Aviso à navegação: acabo de ver, sem querer (e em Arouca, depois de comer um perna de pau num restaurante chamado “Assembleia”, à frente de um “Parlamento”), o filme “The Party” de Blake Edwards, com Peter Sellers. Uma das falas mais conhecidas é “In India we don’t think who we are, we know who we are!” em resposta à pergunta provocatória “who do you think you are?” O primeiro-ministro Gandhi acha piada a isto. Eu também.
Rio-me em silêncio – há quem durma aqui ao lado, ainda em silêncio (ou seja, sem zzzzz sonoros). Rio-me em silêncio e engasgo-me. Tusso em silêncio e cabuuuuum. Calma, é preciso calma senão rebento por dentro e não consigo ir às festas de São Bartolomeu. Saio de fininho. Antes dos zzzzz (em silêncio, claro), pesquiso sobre Sellers, o inimitável Pantera Cor-de-Rosa. E encontro esta entrevista deliciosa.
O que é que pensa da televisão? A televisão é um meio infantil que tenta fazer em oito anos o que nós [do cinema] fizemos em cinquenta.
O que acha da psicanálise? É perigoso: se descobrisse que as coisas tristes não eram realmente tristes, julgo que ninguém me acharia graça, porque a graça tem de ter alguma coisa de triste.
Que pensa dos jornais? São bons quando são honestos. Na página do editorial, começam com uma bela premissa: dar conta das suas opiniões. Mas depois percebemos que o que querem é vender e, subitamente, o homem não bateu na mulher, a mulher comeu o pé do homem e depois o cão morreu.
E os jornalistas? Esses tipos são autênticos chutzpah. Um chutzpah é um tipo que matou a mãe mais o pai e depois pede clemência ao tribunal por ser órfão.
O que é a comédia para si? Uma coisa muito séria.
O que pensa de Hollywood? É o que devia ser. É tudo o que era suposto ser. Porque se houvesse 5 mil Abe Lincoln a viver em Hollywood não existiria a maravilhosa Hollywood – seria Greensboro, Carolina do Norte. Mas era preciso ter uma data de impostores, uma data de paus-mandados, uma data de crápulas, para ter Hollywood. É esta crapulagem toda que faz com que as pessoas queiram vir para cá. Porque ninguém quer ir para a Gronelândia, onde Deus fez um belo trabalho – querem todos ir para onde há crapulagem.
O que pensa dos Óscares? São estatuetas muito bonitas.
Como é que se sente como realizador e actor? Adoro. Sou eu, não sou?
Qual é o lado da câmara que prefere? Depende do lado. Quando estou à frente dela, não há nada melhor. Quando estou do outro lado, o actor é um schumck.
O que pensa do dinheiro? O dinheiro é uma chatice. E posso provar-lhe isso se ficar comigo algum tempo.
Porque tem tantos carros? Não sei, é só uma data de carros. Gosto de ter uma data de tudo, porque isso prova que se está bem. Costumava ter dois carros. Então ouvi dizer que vários tipos tinham dois, tive de ter quatro. Quando descobri que havia outros tipos com quatro, tive de ter o que eles não tinham. Agora que tenho, eles andam a gozar os quatro e eu estou encravado com dez.
Se pudesse fazer tudo o que lhe apetecesse, o que é que faria? Fazia o mundo melhor. Gostava de o cobrir com álcool e desinfectá-lo, torná-lo mais belo. Não sei como se há-de fazer isso, é muito duro. Mas estou a fazer um bom trabalho no globozinho que tenho à minha volta. Tem mais alguma pergunta estúpida?
Help meeeeeee, quero ir às festas de São Bartolomeu e não consigo parar de rir em mute.
Editor de desporto
Escreve à sexta