O povo vai a votos e o acto eleitoral é decisivo. E não é cá nem na Grécia. A 27 de Setembro realizam-se eleições autonómicas na Catalunha e, embora possa não parecer, têm muito a ver com o nosso futuro.
Já se sabe que os grandes movimentos políticos da história chegam a Portugal com alguns anos de atraso. Mas chegam. O que está em causa nas eleições catalãs é a independência da região, desagregando-se do reino e desagregando o Estado espanhol. Se ganhar a coligação e os partidos secessionistas, é unilateralmente decretada a independência e temos um problema na península. Se vencerem os partidos nacionais (de Madrid), a geografia não precisará de ser alterada e prevalece a estabilidade das fronteiras.
O Porto e o Norte nunca tiveram ilusões ou devaneios separatistas. Pelo menos que se levassem (e fossem levados) a sério. Porém, a crise e a falta de investimento público agravam o centralismo muito para lá do razoável e reabrem o tema da regionalização. Acrescem o fenómeno de identificação entre o Porto e Barcelona (a clássica luta contra a capital) e as semelhanças entre o Norte e a Catalunha (motores económicos e líderes nas exportações nacionais) – isto, claro, salvaguardando as diferenças de escala entre um e outro país.
O rastilho da eventual independência catalã, daqui a dez dias, tem suficiente matéria-prima política e social para provocar um terremoto em Espanha e um razoável abalo em Portugal. Não será no dia, no mês ou no ano seguinte. Mas a história vai acabar por chegar cá. Logo se verá quem a lidera e que forma pode assumir. Ou então o 27 de Setembro não eleva Barcelona a capital europeia e podemos todos continuar sossegados. Críticos, mas sossegados.
Escreve à quinta-feira