Popoff. O vídeo volta a ser a estrela da televisão

Popoff. O vídeo volta a ser a estrela da televisão


Um clássico do início dos anos 90 regressa hoje na RTP Memória. O programa é reposto de madrugada e passa a ser diário entre hoje e sexta. Todas as semanas para saudosistas, curiosos, old school, novas gerações, músicos, artistas ou quem quiser saber mais


Ouvimos hoje o nome “Popoff” e soa ao mesmo: vanguardismo pop-rock, num Portugal que não via televisão assim (e que na verdade poucas vezes voltou a fazê-lo depois). Sofia Morais e Gimba na apresentação e uma equipa que incluiu José Pinheiro, Jorge P. Pires, Bruno Niel, António Forte, Nuno Tudela, Pedro Fradique e Henrique Amaro, entre muitos outros. Um tempo de mudança, irreverência, liberdade e desejo de contracorrente, anti-statu quo. E a RTPMemória repõe tudo a partir de hoje, à uma da madrugada (já quarta-feira, entendamos bem a matemática do tempo).

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A emissão desta noite apresenta telediscos dos Sétima Legião, de David Bowie e Madredeus, uma entrevista a Ricardo Camacho e uma das conversas denominadas “Contra a Parede”, neste caso com Miguel Ângelo, dos Delfins. Este regresso assustou o realizador do programa, José Pinheiro. Ficou “assustado” porque “as pessoas poderão não compreender o contexto em que o ‘Popoff’ foi emitido, por poder parecer datado e anacrónico e porque os primeiros episódios são assustadores a nível técnico”. Ainda assim, José Pinheiro ficou agradado “porque é uma oportunidade para algumas pessoas verem aquilo de que só ouviram falar, e para outras pode ser a chance de rever e de se reverem no Popoff”.

Pop On Uma voltinha no tempo e estamos no início, mais ou menos quando tudo começou. José Pinheiro explica-nos que na altura saía do “Lusitânia Expresso”, um magazine cultural assinado pela mesma produtora, a Latina Europa. Um programa que estava a acabar e ainda hoje considera “o pai espiritual do Popoff”. O realizador recorda a equipa, os artistas “e todos aqueles que ajudaram a fazer os 133 programas” – e como incontornáveis, além dos artistas, “os apresentadores, a Sofia Morais e o Gimba”.

Sobre a música na televisão portuguesa de hoje, José Pinheiro faz óbvia referência ao “Portugal 3.0”. E para lá do programa apresentado por Álvaro Costa diz-nos que não haverá uma versão moderna do “Popoff”. Para o realizador, o que falta “é a música ser bem tratada na televisão portuguesa. Não é associando-se a uma marca comercial que organiza um festival que uma estação de televisão cumpre a sua missão de apoiar as artes em geral e a música em particular”. Pinheiro atira que “não falta nenhum ‘Popoff’ na televisão”, mas acrescenta que “o que falta é aklgumas pessoas que mandam nas televisões perceberem o que lá andam a fazer”.

O programa tinha uma particularidade: todas as semanas se fazia um videoclip e alguns ficaram para a história, como “A Minha Sogra É Um Boi”, dos Mata Ratos, “John Wayne”, dos Repórter Estrábico, o “Sol da Caparica”, dos Peste & Sida, ou “És Cruel”, de Ena Pá 2000. Numa espécie de memória publicada no site da Antena 3, Gimba (ex-apresentador que entrevistamos aqui ao lado), lembra que “ia entrevistar o respeitável Rui Reininho num sofá instalado entre as duas faixas da Av. da Liberdade (éramos realmente muito à frente!”, escreveu). A dada altura ele terá confessado que não tinha ali dinheiro para um corte de cabelo e eu, espontaneamente, ofereci-lhe 500 escudos para ele ir ao barbeiro. Escusado será dizer que levei um valente raspanete do responsável da Valentim de Carvalho, pois aquilo não era maneira de se tratar um dos mais icónicos cantores portugueses, e ‘não há respeito’, e ‘tens a mania’, etc.”

Noutra peripécia, Gimba conta: “No Porto o pessoal do ‘Popoff’ estava em palco a cobrir um concerto dos Rádio Macau, e eu fiquei nos bastidores. Também por lá andava uma equipa da RTP a cobrir o concerto para o ‘Luz na Sombra’, uma série de programas da autoria de Sérgio Godinho (programas focados nas actividades ‘invisíveis’ de palco, como as dos técnicos de som, de luz ou dos roadies – no caso, Rui Fingers, guitarrista e roadie dos Rádio Macau). Decidimos entrevistar o Sérgio Godinho, só que o cantor – que já tinha feito a sua rubrica – estava já um pouco alegre à conta de certo vinho do Porto, e o nosso projecto foi abortado. Mas, como a minha equipa estava no palco a filmar os Rádio Macau e a dele também lá andava, às voltas com Rui Fingers, ficámos os dois à conversa no camarim. Dado o seu “Brilhozinho nos Olhos”, SG contou–me literalmente toda a sua vida “Desde Pequenino se Torce o Pepino” ao “Hair”, em Paris, passando por trips e gravações no Canadá, etc.”

Pop Off Aorealizador também não lhe faltam histórias, mas não gosta de as alardear. Ainda assim, José Pinheiro confessa que o “Popoff” lhe mudou a vida porque passou a dormir muito pouco e também porque foi “sugado para a música, qual buraco negro, e nunca mais de lá saiu”.

O realizador do “Popfff” da primeira à última hora escolheu o fim do programa como um dos momentos mais marcantes. Explica-nos que “por um lado foi um enorme alívio” porque acabaram “em grande forma e não em decadência ou a encher chouriços. Por outro, o desmembrar natural daquela força de intervenção rápida deixou-nos um pouco tresmalhados durante uns tempos”.

Quisemos saber se José Pinheiro acha que uma produção semelhante seria possível hoje. A resposta foi pronta: “Na net tudo é possível, portanto algo do género ou diferente pode acontecer diariamente. E não é necessária uma Net Memória.”