Horas depois de o processo de José Sócrates ter sido disponibilizado aos advogados, é quase impossível obter uma reacção, uma vez que tudo o que se escreve e investiga no processo conhecido por Marquês preenche quase 22 mil folhas com decisões, actos processuais, escutas, levantamentos de segredo bancário, buscas e um imenso leque de resultados obtidos pelo Ministério Público (MP) e órgãos de polícia criminal.
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O primeiro volume seria, como em todos os casos, o início do processo, e o último daria conta de alguns actos processuais já depois da acusação proferida. Neste caso, a acusação ainda não está concluída e, por isso, o último despacho, que já não está no volume 55, diz apenas respeito à justificação do MP para não disponibilizar um determinado número de folhas do processo, uma vez que ainda estarão em curso diligências.
Noinício do processo, a suspeita dos crimes incide sobre o branqueamento e fraude fiscal (normalmente designados nas capas dos processos), mas os volumes finais já dão conta dos supostos crimes de branqueamento, fraude fiscal qualificada, tráfico de influência e corrupção activa.
Fonte judicial esclarece que tudo terá começado com os negócios que envolvem uma empresa, Codecity, de que fariam parte Rui Pedro Soares e a sua mulher, Diana Barroso Soares.
O processo identifica cerca de meia centena de transferências em 2009 que ascendiam a mais de 200 mil euros e que teriam como origem ou como destino as contas do casal. Os valores sucedem-se em 2010, 2011 e 2012 com um interveniente que viria a ser uma figura central do caso Marquês:Carlos Manuel Santos Silva. OMP lembra que Rui Pedro Soares teve ligação aos casos Taguspark e Face Oculta.
Numa das operações em 2012, o MP deu conta de uma transferência de 600 mil euros considerada suspeita para contas de empresas de Rui Pedro Soares. Tudo isto terá levantado dúvidas, mas as transferências de montantes de quantias elevadas tendo como intervenientes o ex-primeiro-ministro José Sócrates, a sua mãe, Maria Adelaide Carvalho Monteiro, e o empresário Carlos Santos Silva levantaram uma série de questões que, segundo os investigadores, importaria avaliar,
Os 600 mil euros cuja beneficiária terá sido a mãe de Sócrates, numa conta da Caixa Geral de Depósitos, através de três transferências de 200 mil euros, supostamente vindos da conta do BES de Carlos Santos Silva, levantaram suspeitas ao MP. Ao que tudo indica, elas terão sido agravadas com o depósito de 450 mil euros, creditado por Maria Adelaide Silva na conta de Sócrates.
Fonte ligada ao processo referiu que as transferências de dinheiro entre a mãe do ex-governante, o empresário, Sócrates e a sua ex-mulher,Sofia Fava, acabaram por ser um dos pontos fulcrais do processo. Os volumes referem as vendas das fracções da mãe de Sócrates a Carlos Silva, o apoio de José Sócrates aos negócios de Carlos Silva em Moçambique e a ligação ao caso da licenciatura, onde Carlos Silva seria o intermediário entre o ex-primeiro--ministro e o professor António José Morais. Ainda nos autos está referida a ligação de Sócrates e Carlos Silva no processo conhecido como Monte Branco.
Fontes judiciais referem que, no último volume, os advogados de defesa pedem a nulidade de parte do processo, por não terem tido acesso aos autos a 15 de Abril, como decidiu o Tribunal da Relação. A defesa alegou que, como não haveria segredo desde essa altura, a “obrigação de permanência na habitação”, justificada pela perturbação do inquérito, deixou de existir desde aí. Os advogados de Sócrates acusaram o MPde litigância de má- -fé. OMP não concordou com as pretensões da defesa.