Banco CTT. Uma “noiva” que demorou mais de 10 anos a chegar ao altar

Banco CTT. Uma “noiva” que demorou mais de 10 anos a chegar ao altar


O banco dos Correios já foi constituído e deverá iniciar actividade no quarto trimestre deste ano


O Banco CTT já foi constituído com um capital social de 34 milhões de euros e deverá iniciar a sua actividade no quarto trimestre deste ano. Neste momento está dependente do registo especial junto do Banco de Portugal. Fonte da empresa garantiu ao i que está prevista a contratação externa de cerca de 100 pessoas “para dedicação exclusiva ao projecto, processo que já se iniciou, e que se juntam às equipas CTT envolvidas desde o início”.

A instituição financeira vai funcionar nos balcões dos Correios e promete assentar “numa oferta simples, próxima da população com produtos e serviços com condições atractivas”. “O Banco CTT irá aproveitar a alta densidade de lojas em todo o território nacional, bem como a experiência de décadas da empresa na prestação de serviços financeiros. O calendário e a abrangência da rede de balcões do banco não foram ainda divulgados”, salienta a mesma fonte, acrescentando ainda que “o Banco CTT dirige-se a um público que valoriza a simplicidade e a clareza dos produtos bancários, mantendo a relação de confiança e proximidade que sempre tiveram com os CTT”, diz.

Como o banco vai ser alavancado na rede de lojas dos Correios, a mesma fonte acredita que “vai ser possível ter uma cobertura mais densa do que as outras instituições. A oferta irá evoluir ao longo da existência do banco, permitindo um desenvolvimento prudente, suportado na experiência dos CTT em serviços financeiros”, salienta.

Para já, os Correios não adiantam como vão ser comercializados os actuais produtos financeiros  que são vendidos nos balcões dos Correios – é o casos dos Certificados de Aforro e do Poupança Mais – remetendo para o início da actividade bancária.

Francisco de Lacerda, presidente e CEO dos Correios, vai ser o presidente do Banco CTT, e Luís Pereira Coutinho, que já foi administrador do Millennium BCP, o presidente-executivo.

Impasses e recuos  A empresa liderada por Francisco de Lacerda garante que o projecto bancário está a ser desenvolvido de acordo com o plano estabelecido desde que a empresa foi privatizada, mas o que é certo é que foi preciso esperar mais de 10 anos para que a instituição financeira comece a ver a luz do dia.

O projecto Banco Postal começou por ser apresentando pelo antigo presidente da empresa Carlos Horta e Costa, em Fevereiro de 2002, que avançou com negociações com a Caixa Geral de Depósitos (CGD) e que pôs fim a esta parceria em Janeiro de 2013.

Mais tarde foi a vez do antigo administrador da empresa, Luís Nazaré, a “pegar” no projecto e prometendo entrar em força no mercado nacional em 2007 com 80 a 100 balcões.

Para trás ficou um processo do Banif,  na altura liderado por Horácio Roque, contra os Correios. As duas partes  acertaram em Janeiro de 2005 as condições para a criação de um banco postal, mas posteriormente a empresa, na altura liderada por Luís Nazaré, cancelou a sua concretização, para negociar mais um vez com a CGD. O banco estatal era visto como um parceiro incontornável, pois até Janeiro de 2008 tinha o direito de preferência sobre a criação de um banco daquela natureza. O que é certo é que, mais uma vez, as duas entidades não conseguiram chegar a bom porto. Em 2006, os CTT romperam a parceria com a CGD e o ex-presidente dos Correios revelou, na altura: “Constatámos que não havia química. Esta fase do noivado não provou”.

A partir daí, a empresa optou  por voltar à estaca zero, com o antigo presidente a garantir que  “somos uma noiva muito pretendida e o dote é nosso”, sublinhando que os CTT “querem ser o actor principal” de uma eventual parceria. “Talvez sejamos uma noiva muito exigente”, afirmou, sem querer abrir o jogo sobre as razões da ruptura.
 
Aposta A importância da criação de um banco postal voltou a ser referida pelo actual presidente dos Correios. A explicação é simples: a actividade financeira tem vindo a compensar a perda do tráfego postal e neste momento já pesa 10% dos rendimentos da empresa.

Francisco de Lacerda é o único administrador dos CTT que está a “cumprir” os prazos previstos para o arranque da operação. O responsável tinha anunciado, em Março deste ano, que a implementação do Banco Postal já estava em curso, os gastos estavam em linha com o plano de negócios – previa um investimento na ordem dos 30 milhões de euros só este ano – e que o desenvolvimento do sistema informático central já tinha começado, estando, na altura, a contratar pessoas para que o lançamento ocorresse no último trimestre deste ano.

 A empresa prevê que a unidade de retalho bancária apresente lucros ao fim do terceiro ano de actividade e que, em cinco anos, o investimento no projecto seja de 100 milhões de euros.