Altice. SIC pode perder 9 milhões em receitas e está a cortar pessoal

Altice. SIC pode perder 9 milhões em receitas e está a cortar pessoal


A Impresa anunciou despedimentos: cerca de 60 pessoas perderão emprego, 20 das quais no canal de Carnaxide.


A Altice, dona da MEO, está a renegociar os contratos com fornecedores e a “política de terra queimada” por que é conhecida internacionalmente já está a provocar estragos em Portugal. Que o diga a Impresa, de Pinto Balsemão: a SIC poderá perder 9 milhões em receitas a partir de 2016.

Logo em Junho, a PT começou a enviar cartas aos seus fornecedores em que propunha cortes de 30% nos preços dos serviços. Na altura, algumas das empresas contactadas pelo i já estavam a prever algo semelhante, assim que se soube da compra da PT pela francesa Altice.

É que, lá fora, a empresa de que o emigrante Armando Pereira é accionista é conhecida por fazer uma “política de terra queimada: comprar empresas e renegociar os contratos com fornecedores, esmifrando-os o mais possível”, afirmou um responsável de uma das companhias fornecedoras.

A Novabase, que é uma das principais fornecedoras da PT e tem uma facturação anual da ordem dos seis milhões de euros, chegou a ponderar deixar de prestar serviços à operadora, de acordo com uma notícia publicada pelo “Expresso”.

Seis milhões de euros é menos do que a SIC, que tem em marcha um plano de despedimentos, poderá perder em receitas só à conta da Altice, já a partir de 2016. O contrato, que termina no final deste ano, prevê o pagamento à SIC de qualquer coisa como 30 milhões de euros pela PT, para esta oferecer nos seus pacotes MEO os canais de Carnaxide.

Não é só com a SIC, de Balsemão, que a empresa tem este tipo de contrato. A PT paga à TVI cerca de 6 milhões de euros pelo mesmo serviço – a diferença de 24 milhões de euros poderá dever-se ao maior número de canais disponibilizados pela SIC, entre outros factores.

Entre eles, o factor Balsemão. Numa análise do final de Junho, João Rendeiro escrevia que “é certo que o largamente superior ‘power ratio’ da SIC [aquilo que uma empresa de media ganha face à sua quota de mercado/audiências] merece uns 40% de prémio sobre a TVI, ou seja, um contrato de uns 8 a 10 milhões de euros por ano. Tudo o resto só poderá ser atribuído a um ‘prémio Balsemão’, ou seja, à sua capacidade de negociação pessoal.”

Carta à ERC Na semana passada, a SIC, a TVI e a RTP escreveram uma carta conjunta à Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), a solicitar a sua intervenção. Motivo: a MEO quer deixar de pagar para emitir os canais generalistas no seu serviço. Só isto pode representar uma perda de 6 milhões de euros para as estações de televisão.
O presidente da ERC, Carlos Magno, confirmou ter recebido a carta, mas não teceu mais comentários. A Altice/MEO também não.

Por esta ou por outra razão – também não conseguimos uma explicação do lado da SIC –, a SIC avançou com um plano de despedimentos que fez notícia em quase todos os jornais. “A Impresa decidiu proceder a um ajustamento em algumas áreas do grupo, racionalizando algumas direcções. Este processo já foi concluído e, tal como é prática no grupo, a rescisão por mútuo acordo foi a escolhida”, escreveu o “Correio da Manhã”, citando fonte oficial do grupo. 
Martim Cabral, subdirector de informação, é um dos afectados, tal como António José Teixeira, que era director da SIC Notícias. Mas outros nomes mais ou menos conhecidos estão na calha. Ao todo serão 20 pessoas. E mais 40 em outros órgãos de comunicação do grupo, segundo noticiou o semanário “Sol”.

A Impresa, dona da SIC, teve custos com pessoal de 53,7 milhões de euros em 2014, distribuídos por 1119 trabalhadores, o que dá um salário médio de 3427 euros. Na RTP, a média salarial é de 3207 euros/mês e na Media Capital, dona da TVI, de 2898 euros.

Televisões pagam A Altice também recebe dinheiro das estações de televisão. A MEO tem contratos com diversos canais que abrangem várias áreas, como a da televisão digital terrestre – recebe 7 milhões da RTP e 3,5 milhões das privadas pelo transporte do sinal – ou das chamadas de tarifa única.

O negócio de televisão SIC tem um valor de mercado da ordem dos 470 milhões; a “Visão” e as outras revistas valerão perto de 30 milhões; e o “Expresso” cerca de 20 milhões. A estes valores deve ser subtraído um valor negativo da ordem dos 45 milhões, relacionado com custos da holding Impresa e com negócios marginais. E também o valor da dívida total líquida do grupo, cerca de 180 milhões de euros no final do ano passado.

No total, as receitas do grupo atingiram perto de 240 milhões em 2014, dos quais a SIC obteve 180 milhões, as revistas cerca de 36 milhões e o “Expresso” perto de 24 milhões.

Nesse ano, as receitas de publicidade da área de negócio publishing foram de 26 milhões, dos quais as revistas representaram 14,5 milhões e o “Expresso 9,5 milhões”.

Para compensar o negócio de publishing, o grupo tem feito uma forte aposta no digital. Os sites da Impresa têm perto de 3,5 milhões de visitas por mês e as receitas estão a crescer cerca de 20% ao ano, embora a base de partida seja baixa: 2 milhões de euros.

Tal como as empresas de media, também a Altice tem a sua estratégia e as estações de televisão não serão as únicas penalizadas.

Além de querer renegociar os contratos que envolvem investimentos publicitários – a OMG e a Partners são as principais agências da MEO – e acordos de distribuição de canais na plataforma MEO, a Altice deverá forçar mudanças em empresas do grupo PT que podem implicar a rescisão ou não renovação de contratos com trabalhadores, como já aconteceu antes.