meados de Setembro. Adrien e João Mário no meio, Carrillo e BryanRuiz nos flancos, com uma preocupação assumida de jogar pelo centro, e Teo Gutiérrez e Slimani no ataque. A resposta em campo demorou a carburar enquanto a equipa crescia – os leões tinham dificuldades de concretização e nos primeiros oito jogos da temporada só não sofreram na Supertaça.

O regresso de William Carvalho (titular pela primeira vez a 1 de Outubro na Turquia, com o Besiktas) está a resolver dois problemas. Primeiro porque coincidiu praticamente com a exclusão de Carrillo, depois porque a equipa está mais concretizadora no ataque e sólida na defesa do que nunca. A qualidade do peruano continua a fazer falta (é sempre bem-vinda), mas foi a sua ausência que ajudou a precipitar a actual identidade do leão: William é dono e senhor no meio-campo, AdrienSilva surge como apoio principal e João Mário derivou para um flanco, à imagem do que já fizera no Europeu sub-21.

E é aqui que o Sporting entra numa ruptura radical com a versão de Marco Silva, em que Nani e Carrillo eram dois extremos desequilibradores que recorriam mais vezes ao individual do que ao colectivo. Com Bryan Ruiz e João Mário com prioridades opostas, o Sporting tem vindo a ganhar consistência no miolo sobretudo no campo ofensivo, mas também no defensivo.

Colete de forças

O Sporting de domingo sufocou o Benfica no meio-campo com o posicionamento interior de Bryan Ruiz e a pressão de João Mário, e conseguiu guardar a bola quando precisava graças à qualidade técnica dos quatro intérpretes. Os desequilibradores individuais continuam a existir, mesmo semCarrillo, mas estão guardados para o plano B, especialmente quando Jesus pretende dar um safanão no encontro. É assim que Mané, Gelson e até Matheus Pereira ganham espaço e minutos.

Regresso de William Carvalho empurrou João Mário para o lugar que era de Carrillo e alterou actuação da equipa

A fase do Sporting é a melhor da época e as quatro vitórias seguidas (5-1 vs. V. Guimarães, 4-0 vs. Vilafranquense, 5-1 vs. Skënderbeu e 3-0 vs. Benfica) demonstram também uma capacidade concretizadora que teimou em aparecer:os 17 golos em quatro encontros superam os 15 dos primeiros 11.

A tendência será para continuar a melhorar, garante Jorge Jesus. “Os jogadores estão num período de crescimento. Gostava que a equipa continuasse a ter estes níveis e este poder como equipa. Estamos ainda numa fase de crescimento, esta equipa vai jogar muito mais na segunda volta”, prometeu. Por agora, os indicadores são promissores. Os 20 pontos à oitava jornada são a melhor marca desde que a vitória vale três (1995/96) e os 17 golos marcados são a quarta melhor marca do período. No campo oposto, os cinco sofridos só são superados pelos quatro de 2007/08 e os três de 1997/98.

Jorge Jesus também está a viver um dos seus melhores arranques, só ultrapassado pela época de estreia na Luz. À oitava jornada, ainda sem defrontar Sporting e FC Porto, tinha 22 pontos, 30 golos marcados e cinco sofridos.