Um governo para quatro anos


Os portugueses falaram claro aos partidos do arco da Europa e do euro. Confiam na coligação PSD/CDS para governar mais quatro anos num quadro de maioria simples.


© Mario Cruz/Lusa

A campanha acabou. O povo votou. É tempo de trabalhar. Há uma retoma para cuidar, empregos para criar e um país para governar durante quatro anos. Com estabilidade, com previsibilidade e com confiança. Sem oportunismos ou dramatismos. Sem reservas ideológicas ou relíquias partidárias.

Os portugueses falaram claro aos partidos do arco da Europa e do euro. Confiam na coligação PSD/CDS para governar mais quatro anos num quadro de maioria simples, o que é novo. Mas dentro desse quadro, os portugueses não querem um PS descomprometido com a Europa e o euro. Querem um PS vinculado à estabilidade. Querem o PS envolvido nas reformas inadiáveis que o parlamento terá de votar. Querem, resumindo, um PS à altura da sua tradição parlamentar e das suas responsabilidades democráticas.

“Entendam-se!”, disse o povo. Os grandes partidos pluralistas ouviram-no. A questão que se coloca é se este cenário é possível. Entenda-se o seguinte: a “estabilidade” como pré--condição não é do domínio da possibilidade, é do campo da necessidade. 

Portugal precisa de, e vai ter, um governo para quatro anos. Portugal precisa, e vai precisar durante muito tempo, de uma estabilidade parlamentar alargada que não prejudique a recuperação económica, a consolidação das finanças públicas e a criação de emprego.

Os portugueses precisam, e vão ter, como sempre tiveram, do sentido de responsabilidade que exigiram aos grandes partidos inscritos nas duas grandes famílias políticas europeias (PPE e PSE). Isto vai acontecer por quatro razões.

Primeiro: foi esse o mandato que os portugueses deixaram claro. Os eleitores querem um país normal. Só mesmo na cabeça da extrema-esquerda radical, monista e pós–totalitária é que uma minoria de 20% dos votos dá lugar a uma maioria esmagadora e vitoriosa – que, aliás, já está a legitimar teses de assalto ao poder. Lembro a quem esqueceu que isso acabou.

A tirania da vontade das esquerdas minoritárias jaz no 25 de Novembro de 1975 e não ressuscitou 40 anos depois.

Segundo: acredito numa maioria parlamentar alargada por uma questão de fronteira. Por todo o mundo livre, as exigências da governação na globalização erodiram a clivagem esquerda/direita. “Esquerda” e “direita” podem funcionar como rótulos individuais. Mas como bússolas de governo perderam a validade. São trincheiras inúteis, redutos a partir dos quais as forças extremistas de pólos opostos continuam a combater fantasmas e a projectar modelos caducos de sociedade. No nosso país, é o posicionamento quanto à noção de democracia, de Europa, do euro e da NATO que traça a fronteira entre partidos. PSD, CDS e PS estão do mesmo lado. Do lado certo da história.

Terceiro: uma solução de estabilidade parlamentar para quatro anos é compatível com a matriz dos grandes partidos. E não é uma novidade. António Guterres liderou um governo minoritário durante quatro anos, com António Costa na pasta dos Assuntos Parlamentares a funcionar como pivô entre executivo e oposição. Todos sabem como se faz. E sabem, pelo exemplo de Cavaco Silva em 1987, qual é o custo do obstrucionismo: quem derruba governos minoritários faz o seu upgrade para executivos da mesma maioria, só que absoluta e duradoura.

Quarto: uma solução de governo estável está ao alcance porque há abertura e o bom senso de António Costa e de grandes figuras do PS. No calor da noite eleitoral, Costa colocou as suas linhas vermelhas em quatro pontos. Olho para os quatro e não creio que algum deles machuque os valores ou o programa de governo da coligação. Talvez os eleitores tenham unido aquilo que os líderes políticos teimaram em dividir.

Com um governo sólido, seguro e capaz de produzir resultados que os portugueses ambicionam, nos partidos do eixo euro-UE-NATO serão criadas as condições para que os próximos quatro anos sejam melhores do que os quatro que passaram. 

Escreve à quarta-feira