Guatemala. Ex-comediante Jimmy Morales é o novo presidente

Guatemala. Ex-comediante Jimmy Morales é o novo presidente


Deixou a comédia para entrar na política. A sua eleição é um grito de protesto. Tem uma tarefa difícil, o seu partido tem apenas 7% dos eleitos.


O ex-comediante Jimmy Morales venceu no domingo a segunda volta das eleições presidenciais na Guatemala com um resultado histórico, o dobro dos votos da sua principal adversária, Sandra Torres.

Com 100% dos votos apurados, Morales, líder da Frente de Convergência Nacional, foi eleito com 67,43% dos votos. A sua adversária, a ex-primeira-dama Sandra Torres, da Unidade Nacional da Esperança, obteve apenas 32,57% dos votos.

Segundo dados actualizados do Supremo Tribunal Eleitoral, dos mais de 7,5 milhões de guatemaltecos chamados às urnas, 4253,417 votaram, o que representa uma participação de 56,29% e 43,71% de abstenção.

Morales, comediante sem experiência política, toma assim posse no próximo dia 14 de Janeiro para um mandato de quatro anos.

Depois de ter sido eleito, Morales dirigiu-se ao povo guatemalteco. “Recebi um mandato para limpar a corrupção que anda a comer este país.” “Não tenho poderes nem faço magia mas o meu coração enche-se de amor por esta nação e juntos vamos lutar por ela. Obrigado pelo voto de confiança. O meu compromisso continua a ser com Deus e com o povo da Guatemala”, acrescentou o novo presidente.

O slogan “Nem corrupto nem ladrão” usado durante a campanha eleitoral convenceu os guatemaltecos e dá agora oportunidade ao comediante de cumprir as suas promessas, que não se baseiam apenas em erradicar a corrupção mas também em melhorar áreas como a economia, a educação e a saúde.

Para muitos analistas, a vitória de Morales é facilmente explicada. Não ter experiência na política pode representar um novo começo para um povo que está cansado de ver sempre as mesmas caras e que quer o país afastado dos escândalos de corrupção. “A vitória de Jimmy Morales é frágil porque o partido não tem organização. O voto foi uma rejeição do povo dos candidatos tradicionais e uma reacção à crise da corrupção”, disse o analista Phillip Chicolá.

Morales assumirá o poder com a missão de erradicar a corrupção e enfrentar um estado sem financiamento e em condições difíceis. O seu partido, Frente de Convergência Nacional, de direita, terá apenas 11 de 158 assentos no Congresso.

Para já, a principal tarefa de Jimmy Morales é elaborar o orçamento, que deve ser apresentado já no próximo mês, embora haja quem acredite que Morales não será capaz.

“Eu penso que não será fácil para Morales, mas poderemos ver isso durante esta semana, quando o Congresso começar a discutir o orçamento. Vamos ver a capacidade de negociação”, disse à AFP a socióloga Helen Mack, presidente da Fundação Myrna Mack de defesa dos direitos humanos.

Morales já anunciou uma reunião com o seu partido de governo com os líderes do Congresso para discutir as prioridades orçamentais, reunião que deverá decorrer durante esta semana.

O novo presidente da Guatemala não é apenas um comediante, é um protestante evangélico que assume ser contra o aborto, o casamento gay e a legalização das drogas. Segundo Morales, a sua falta de experiência política vai permitir criar um novo governo e trazer um novo e melhor rumo ao país. É formado em Administração de Empresas.

Corrupção No início do mês de Setembro, e depois de vários meses de pressão popular, o ex-presidente da Guatemala, Otto Pérez, demitiu-se a poucos dias das eleições, tendo sido posteriormente detido devido a escândalos de corrupção. 

O escândalo rebentou em meados de Abril, quando a Comissão Internacional contra a Impunidade na Guatemala, entidade da ONU, acusou Pérez de liderar uma rede fraudulenta que terá desviado milhões de dólares. A rede era conhecida como A Linha e consistia em pagar gorjetas a funcionários do governo e aduaneiros para evitar o pagamento de taxas aduaneiras. Otto Pérez e a ex-vice-presidente, Roxana Baldetti, também ela envolvida no escândalo, estão presos a aguardar julgamento.

Desde então os guatemaltecos saíram à rua para exigir o fim da corrupção e da impunidade, algo que só veio a ter fim depois da demissão de Otto Pérez.

Apesar de todos os acontecimentos e acusações, Otto Pérez garante estar inocente.

Pérez estava no poder desde 2012 e mesmo antes de se demitir já tinha perdido imunidade por votação unânime no parlamento.