© Jose Sena Goulao/Lusa
O Zé das Barbas de Ponte da Barca (Benfica), o homem da corneta (Porto), o Manuel do Laço (Boavista). Cada clube tem os seus adeptos carismáticos mas nenhum deles, nem sequer aquele senhor que teima em exibir o seu tronco nu no Restelo (Belenenses), chega aos calcanhares de Jorge Jesus.
É o homem mais falado em Portugal.Quer dizer, já o é pela trituração constante da Trident de morango durante os jogos, pelo ininterrupto sapateado de palavras nas conferências de imprensa e, vá, pela quantidade de títulos (dez em seis anos de Benfica).
Num Verão em que o Porto rouba Maxi Pereira e vai buscar Iker Casillas ao Real Madrid, de quem se fala mais? Jesus. Num Verão em que o Benfica não ganha um único jogo na pré-época, de quem se fala mais? Jesus. Isto vai ser bonito vai. Isto é o campeonato, que hoje começa. O mais mediático de sempre. Culpa de quem? Jesus. É o peso do jota elevado ao cubo mais 8 (de infinito). É a vitamina J, com implicação colaterais. A rivalidade com o Benfica cresce, tal como aquela com Julen Lopetegui.
Está decidido, será um campeonato de arromba. Porque Jesus tem a língua afiada e o descaramento de qualquer um.Como se fosse um adepto. É isso, Jesus é o adepto mais fanático do Sporting. Veste a camisola e cá vai disto. Sem medos nem recuos.E com alguns calduços à mistura. Estará alguma vez ao nível de outro jota, Jack Nicholson.
Ele é dos Lakers desde 1956, raramente perde um jogo no Staples Center e até baixa as calças a um árbitro, num dos gestos mais irreverentes na NBA. Antes de entrar em cada filme, que ele escolhe a dedo “como se fosse o capitão de equipa a eleger os companheiros ainda nos tempos da escola”, justifica o próprio, Jack troca faxes, mensagens e telefonemas com directores, realizadores e produtores para ver o melhor horário de filmagem, a fim de não falhar um único minuto de jogo dos Lakers.
Quase pode, o actor – cujo sonho é arrecadar mais Óscares que Walt Disney (neste momento, um desequilibrado 2-22) – desloca-se a Boston, onde os Celtics rivalizam com os Lakers desde os anos 50 – há nove finais da NBA entre eles. E é no Garden, pavilhão dos Celtics, que Nicholson incendia (ainda mais) a rivalidade. Em 1985, os Lakers perdem em Boston e Jack não gosta do árbitro. Protesta, claro. O juiz tenta meter água na fervura.
— Ei, ei, calma, você está nervoso. É melhor sentar-se.
— Paguei muito dinheiro [365 euros] por este lugar e isto é NBA. Você não me manda sentar. Sente-se você aqui e eu vou para aí, que consigo ser menos parcial que você.
— Cale-se!
[Como resposta, o actor mostra-lhe o rabo]
A partir daqui, é uma confusão entre Celtics e Lakers, porque Nicholson (que recebe 1000 cartas por mês para o golfista escocês Jack Nicklaus) é insultado o jogo todo, verbal e gestualmente. E até há três tipos de T-shirts anti-Jack, distribuídas antes de cada clássico no Garden: “Mandem o Jack para casa triste”, “Faz-te à estrada, Jack” (alusão ao “Hit the Road Jack” de Ray Charles) e “Jack engasga-te na tua Coca-Cola”. Não, Jesus ainda está longe deste ponto. Para lá caminha, em linha recta. Sem medos nem recuos.
Editor de desporto
Escreve à sexta e ao sábado