China ficará com um terço de central nuclear no Reino Unido

China ficará com um terço de central nuclear no Reino Unido


O acordo prevê também a possibilidade da construção de um reactor nuclear pela China em Bradwell, sudeste do Reino Unido, indicou o diário económico Les Echos.


A China concordou em ficar com uma participação de um terço na central nuclear a ser construída pela gigante francesa EDF em Hinkley Point C, no sudoeste da Inglaterra, segundo avançou hoje um jornal francês.

O acordo ficou concluído horas antes de o Presidente chinês, Xi Jinping, iniciar uma visita de quatro dias ao Reino Unido, impulsionada pelas boas relações económicas entre os dois países.

No conjunto, esta central nuclear, que deverá estar concluída em 2025, terá capacidade para fornecer cinco milhões de casas, abastecendo um total de 7% do consumo de electricidade do país.

A deslocação de Xi trata-se de uma das raras visitas à Europa de um chefe de Estado chinês tendo como destino um único país – em 2014, quando se deslocou ao 'velho continente', Xi visitou a Bélgica, Alemanha, França e Holanda.

Apesar da tensão e aberta animosidade registadas na década de 1990 sobre a transferência da soberania de Hong Kong – e da histórica "humilhação" causada pela sempre lembrada Guerra do Ópio – o Reino Unido é hoje o principal destino do investimento chinês na Europa.

É também "o aliado mais próximo dos EUA", lembrou Gao Zhikai à agência Lusa em Pequim.

Antigo intérprete de Deng Xiaoping, formado em língua inglesa e com um mestrado em Ciências Políticas na Universidade de Yale, Gao Zhikai, 53 anos, é um dos mais conhecidos comentadores da televisão chinesa.

O Reino Unido foi a primeira nação ocidental a solicitar a adesão ao Banco Asiático de Investimento em Infraestruturas (BAII), uma instituição financeira internacional proposta pela China.

A decisão, que levou Washington a manifestar publicamente o seu desagrado, acabou por ser replicada por mais de vinte países fora da Ásia, da Austrália à Alemanha, incluindo Portugal.

O BAII é visto como uma reacção do Governo chinês ao que considera o domínio norte-americano e europeu em instituições globais como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial.

No mês passado, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, e o ministro da Economia britânico, George Osborne, assinaram 53 acordos, em Pequim, prevendo a utilização da "City" londrina como ponte para a internacionalização da moeda chinesa, o yuan.

O ministro inglês anunciou ainda um plano para interligar as bolsas de valores de Xangai, a principal praça financeira da China, e a de Londres.

"O Reino Unido precisa de continuar a inovar o seu sector financeiro. Esse julgo que é o motivo que leva Londres a promover tão activamente as relações com a China", afirmou Gao Zhikai.

Acordos comerciais e investimentos representando mais de "30 mil milhões de libras" (41 mil milhões de euros) e a "criação de 3.900 empregos" no Reino Unido vão ser assinados durante a visita do Presidente chinês.

"Isto vai ser um momento muito importante para as relações sino-britânicas. O comércio e os investimentos entre as nossas duas nações aumentam e os laços entre os nossos dois povos são fortes", declarou o primeiro-ministro britânico, David Cameron, em comunicado distribuído na segunda-feira.

Além de uma central nuclear, está ainda previsto a construção de linhas ferroviárias de alta velocidade, por uma empresa chinesa, em solo britânico.

No primeiro semestre do ano, o número de turistas chineses a visitar o país europeu atingiu um recorde de 90.000, um crescimento homólogo de 28%, segundo dados oficiais.

"A relação com a China é muito positiva para a economia britânica", realçou Gao.

Lusa