Antes de mais fomos ao conversor de divisas para ver quando é um milhão de rublos. O resultado, em euros, não soa tão bem mas não deixa de ser uma soma considerável: 13 897€, conseguidos através do Boomstarter.ru, o site russo de crowdfunding. E continua a somar. E o que vai Vitaly Yegorov, um relações-públicas moscovita de 33 anos, fazer com o dinheiro que anda a angariar na net? Bom, vai pegar nele, construir um satélite, enviá-lo à Lua e fotografar as pegadas que os astronautas americanos deixaram por lá. Tudo para provar que o Homem (ou melhor, os americanos) aterraram mesmo na Lua.
Na Rússia, segundo um inquérito de 2011, 40% da população não acredita que Neil Armstrong e Buzz Aldrin tenham de facto saído da Apollo 11 e posto o pé em solo lunar. Não é o caso de Vitaly Yegorov. “Duvidar disso é duvidar da própria competência dos especialistas russos do sector aeroespacial. Era completamente impossível enganá-los”, disse ao “The Moscow Times”.
Yegorov trabalha para uma empresa aerospacial privada, a Dauria Aerospace, e foi há dois anos que pensou pela primeira vez em arranjar financiamento para construir um satélite para ir à Lua. Falhou. Este ano voltou à carga e depois de conversar com engenheiros da sua empresa e de perceber que a sua ideia não era impossível, deu início à campanha de crowdfunding. “Era estranho um tipo que escreve sobre o espaço [num blogue] e que nunca aparafusou nada andasse a sugerir uma coisa destas.” Mas agora, conta, foi falar com os engenheiros da sua empresa e atirou-lhes com um: “Hey, vamos voar até à Lua.” E, de volta, recebeu um “porque não?”. O projecto estava lançado.
Como bom relações-públicas que é, Yegorov está a usar um mito urbano, que apaixona muitos russos, para angariar fundos – fundos que o próprio nunca pensou que ultrapassassem os 800 mil rublos (pouco mais de 11 mil euros). Mas na verdade, o russo pretende conseguir muito mais do que imagens em alta definição do que resta das missões Apollo na superfície lunar.
O que ele realmente quer
A ideia de Yegorov pode dar um safanão nos projectos espaciais russos que não têm primado pela novidade. E se conseguir o financiamento, ou parte dele, Yegorov será o responsável por colocar um satélite financiado por fundos privados na órbita lunar. Inicialmente, esperava que o Luna-25, da agência espacial russa, pudesse levar o seu satélite à boleia quando fosse lançado em 2019. Mas a ideia de levar carga adicional na missão já foi posta de parte e a Yegorov, se quer mesmo pôr um satélite a orbitar a lua, terá de se desenrascar de outra maneira. “Desde o princípio que nos estamos a preparar para ser capazes de chegar à órbita lunar. Mas se alguém nos der uma boleia até lá, certamente não iremos protestar.”
Feitas as contas ao tempo e ao dinheiro necessário, Yegorov pensa que terá o satélite pronto para o lançamento em 2020. E quando tiver as pegadas de Armstrong na mira da objectiva, o russo sabe bem para onde quer apontar a seguir: “A ciência está interessada em explorar os pólos da Lua, onde foram descobertas reservas de água. Para examinar essas áreas, vão ser precisas boas fotos e um mapa.”
Então é por isto que Yegorov que ir à Lua? Talvez não… “A minha verdadeira razão para fazer isto tudo: se houver um milagre e esta missão for bem-sucedida, esperamos criar uma versão russa do Jet Propulsion Laboratory, uma entidade privada que se especialize na exploração do espaço profundo.”